12 de outubro de 2009

Sobre Tudo e Coisa Nenhuma....

Chegámos a um ponto em que tudo nos é possível.
Sem nos darmos conta disso, fomo-nos tornando cada vez menos exigentes e cada vez mais permissivos.
Não basta acharmos que "alguma coisa deve ser feita". É fundamental que o façamos.
Vem este comentário a propósito da (recorrente) Avaliação de Desempenho dos Docentes (ADD).
Já muito foi dito e escrito, mas continuamos a ter a possibilidade de acrescentar mais uns pozinhos...
Hoje, a novidade foi a de que "neste contexto, não há professores excelentes!"
Desculpem-me discordar.
Infelizmente, como já tive, por mais de uma vez, a oportunidade de aqui referir, a principal (na minha modesta opinião) causa de mal-estar no grupo docente (e reparem que não lhe chamo classe, porque, por definição, teria de ser uma mole - humana - com o mesmo sentido) sobre este modelo de Avaliação proposto é o facto de partir do princípio que todos os docentes são maus e, por isso, deverão melhorar.
Claro está que, nesta base empírica, teríamos de falar da economia de escala, da curva de Gauss, da necessidade imperiosa de adequar recursos a objectivos e a resultados...
Não é, contudo, sobre estes pressupostos que agora me apetece reflectir.
Defendo que, sobre este (errado) modelo de Avaliação, bastar-nos-ia "pô-lo a funcionar" para ele cair. Ou seja, se todos nós, docentes, tivessemos requerido a "Avaliação Científica e Pedagógica", em menos de dias, todo o sistema ruiria. Além de que mostraríamos a todos aqueles que acham que não queremos ser avaliados que não é bem essa a nossa razão.
Dou-vos um exemplo: requeri a dita avaliação científica e a colega Avaliadora era docente titular de um grupo de lugar único. Nos dias em que esteve a observar-me, o seu grupo foi assegurado (para que funcionasse) pela colega do Conselho Executivo que para o efeito se deslocou...
A conveniência da coisa é que só três (em 21) docentes do Departamento solicitaram a tal avaliação, senão, quantas escolas teriam de fechar?
Serve esta interrogação para explicitar a forma mais adequada de fazer cair o modelo de avaliação: é incomportável!
Mas só fazendo-o funcionar é possível objectivar o efeito negativo e pernicioso que lhe está adjacente.
Porque temos nós medo de arriscar?
Mas gostava ainda de reflectir um outro aspecto. Tenho ouvido (e acaba por ser muito geral) que, na maior parte dos CEs (ou Directores, agora) o nível "Excelente" não tem sido muito "atribuído". Dizem-me, na maior parte das vezes que se deve ao facto de que "nenhum de nós é excelente!".
Ora aqui está uma vez mais, a nossa forma de pactuarmos com o sistema que nasceu torto.
Por definição, "Excelência" representa um estado abstracto de superioridade ou o estado de ser Bom no mais alto grau.
Ora, neste caso concreto (o da ADD), o nível "Excelente" corresponde a um espaço da graduação de avaliação (entre 9,1 e 10), logo, não corresponde a essa definição abstracta de Excelência.
Tivessem chamado a esse intervalo gradual "Muitíssimo Bom" ou "Óptimo" e se calhar não haveria pruridos, mas, talvez a escolha de palavra (e conceito) fosse propositada. Se calhar era intenção criar este "efeito nuvem" para que o prurido pedagógico-administrativo funcionasse em desfavor dos docentes...
Não havendo "Excelência" cumprir-se-ia a estratégia de "afinar por baixo" (com as tais implicações que isso teria ao nível da Carreira, da Curva de Gauss, etc., etc.), e, logo, de justificar a afirmação de que os docentes "são maus e precisam melhorar"...
Cabe-nos mostrar o contrário: que todos os docentes são excelentes, mas podem ainda ser melhores!
Mas como disse no princípio: chegámos a um ponto em que parece que tudo "não nos interessa", e, usando uma imagem proverbial: que nos comam, então, as papas na cabeça!
E, dito isto, acrescento que, tal como atribuo nota 5 (ou 20) aos meus alunos, se eles o merecerem e trabalharem para isso, também o Excelente para os docentes não me preocupa!

1 comentário:

voo do tapete disse...

E, além do mais, "excelente" é uma conotação "gostosa", "bem-disposta", ligada às "coisas boas". Por que será que quando dizemos "excelente", na nossa cabeça estamos a dizer "perfeito"?

Perante um bom cozido à portuguesa, ninguém tem qualquer tipo de prurido em exclamar: "Está excelente!" - e isso não quer dizer que da próxima vez o/a cozinheiro/a em causa não possa ainda superar-se! Mas lá que quem comeu o dito cujo prato dessa vez achou que estava excelente, ai isso foi mesmo o que aconteceu... sem tirar nem pôr!

Parece que continuamos ciosamente guardiões das coisas boas, que nunca se podem compartilhar, nem atribuir às pessoas e às situações reais... porque será? Questão de expectativas? Se assim for, que pena serem tão baixas...