9 de dezembro de 2012

Do Fim. Ou dos Fins..

"As coisas não começam do princípio como se cuida, senão do fim. O fim porque as empreendemos, começamos e prosseguimos, esse é o seu primeiro princípio, por isso ainda que sejam indiferentes, o fim, segundo é bom ou mau, as faz boas ou más."
Padre António Vieira

Por fim, o Fim.
O anunciado.
O esperado.
O nunca imaginado mas tantas vezes esperado.
O fim do Mundo?
O fim de tudo?
O Fim. Simplesmente o Fim.
Mas o fim é sempre o princípio. O Fim é o que nos mantém seguros e ansiosos.
O Fim delicia-nos, envolve-nos, comove-nos.
O Fim nunca é fácil. Mas é o fim! 
Mas é também o início. O reinício. A manutenção, continuada e alterada. A justificação de um novo caminho. Que pode ser o mesmo...
Tantos fins foram anunciados, tantos mais foram vividos. Muitos ainda serão sentidos.
Todos eles são (ou foram!) necessários. Mas todos eles nos destabilizaram. Todos eles nos mudaram. Todos eles nos renovaram.
Eu não quero mudar-me. Não quero renovar-me. Não quero abandonar-me na ideia de que o reinício é diferente do caminho que caminhei.
Acredito, sinceramente, que os fins apenas se justificam se os caminhos que percorremos não nos servem. Não nos enchem. Não nos são dignos.
Não tenho, da minha vida, essa ideia.
De nada me arrependo. Nada devo. Refleti, constante e conscientemente, nas minhas escolhas.
Acreditei na bondade das minhas opções.
Mudei quando tive de mudar.
Mas não mudei sozinho.
Por fim, o Fim.
Que seja então um novo caminho para o próximo...

17 de novembro de 2012

Medos...

Hoje, temos Medo de tudo.
Temos medo do "que foi". Do que "aí vem". Do que "se calhar"...
Temos medo porque nos habituámos a ter medo. Porque nos habituaram a ser temerosos.
Temos medo de não ser bons pais. De não sermos bons filhos.
De incomodar. De sermos incomodados.
Temos medo da polícia. E dos ladrões. Temos medo das certezas e das incertezas. Das perguntas. Das respostas.
Temos medo de ter medo. Ou de sermos corajosos.
Temos medo de ser mal interpretados. Temos medo de interpretar mal...
Vivemos num ambiente de medo. De desconfiança. De descrédito.
De nós e dos outros.
Se nos pisam, calamos a nossa dor. Se pisamos, desfazemo-nos em desculpas.
Temos medo que não gostem de nós. Temos medo de sermos amados.
Por isso, não amamos.
Não confiamos.
Não gostamos.
Mas nós somos "o outro".
Pensemos o "outro" como nos pensamos a nós.
Mas pensemos. Porque o que nos falta é isso mesmo: reflexão.
Falta-nos aferir, avaliar, compreender. Falta-nos conhecer. Falta-nos disponibilidade.
Falta-nos aceitar um abraço por ser um abraço e não porque significa uma recompensa. Ou um pagamento.
Falta-nos abraçar porque precisamos. Falta-nos beijar para podermos ser beijados.
Ter medo é morrer a cada dia.
Amo-vos!


14 de outubro de 2012

A "Rua"

Temo que a "Rua" (aquela para onde as pessoas se dirigem, convencidas de que, assim, se farão ver e ouvir), não nos chega. Nunca nos chegou.
No passado dia 15 de setembro, lá estive. Na "Rua". Onde me senti bem e "fazendo parte".
Mas a "Rua", essa ideia de esperança e de revolta, não se traduz num espaço orientado, planeado, direcionado.
Essa "Rua" de que nos falam os comentadores, é, tão só, uma espécie de desafogo das nossas ânsias, dos nossos temores, das nossas incertezas.
Mudar implica "fazer o trabalho de casa". E, de preferência, em casa.
Mudar implica uma atitude refletida e séria de vontade de mudança.
E, ir "para a Rua" deve (tem de!) ser apenas o culminar de um processo muito individual de ação e reflexão.
Cada um de nós, em casa, deve questionar-se sobre o seu papel na mudança. Como é que eu quero educar os meus filhos? Como é que eu posso viver dentro das minhas possibilidades? Que trabalho é que eu quero desenvolver? De que forma é que as minhas escolhas individuais podem ser "motores de mudança"?
Estas (e muitas outras) são perguntas para as quais as respostas têm de ser encontradas. E, se necessário for, podem ser encontradas na "Rua", em comunhão com as respostas a todas as outras perguntas.
Mas, "ir para a Rua", sem respostas prévias, retira-nos o poder de mudança. Na realidade, a "Rua", esta "Rua" que, ultimamente nos tem entrado pela casa dentro (seja da Grécia, da Espanha ou mesmo de Portugal) não é a "resposta".
Mostra-nos alguma vontade, mostra-nos alguma disponibilidade, mas não nos mostra o essencial, o fundamental: para onde queremos nós ir?
Portugal (e os portugueses) tem-se caracterizado, desde o assomar da Casa de Bragança, como um país com pouca ou nenhuma capacidade de Planeamento a médio/longo prazo. Neste intervalo, só o Marquês (e de certa forma, "fugindo" à máxima enraizada na altura) conseguiu, num determinado contexto, "deixar condições para o futuro". Tudo o resto foi uma espécie de navegação à vista.
O nosso dia-a-dia mostra-nos que, individualmente, somos "bons trabalhadores", "obedientes", capazes", "determinados". Mas, infelizmente, esses que somos nós, são também aqueles que se mostram incapazes de manter a sua dignidade no seu local de trabalho. Que se revelam ignorantes e desconhecedores o q.b. para aceitarem, sem questionar, o modelo superiormente imposto.
As frases repisadas "sempre foi assim", "para quê mudar?" são, de certa forma, a evidência do que escrevo.
Mas é muito maior evidência o comportamento esguio e fugidio que cada português, no seu local de trabalho, na sua vida diária, assume, por forma a "não se chatear".
Não se quiseram "chatear" com a educação (presente) dos seus filhos. Não se quiseram "chatear" com as escolha dos seus representantes. Não se quiseram "chatear" com a sua participação ativa e cívica no seu futuro. Não se quiseram "chatear" com as opções que lhes foram limitadas...
Agora, não podemos estar à espera que a "Rua" chateie quem quer que seja.
Porque, na realidade, quem se deveria "chatear" com a "Rua", nem sequer se incomoda com os números, com os cartazes ou com os gritos...
Na realidade, "eles" sabem que não passa disso mesmo: de uma birra de fome, inconsequente e capaz de ser aplacada daqui a uns meses, em novos atos eleitorais, com a inauguração de uns quantos serviçoes de saúde, estradas e escolas...
Na realidade, sempre fomos assim. E continuaremos a sê-lo.

30 de setembro de 2012

A Força da Democracia... Ou o outro lado da manipulação.

Em todos os tempos e em todos os momentos, a manipulação social, a conspiração (consciente ou não!) e um "autoritarismo" disfarçado foram (e continuarão a ser) uma espécie de desígnio dos povos ditos desenvolvidos.
Em A Psicologia das Massas (1895), Gustave Le Bon teorizou que, numa multidão, a personalidade do indivíduo é dominada pelo comportamento coletivo. Assim, as suas formulações vieram a ser incluídas entre as "teorias do contágio", que descrevem o comportamento da multidão como uma resposta irracional e cega à situação psicológica criada pela circunstância da multidão.
Sabendo isto, há sempre quem instrumentalize uma ideia, um objetivo, uma direção.
Que fique claro, desde já, que me sinto orgulhoso e envolvido no(s) movimentos(s) sociais que, lentamente, começam a despertar as pessoas, os cidadãos, de uma letargia que os manteve envoltos numa cortina viscosa e impeditiva, criada e mantida por uns poucos.
Que fique claro que, no meu esforço diário e individual, não só me manterei fiel a este espaço de contestação individual, como manterei o meu espaço irredutível de individualidade e, acima de tudo, de comportamento contra corrente e desalinhado. Sempre o fiz e continuarei a fazê-lo.
Não sou um anarca e confio plenamente numa sociedade democrática e plural, onde todos podem e devem ter opinião.
Mas sinto como fundamental duas premissas: que cada um de nós reflita sobre as suas próprias opiniões e, acima de tudo, que respeite a opinião dos outros.
Se algum dia conseguirmos entender, enquanto cidadãos, que o problema não é o "vizinho" ter um BMW, talvez possamos chegar lá.
A nossa participação social não pode ser ditada pelo mais puro dos sentimentos humanos: a Inveja.
Todos nós invejamos. Apenas temos de ter consciência disso. E pautar o nosso comportamento pelo conhecimento dessa realidade.
O que nos deve guiar é o respeito pelos outros. Pela diferença e individualidade dos outros
Isto a propósito de começar a observar, como costuma ser um hábito nas sociedades em mudança, que surgem agora inúmeros movimentos, intenções coletivas, propostas políticas...
A "desunião" evidenciada nestes pretensamente democráticos movimentos faz-me questionar (e, de certa forma, construir certezas!) que este é o princípio do fim da mudança.
Nestes tempos de mudança efetiva, a primeira que devemos fazer é compreender que a consciência coletiva não é nem a soma das individualidades, nem a representação de uma (a maior, a mais "votada", a com mais defensores...) ideia bem embrulhada e vendida.
Émile Durkheim clarificou que "para que exista o fato social é preciso que pelo menos vários indivíduos tenham misturado sua ações e que dessa combinação tenha surgido um produto novo". Este "produto" novo, formado por formas coletivas de agir e pensar, manifesta-se como uma realidade externa às pessoas. Tem vida própria, não depende de um indivíduo ou outro.
Durkheim referiu também que um "fenómeno só pode ser coletivo se for comum a todos os membros da sociedade ou, pelo menos, à maior parte deles, portanto, se for geral. Mas, se ele é geral, é porque é coletivo (isto é, mais ou menos obrigatório), o que é bem diferente de ser coletivo por ser geral." (As regras do método sociológico, 1998. Editorial Presença).
Por tudo isto, até que ponto não estaremos nós, neste momento, a ser "manipulados" numa pretensa ideia de "saída" para a crise em que nos encontramos?
Duas questões?
- Que Crise, efetivamente é esta? Um crise de valores, de comportamentos e modelos ético-morais, de substância humana, ou apenas financeira?
- Que modelo de desenvolvimento e respostas individuais devem ser as que daremos para "sair" da crise? Teremos nós feito já a construção de um modelo social que nos defenda e nos faça envolver-nos na construção do espaço comum e coletivo da sociedade?
Porque acho que ainda não nos demos "ao trabalho" de tentar, individualmente, responder a estas questões, continuo a sentir que continuaremos a ser manipulados e "orientados" por um punhado de gente que, nem sempre, mantém as "boas intenções" com que começa as caminhadas...
Até o Jesus morreu antes disso...

9 de setembro de 2012

Lutar????!!! Porquê agora?

Pedem-me agora, por insistentes mensagens, publicações e comentários nas diversas redes sociais, que me "junte à luta".
A maior parte destes pedidos (ou, pelo menos, a maior intensidade) chegaram-me depois daquele senhor que é representante de um conjunto de instituições financeiras ter falado aos "portugueses", na passada sexta-feira.
Ao longo de todos os anos em que me conheço, tenho apelado ao "colega" que não leve o lápis do trabalho para casa, tenho sugerido ao "amigo" que não estacione o veículo em cima do passeio, obstruindo a passagem de todas as outras pessoas (independentemente das suas capacidades motoras), tenho solicitado ao "parceiro" que assuma uma atitude colaborativa, mais do que interesseira, tenho promovido, na minha atividade profissional direta (com as crianças) um modelo de desenvolvimento baseado na conciliação de diferenças. Mas tenho também, ao longo deste tempo experimentado uma constante crítica e obstrução por parte daqueles que deveriam ser mais próximos. O "não vale a pena", o "estás a armar-te!, o "és parvo e devias era calar-te", ou o "deves ter a mania que vais mudar alguma coisa" foram as "respostas" mais comuns que obtive quando apelei ao envolvimento, à reflexão, à tomada de posição.
Se instiguei a reflexão de não concordar com medidas inusitadas e completamente despropositadas por parte dos gestores "superiores", tive como resposta o "exílio". Se procurei fomentar o debate e a participação, tive como respostas o desinteresse. Se tentei construir comunhão e parceria de interesses, tive como resultado a exclusão.
Por tudo isto, os meus 40 anos mostram-me que esta "fase de luta" que agora se pede é absolutamente extemporânea e pouco sucesso terá.
A "luta", a ser travada e vencida, implicaria que a cultura de participação, colaboração e cooperação dos portugueses fosse outra. Que fosse a da solidariedade coletiva, guiada por um objetivo comum e que, acima de tudo, cada um de nós pudesse compreender que a a força da estrutura é aferida pela fraqueza do seu elemento mais fraco.
Seria necessário que todos nós soubéssemos que perder individualmente poderia significar um ganho coletivo.
Mas para essa "mudança" teríamos de nos qualificar (educar, formar, instruir...) como uma nação, com interesses e vontades comuns, e guiados por modelos de desenvolvimento coletivo e social e não de riqueza material individual...
Nunca percebi porquê juntar à nossa volta uma miríade de "coisas" que nunca nos farão ser.
Ter não é Ser, e enquanto vivermos enganado neste particular, viveremos infelizes e seremos manobráveis, influenciáveis e ingovernáveis...
A questão não é a "crise" financeira ou económica. A questão é Ética, de Moral e de Valores.
E não temos feito nada por a resolver.
Nada mesmo.
Por isso, ao pedir-me para "lutar", só posso sentir que lutarei como até aqui: acreditando que é nos meus atos e atitudes individuais, na profissão que escolhi, que continuarei a bater-me por ser livre, por acreditar que a reflexão, a participação e o envolvimento faz de nós pessoas melhores e, consequentemente, uma Nação melhor!
É nisto que sempre acreditei e continuarei a acreditar, mesmo que isso me continue a custar a exclusão, o descrédito e a oposição de muitos daqueles que, durante muito tempo, viveram à sombra do "sistema" que criaram e que os protegeu.

2 de setembro de 2012

Que expetativas...

Pediram-me, do Jornal de Letras, um texto que explicasse as minhas expetativas para o ano letivo que agora se inicia...
Respondi assim:

Já tenho alguns anos de expetativas sempre que um ano letivo começa. E, invariavelmente, quando me dedico a fazer a avaliação final e retrospetiva, acabo a concluir que nunca correspondem ao que, no final, constato.
Talvez porque as expetativas são, normalmente, altas ou porque a Educação, em Portugal não é uma ciência exata, ano após ano vou compreendendo que é sempre melhor “esperar para ver”.
Não obstante, e tendo em conta alguns dos “anúncios” (uns formais, outros oficiosos) divulgados pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), acredito que algumas “coisas” acontecerão ao longo deste ano letivo que agora se inicia.
Em primeiro lugar, sinto que nunca como agora se olhou para a Educação como um espaço de intervenção social, económica e cultural. E esse sentimento torna-se mais evidente pela análise das condições económicas associadas ao processo educativo do país do que pela assunção da importância do espaço educativo como motor de desenvolvimento.
Parece-me que a Educação não será um “investimento de valor seguro”. Pelo menos na educação pré-escolar e no primeiro ciclo do ensino básico: o aumento do número de alunos por turma, os condicionalismos impostos ao número de turmas (esquecendo, por vezes, as características locais e culturais), a reorganização de conteúdos curriculares e a “autonomia” de decisão parecem-me fatores a ter em conta numa análise de expetativas.
A irresponsável forma de “redistribuição” de “funcionários públicos da educação” (vulgo professores), sem qualquer tipo de análise e avaliação de competências (de entre os que fazem já parte dos quadros do MEC), com objetivos puramente economicistas vem não só alterar as dinâmicas em curso em muitas escolas como, em alguns casos, penalizar boas práticas desenvolvidas por docentes recém chegados ao sistema, e por isso mais atualizados (e quiçá) melhor preparados para os desafios da Educação. Mais grave ainda porque faz “tábua rasa” de processos de avaliação (e não discuto a sua qualidade!) que envolveram todos os docentes nos últimos anos. A “dispensa” de professores sem qualquer correlação com os seus resultados educativos e pedagógicos, favorecendo, em alguns casos, o regresso às salas de aulas de docentes com falta de rotina e, sobretudo, conhecimento pedagógico atualizado, é assustador.
Daqui também se pode inferir uma outra expetativa negativa que tenho: os gestores escolares (vulgo Diretores), cerceados por uma pretensa autonomia que, na realidade não existe (seja por vontade própria, seja por via de um sistema burocrático e centralizado) e não tendo, por eles, competências reais de gestão económica, de recursos contabilísticos e humanos e de capacidade financeira, transformar-se-ão em esbirros do poder económico, esquecendo as suas qualidades docentes e de planeamento pedagógico.
Por tudo o que expus, o meu principal desejo para este ano é o de que o “investimento” na Educação seja muito mais reflexivo e de planeamento do que financeiro e económico. Antes de mais, é fundamental que a Escola olhe para as mudanças sociais em curso como um todo e que as saiba incorporar na sua dinâmica formativa. Não o fizemos com os desafios anteriores (demográficos, tecnológicos, conhecimento…) e estamos a caminhar para que assim continue. Mas, apesar das “boas intenções” demonstradas, não me parece que possamos presumir que o ano letivo seja pródigo em análise, reflexão e planeamento educativo…
No fundo, a “novidade” que mais prazer me daria receber é a de que os docentes aproveitariam estas contrariedades designadas de “crise” para reconstruir um modelo educativo de longo prazo para o país. Essa seria mesmo a “única” novidade…

Para todos aqueles que agora iniciam mais um ano a acreditar que é possível,  Boa Sorte!

15 de junho de 2012

Avaliações...

Por muito que, de uma forma gratuita, afirmemos que "não precisamos de processos de avaliação, porque somos, diariamente, avaliados", essa afirmação é, toda ela, manipuladora e enganadora.
Podemos, de facto, estar certos e conscientes dos nossos métodos, dos nossos processos de trabalho, dos resultados que obtemos, mas, na realidade, sermos avaliados é muito mais do que isso: é compreendermos que o que fazemos tem sentido e significado num âmbito mais lato, mais global e holístico.
Não temos muitas vezes (nas escolas) oportunidade de que a observação de que possamos ser alvo, com critérios avaliativos, seja justa e efetiva. Também é verdade que, mesmo que justa e efetiva, pode ela própria (a observação) ser embuída de um qualquer interesse (nosso ou de quem observa) que a faz, desde logo, tornar-se inócua ou parcial.
No entanto, há dias em que temos a sorte de sermos brindados com momentos de observação/avaliação não programados e/ou esperados que, de forma incisiva e correta nos "devolvem" uma imagem mais próxima de uma realidade aferida e fundamentada pelos tais métodos, processos e resultados que "dominamos" e que selecionamos para imprimir, à nossa prática/vontade, um rumo adequado e objetivo.
E porque, apesar de se tratar de uma "avaliação" sem qualquer tipo de função quantitativa ou qualitativa e, principalmente por (por essas mesmas razões!) ser resultado de uma "visita" completamente inesperada e sem "objetivo" formal, sinto que o texto que recebi é digno (por "dizer" tantas mais coisas do que as "avaliações" formais" dizem) de ser publicado. Não para me "orgulhar" do seu conteúdo ou regojizar-me (para isso não precisava de o publicar!), mas porque sinto que este texto, além da sua clareza e significado, é um texto que não me importaria de ler num qualquer relatório de avaliação formal. Porque "diz" o que deve ser dito e, além de tudo, "compreende" a essência que deve ser compreendida,
Aqui vai (com as devidas omissões a nomes e situações concretas que podem identificar sujeitos específicos):

Quando estou no ambiente "escola", como ontem estive - e ainda por cima um ambiente que tu, passo a passo, sem desistir e com dedicação e empenho renovas a cada dia, é-me muito difícil imaginar-te cansado e com vontade de "pular fora", como me confessaste já por várias vezes.
Sim, eu sei que "escola" não é só o "ambiente de dentro", é também o contexto mais alargado onde os "pares" e a "hierarquia mais próxima do terreno" (as direções dos agrupamentos) deveriam querer estar sintonizados e capazes de verdadeiramente pensar para concretizar de maneira responsável, e por isso inovadora e interventiva, como a vossa equipa "aprendeu" a fazer, porque se pôs ao caminho...
Sim, eu sei que mesmo o "ambiente de dentro" é por vezes cansativo de "manter em alta", porque te sentes sempre o mesmo e muitas vezes muito sozinho a "puxar a carruagem"...
Mas quando te vejo numa manhã como a de ontem, completamente envolvido e encantado a observar as reações, os comportamentos, as descobertas dos meninos...
E quando te vejo, com a maior das naturalidades e das alegrias, "pegar" numa turma, para além da tua e do teu ciclo de ensino, porque a colega faltou, e logo ali desenvolveres estratégias e ambientes que puderam pôr todos a "funcionar sobre rodas"...
E quando te vejo na sintonia, na confiança, na cumplicidade que tens com o coordenador e na forma como os dois se comunicam e trabalham em conjunto para fazer da escola um lugar de excelência pedagógica...
E quando te vejo numa hora de almoço, servir, estar atento ao conforto de todos, participar nas conversas e contribuir para um convívio saudável e descontraído - mesmo que algumas daquelas pessoas até possam nem te dizer muito em termos de trabalho...
E quando observo a relação de cumplicidade e de confiança mútua que desenvolveste ao longo dos anos de trabalho com a tua auxiliar, dando-lhe espaços de intervenção que a estimulam a ser cada vez mais parceira, envolvida e capaz de assumir responsabilidades e de articular com a tua forma de trabalho...
Enfim, poderia continuar, mas acho que já entendeste como tenho tantas dúvidas em imaginar-te "fora da escola" não porque duvide que sejas capaz de fazer outras coisas - sabes que nunca me passou nem passa pela cabeça duvidar, sei que és naturalmente dotado para perseverar, lutar e vencer todos os desafios a que te propões ou que te vão aparecendo pelo caminho.
É completamente mágico ver-te numa manhã como a de ontem e sentir como és feliz e (quase) completo e como tudo o que fazes tem a ver com o bem-estar e a possibilidade de fazer crescer e desenvolver os que te cercam.
Nunca me canso de te dizer como a cada dia te respeito mais e mais e vejo o Educador que mora em ti.
Como eu gostava, um dia, de ser avaliado "formalmente" com um texto destes...

25 de maio de 2012

Das autonomias, das propostas, das mudanças...

Sou educador de infância numa escola pública em Mafra.
Por estes dias tem sido, de uma forma quase central, âmbito de conversa, de reflexão, de opinião, a "notícia" da proposta feita pelo Conselho Municipal de Educação (leia-se Câmara Municipal) à Direção Regional de Educação respetiva.
De uma forma geral, esta proposta versa a possibilidade de, ao arrepio da proposta legislativa central, se constituir um Agrupamento de escolas concelhio, que junte quatro agrupamentos e uma escola secundária, criando uma hiper estrutura que serviria cerca de nove mil alunos.
Com base na (reduzida) informação complementar, a "proposta" está, neste momento, nos respetivos agrupamentos (Conselhos Gerais) para discussão e deliberação.
Não conhecendo, em rigor, o texto da proposta (nem a filosofia/ideia adjacente a tal proposta), parece-me, contudo, pertinente refletir algumas questões que "estão" em cima da mesa e que, na minha modesta visão, a sua "oclusão" do centro do debate tem dificultado uma efetiva reflexão sobre tal desiderato.
Primeira questão: o Concelho de Mafra tem-se destacado, ao longo dos últimos anos (desde 1998) por um forte investimento na Educação: construção de novas escolas, com ótimas condições, complementadas por serviços de excelência - piscinas municipais, serviços culturais e sociais, apoio a famílias, etc. -;
Segunda questão: o Conselho de Mafra tem, desde há mais de vinte anos, uma gestão sólida em termos municipais, e tem apresentado resultados eleitorais invejáveis (nas últimas eleições o executivo eleito reuniu 76% dos votos (!) expressos, tendo conseguido, além da gestão camarária, a gestão de todas as freguesias do concelho). De notar que, neste ponto, não discrimino nem discuto a origem partidária do executivo, pois, apesar de não se situar no meu espetro político/ideológico, reconheço, até pela minha condição de profissional de educação, o elevado nível de qualidade do trabalho desenvolvido;
Terceira questão: O Concelho de Mafra tem apresentado, no domínio da Educação, um plano/projeto bem delineado e que tem envolvido os agentes e parceiros locais, que reconhecem, também eles, a dinâmica positiva das propostas;
Quarta questão: os agrupamentos de escolas e a escola secundária têm sido geridos com base em equipas de gestão que têm sido "escolhidas", maioritariamente pelos votos municipais (quer seja através dos representantes diretos, quer seja pelos parceiros, de alguma forma dependentes da iniciativa autárquica);
Quinta questão: as equipas de gestão escolar têm vindo (e isso é público e notório) a desenvolver uma gestão baseada no ato administrativo mais do que no ato pedagógico, mesmo quando não são (devem) ser essas as competências discriminatórias da escola;
Sexta questão: a gestão educativa, independentemente dos atores e agentes específicos, está assente num corpo legal e normativo que está, atualmente, em mudança (contratação e trabalho dos funcionários públicos, avaliação, gestão, construção, manutenção e responsabilidade de equipamentos, etc.), permitindo, por isso, antecipar mudanças que, de certa forma, serão "radicais" na forma como entendemos o processo educativo e pedagógico;
Sétima questão: a experiência administrativa e a construção e manutenção de equipamentos educativos é assegurada, no concelho, quer pela empresa municipal criada para o efeito, quer pelos serviços camarários competentes;
Oitava questão: a discriminação de competências (difícil e complicada) origina, em muitos casos, situações de resolução complexa e que, de todo, não servem os interesses das populações (como exemplo, a constituição de unidades de apoio específico e respostas educativas territorialmente concorrentes e desadequadas a um serviço público e democrático);
Nona questão: na minha condição de profissional de educação (há nove anos no concelho, exercendo funções em diversos agrupamentos) tenho constatado, em alguns casos, e em termos pedagógicos, administrativos e de "praxis", uma ineficaz e incompetente gestão pedagógica e educativa do "bem comum";
Décima questão: os "modelos" educativos (de gestão, administração, pedagógicos, curriculares, etc.) dependem de "pessoas" e não de instituições. O que significa que, a diferença efetiva está assente nas pessoas mais competentes e não tanto das organizações mais disponíveis. O que faz notar a necessidade de as organizações escolherem as pessoas mais eficazes para um determinado projeto/processo;
Décima primeira e última questão: países apontados como detendo boas práticas educativas (Suécia, Finlândia, Singapura, Canadá, Austália, etc.) possuem sistemas e modelos concelhios (regionais, em alguns casos) de gestão e administração escolar e educativa.
Posto isto, e em síntese, importa sublinhar o seguinte: os "problemas" da educação são, normalmente, criados pelas pessoas e pelas formas de fazer e não tanto pela Educação, per si. As questões e variáveis envolvidos na atual discussão (colocação e disponibilização de professores, financiamento da escola, organização de respostas específicas, etc.) deveriam fazer parte das propostas educativas e pedagógicas e não tanto da competência organizacional, ou, por outras palavras, o que me interessa realmente é saber que modelo e tipo de Escola as "pessoas" querem construir e não tanto "como" será ela construída.
Também não é de somenos importância refletir a importância de uma organização e gestão centralizada a dois níveis: centralidade da reflexão/execução pedagógica da escola pelos docentes (que poderá acontecer se as dinâmicas de gestão e administração de recursos "saírem" da escola) e conceção de um Projeto Educativo significativo e pertinente para a população que serve, com base numa participação ativa e regulada por processos democráticos e integrados no sistema (aceite como fundamental pelo Estado), como são as eleições (se tivermos em conta a forma como alguns Diretores foram escolhidos e o "trabalho" que têm apresentado, prefiro "votar" para escolher...).
Para concluir, será também importante e pertinente sermos capazes de: 1. nos envolvermos, ativamente, na discussão; 2. equacionarmos os prós e contras, sem ter por base preconceitos pessoais e partidários; 3. "esquecermos" a nossa situação pessoal e pensarmos os objetivos globais da Educação e 4. presumirmos que as mudanças podem ter efeitos positivos, se contribuirmos para isso.
Neste (longo) texto, foi minha intenção tentar cingir-me a fatos, esquecendo (propositadamente) as minhas considerações pessoais sobre o tema. Sei que, ao ser lido, não será, provavelmente, essa a ideia que ficará no leitor, mas seis que, de alguma forma, contribuirei para alargar o espaço de debate e reflexão.
Sejamos capazes de a fazer.

28 de abril de 2012

Facilitismo!

"Do not handicap your children by making their lives easy"  
Robret A. Heinlen

É o que fazemos diariamente quando não permitimos que o "outro" se possa responsabilizar pelo seu percurso. Passamos demasiado tempo a "tentar" fazer pelos "outros", e, pior que tudo, fazemo-lo desde que nascem (e nascemos!).
Li hoje a frase em epígrafe e pela memória passou-me, em retrospetiva, muitos dos espaços e tempos de educação que tive (a sorte de ter!). Talvez por ter mais irmãos, talvez por ter de "lutar" arduamente para me impor, talvez até porque as "facilidades sociais", num determinado período da minha vida, não estavam disponíveis, acabei por receber um conjunto de instrumentos que, hoje, se tornam fundamentais. Mas, mais importante, é que transportei esse "modelo" para a minha prática profissional.
E nunca facilito!
Não facilito porque aprendi que as facilidades nos tornam menos capazes, menos atentos, menos convergentes com os objetivos de qualidade. Não facilito porque, "deixar andar", em todas as modalidades e dinâmicas da nossa vida, torna-nos menos exigentes, menos orientados para o sucesso e para a excelência. E, acima de tudo, torna-nos fracos. Portugal é o reflexo evidente da sua "formação" facilitista.
Os gestores, os docentes, o "Estado social" protetor, os pais, as mães habituaram-se a proteger. A impedir que "as crianças caiam" e, assim, definiram o rumo. Mas, neste meu espaço de reflexão, não quero "mostrar" o evidente.
Quero, antes, apontar algumas atitudes menos evidentes da nossa "forma de fazer". Quando fazemos pelo outro (na escola é tão frequente os docentes "brilharem" nas produções plásticas dos seus alunos - que "estiveram" ocupados a fazer uma qualquer ficha de leitura), tendemos a fazer o que nos é importante. Ao fazê-lo (substituir e "pensar" pelo outro) acabamos por desvalorizar a competência própria de quem substituímos. E baixamos a sua auto-estima. Mas, pior ainda (e isso é observável quando conseguimos deslocar-nos e "ver" a situação numa perspetiva holística), é que o fazemos sem termos uma exata noção de que o estamos a fazer.
Há uns anos tive um aluno que tropeçava ou caia a cada cinco passos que dava. Como é normal, preocupou-me a constatação. E, só consegui entender o porquê quando me apercebi que a mãe, todos os dias, o levava da escola ao carro (no parque de estacionamento, a 50 metros) ao colo (e, pelo que percebi, do carro para casa, e para todo o lado). O aluno tinha 5 anos e, quando confrontada, a senhora explicou-me que o levava ao colo porque, com a "vida atribulada que tinha diariamente, eram os únicos momentos em que lhe podia dar um miminho"...
Quando o adulto faz pela criança ou o docente "faz" pelo aluno, impedindo-o de o experimentar e errar (e boa parte da ansiedade dos alunos face às Provas Globais e Exames é "compensada" por esse receio legítimo do docente, que se "desculpa" com a sua própria incompetência), ou quando "ilustra" de forma muito "gira" uma situação de outro, interpretando e "impondo" uma certa forma de ver, o que está a fazer, mais uma vez, é impedir que o aluno/criança falhe e, dessa forma, a que aprenda.
Aprender não é ver o outro (o adulto, o professor, a auxiliar...) a fazer um qualquer desenho muito "giro" ou uma qualquer "prenda" para dar à mãe. Aprender é fazer uma coisa muito feia e registar a reação. 
E, sem falhar, não aprendemos.
Por o considerar muito grave para a nossa evolução enquanto seres resilientes e lutadores, combativos e justos (porque "provámos" a dificuldade!), sinto que se não soubermos refletir sobre este nosso altruísmo antipedagógico e antisocial, tendemos a, na perspetiva Darwiniana, desaparecer.
E, apesar de parecer que não nos restam muitas hipóteses (o federalismo Alemão parece ameaçar!), é ainda tempo de recusar uma mesma lógica de "funcionamento".
Basta parar para pensar.

12 de abril de 2012

Inoperância? Ou apenas incompetência?!

Compreendo, cada vez melhor, a posição dos contribuintes do norte da Europa. E em especial os alemães. Na realidade, até há pouco, não compreendia, de todo, a oposição a uma espécie de compensação europeia, em que os mais "ricos" contribuíam para uma suposta igualdade de oportunidades, baseada numa visão social e solidária de um "grande estado europeu", defensor das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos. Não compreendia porque razão era incompreensível que os povos "mais abonados", e especialmente os que enriqueceram à custa dos produtos que venderam (ou impingiram!) aos "menos abonados" não quisessem, agora, ajudá-los a crescer. De facto, não compreendia. Mas hoje, ao abrir a caixa do correio, compreendi que nem os mais solidários e compreensivos "ricos" conseguem suportar, durante muito tempo, a forma como se gasta dinheiro nos "países do sul". O exemplo é gritante e conta-se em duas palavras: Sou funcionário público. No âmbito de um ato de gestão deficitário, recorri, usando os meios legais (leia-se regulamentares) ao meu dispor. Recorri, portanto, ao espaço hierárquico superior. Desse órgão, a segunda instância, recebi a resposta de que a resolução de tal reclamação, devidamente contextualizada, é da responsabilidade do gestor recorrido. Devolveram, portanto, a reclamação. Por não compreender essa resposta, recorri da segunda instância para uma (suposta) terceira instância. A resposta (e é essa a que recebi hoje) relega para a segunda instância a resolução da reclamação... Ou seja: apresentei uma reclamação de um ato de gestão do Diretor à Direção Regional de Educação (DRE), que por sua vez me respondeu que a resolução do problema compete ao Diretor. Reclamei da DRE à Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC), designadamente por a instância superior ter respondido devolvendo ao "causador" da reclamação, a "missão de resolver o assunto". Eis que recebo da IGEC a resposta à minha exposição um lacónico "nestes termos, será solicitada a intervenção daquela entidade (DRE) mediante o reencaminhamento da presente exposição", acrescentando, de seguida, "caso não se conforme com a decisão proferida, em sede de recurso e nos termos da lei, poderá suscitar pela via contenciosa a salvaguarda dos seus direitos"... Ou seja, para quê a existência de DREs, IGEC, e outras entidades intermédias que, na maior parte das vezes, devolvem à procedência as questões apresentadas? serão apenas sorvedouros de dinheiros públicos? Foram estas as conclusões a que chegaram os nossos amigos do norte da Europa?... Escrevi aqui, há dias, que estava em vias de desistir. Já não estou em "vias de"... Desisti mesmo! Não vale a pena. Fui.

10 de abril de 2012

Uma nota de desistência...

Há já algum tempo que por aqui não passava. Devo dizer que, na realidade, a vontade de escrever (e de, consequentemente, refletir sobre os escritos) não é muita. Invariavelmente dou por mim a tolher ainda mais a minha disponibilidade, a minha pertinência, a minha "garra"... Estou, como se pode imaginar, cada vez mais desiludido. E não é por causa da tão falada "crise". A crise (a minha) é diferente. É motivacional. Ao longo de todos estes anos em que desenvolvo a profissão que escolhi como minha (e houve outras que poderia ter escolhido com, acho eu, igual sucesso) tenho tido, por um lado, a sorte de me ir sentindo "empurrado" na minha motivação para continuar por um conjunto de pessoas, de sugestões, de ideias por que vale a pena lutar. Mas, por outro, o funil tem-se vindo a fechar. Ao longo destes anos, uma vezes pior, outras com mais sucesso, tenho mostrado que o que faço é digno de ser feito. Ao longo dos anos têm sido inúmeros os momentos em que, em partilha com outros amigos e colegas chegamos à conclusão que "fazemos bem". Ao longo dos anos têm sido algumas as "recompensas" que me "intimam" a continuar na mesma senda pela qualidade, pela excelência. Não é de agora, nem sequer é por razão de "avaliações", mas sempre defendi que a excelência deve ser o objetivo e o mérito deve ser a estratégia. E, sair da "crise" (de todas as crises!) deve ter como base a luta pela excelência. Excelência essa que se deve assumir como uma exigência, auto-imposta mas também definida por critérios exógenos. Ao longo dos anos permiti-me avaliar-me e ser avaliado. Não num qualquer modelo de avaliação externo e mal construído, mas num sistema contínuo e com critérios de sustentabilidade eficazes e criteriosos: a profissão que escolhi e os efeitos que a minha profissionalidade tem nos outros. E, nesse sistema, ao qual atribuo imenso rigor, tenho a certeza que passei com distinção e com mérito. Mas, no(s) outro(s), naqueles sistemas de avaliação mesquinhos e adestrados, que têm como principais agentes um conjunto de seres (para não lhes chamar "coisas") invertebrados, desejosos de uma qualquer distinção plástica e insignificante (que não param, sequer, para pensar nos efeitos que terão as suas "avaliações" no futuro de uma comunidade, de um país, de uma nação), nesse(s), devo dizer-vos que não fui bem sucedido. Muito pelo contrário: falhei redondamente. Falhei porque não gosto das regras por eles impostas. E como não gosto das regras, não vou jogar mais. É este o momento de abandono. Desisto. Mas desisto mesmo. Durante muito tempo fui ouvindo os impulsos e os "empurrões" que fui recebendo, de "não desistir", de "não entregar o ouro aos bandidos", mas, quando o nosso chefe (leia-se Diretor) nos diz, claramente, que "não há ninguém excelente e que os mestrados e doutoramentos não fazem ninguém ser melhor", o que eu sinto é que chegou ao fim. Não que eu não possa aceitar esse comentário, ainda por cima vindo de quem vem, mas não é espetável ouvi-lo de alguém com um papel preponderante na motivação dos seus "subordinados"... Ainda por cima daqueles que constroem, diariamente, uma escola melhor.. Desisto porque não é esperado, num sistema de mérito e de excelência, que o chefe nos diga para desistir. A escola desmorona-se quando os que cá estão deixam de ter a clareza para ver que o mérito, o trabalho, a excelência e o brio são os suportes da qualidade e da competência. E reparem que não falo de "quotas", ou de "comparações". Falo apenas de defender o que é basilar: a Educação é a base da sociedade em que vivemos. E eu não quero cá estar para assistir ao(s) seu(s) fim(ns).

9 de março de 2012

Tristeza Profunda!

Chegou hoje ao fim um processo intrincado, doloroso e absolutamente desnecessário.
E o que fica é uma tristeza profunda.
No âmbito da ADD, não é fácil nem simples acreditar que o processo é sério, competente e, acima de tudo inspirado (e ajustado) por um objetivo fundamental de melhorar, de crescer e de qualificar.
Não tendo concordado com a visão subjetiva e maniqueísta do avaliador, fui recorrendo, tal como a lei define, de forma a ver recompensado o esforço e o empenho, mais numa perspetiva de engrandecimento da profissão do que numa pespetiva pessoal (não interessará para aqui, mas a melhoria de avaliação que solicitei não muda nem altera as condições, em termos legais, que obtive com a notação inicial. Ou seja, nos termos da Lei, é-me indiferente o resultado final do processo. Os benefícios procedimentais serão os mesmos!).
Após variados momentos de evolução, eis-nos chegados ao Júri Externo, que, de acordo com o referido, apenas se poderia debruçar sobre as "questões processuais".
Não querendo aqui discutir se o peso e a subjetividade de observação do Avaliador poderá ser incluído nesse campo de análise, interessa, para reflexão posterior concluir o seguinte:
- se ficar provado a subjetividade do processo;
- se ficar provada a incompetência (neste caso em concreto, refiro incompetência enquanto avaliador e não como profissional);
- se ficar provada a inconsistência e a razão das razões justificativas e, por último,
- se ficar provado a responsabilidade partilhada...
...o processo é indeferido por não "existir inconveniência processual".
Por outras palavras, podemos reconhecer os erros de conteúdo mas se não existirem erros de forma, então está tudo bem.
Tristeza profunda.
É, realmente o que sinto.
Vinte anos de trabalho, uma vontade e uma capacidade reconhecida e uma dedicação exclusiva mostram-nos que não vale a pena.
Sinto que, a partir de hoje farei o que a maior parte faz: faltarei, não me importarei, atribuirei pouca importância...
Talvez assim me reconheçam o esforço.
Só uma última nota: pode parecer que reclamo de "barriga cheia", mas quem me conhece sabe que luto por ideais. E, além do mais, outros fatores poderiam ser demonstrativos: como por exemplo o fato de ter razões de queixa no único serviço público onde a avaliação global (da Unidade Orgânica) foi a mais baixa de todas onde antes desenvolvi o meu trabalho.
Tristeza profunda.
Não por mim. Pelo país que, infelizmente, tem pessoas que não sabem, não querem e nem conseguem fazer mais e melhor.

2 de fevereiro de 2012

Prima Donnas, inchados e outras dores de cotovelo...

Terei, em breve, quarenta anos.
Posso dizer que já me cansa (bastante!) ouvir dizer que "vais amolecendo", "vais aprender a desvalorizar isso", "mantém-te na tua linha, porque essas coisas não te podem afetar..."
Mas, confesso, afetam-me as situações que motivam essas "declarações" de simpatia.
Afeta-me a hipocrisia, a falta de frontalidade, os subterfúgios incompetentes e mesquinhos, a falta de coragem para afirmar (e manter!) uma opinião, um ponto de vista.
Confesso que, ao longo do meu percurso profissional já errei muitas vezes, demasiadas até, mas, olhando para trás, sempre tive a frontalidade (ou mesmo a humildade) de reconhecer os meus erros e aprender com eles.
Contudo, o meu currículo, o reconhecimento que tenho tido do que faço são, sem dúvida, os "imputs" positivos que prevalecem na hora de continuar.
Mas já cansa.
Fazerem de mim a ideia pelo "que ouviram", ou pretender que a minha postura é situacional são as maiores agressões que posso sofrer.
Ao contrário da prática comum (e refiro, fundamentalmente, o meu espaço profissional, se bem que, em termos pessoais não sou diferente!), o que faço, quer se queira quer não, faço-o em prol de um bem comum. Nunca, em toda a minha vida utilizei as costas dos outros para subir mais alto.
Quem me conhece (e conhecer de comigo fazer, de comigo partilhar, de comigo Ser!) sabe que sou (e mesmo quando sinto que não sou, faço por ser) um elemento de equipa.
Sou, em termos profissionais, um "agente destabilizador". Reconheço-o.
Mas sei também que me norteia a vontade de fazer pensar, de fazer refletir, de partilhar, de propor para fazer. Mas, acima de tudo, sou o primeiro a fazer o que defendo.
Neste mundo da Educação em que me movo, tenho aprendido (com imensa dificuldade em o aceitar) que uma parte importante dos que cá andam não perdem muito (ou nenhum) tempo a pensar o que fazem.
Fazem porque "sempre fizeram". Fazem porque "é assim".
E, pior que tudo, ficam "enxonfrados" quando confrontados com a sua "imobilidade", com a sua ignorância, com a sua incompetência.
São estes a "Primas Donnas". Acham que nunca desafinam.
Tenho tido a capacidade de aprender com os meus erros e nunca os repito. É uma questão de seriedade e credibilidade. Para com os outros, mas, sobretudo, para mim.
E, na Educação, é fundamental sabermos que, mais do que "simples pessoas", somos MODELOS: nas relações, nas competências, nas dúvidas, na humildade...
Dói-me bastante que "jogar para ganhar", de forma ética e responsável seja, normalmente, confundido com vaidade, prepotência, desrespeito.
Imoral e pouco ético é mudar as regras do jogo a meio, por vontade do "árbitro" ou por "desistência" dos adversários.
Jogo para ganhar. É uma verdade. Querer obter a graduação de Excelente, num sistema de graduação em que o topo é, isso mesmo: Excelente, não tem de ser uma "imoralidade" ou um crime de "lesa majestade".
Já aqui o escrevi e volto a dizer: se a palavra escolhida pelo "sistema", para definir a classificação quantitativa situada entre o 9 e o 10 se chamasse "Porco", eu faria por ter "PORCO"!
Que será de nós quando passarmos a ter de dizer que não atribuímos o valor 20 a um aluno nosso porque a Universidade só "aceita" uns quantos "excelentes alunos"? Mandamos os outros para trás, ou aumentamos o "leque de escolhas universitárias"?
Mas, infelizmente, a maior parte dos agentes, de certeza, não faz um esforço para compreender (ou pelo menos refletir) o que aqui está em causa.
E, pior que tudo isso, custa-me que não sejam capazes de ultrapassar algumas das suas dificuldades em partilha.
Pois...
Partilhar é lixado!
E não se "aprende" na escola...

23 de janeiro de 2012

Poupar... Ou talvez não.

Nestes últimos dias tenho (por força das inúmeras notícias que tenho ouvido, lido, comentado...) refletido seriamente sobre o conceito (e o problema!) de Poupança (ou, por outras palavras, de Crise!).
Nestes dias de cada vez mais austeridade (ou será autoridade?), uma das ideias chave é a necessidade de poupança, aliada à necessidade imperiosa de "gastar menos".
Ouvimo-lo, diariamente, nas mais variadas situações, mas, como acaba pos ser normal, não prestamos a atenção exigível, nem sequer fazemos um esforço de compreensão do que nos pedem.
O enfoque que nos é dado pelo Estado (através dos seus - nossos - representantes eleitos) é de que a imagem de poupança surge associada à necessidade de: a) cortar nas despesas; b) diminuir custos supérfluos; c) readequar os custos e d) produzir mais (e, acrescento eu, melhor!).
De todas as estratégias que têm sido apresentadas, é notório uma quase "culpabilização" da "máquina do Estado" como fator decisivo do crescente endividamento do setor público e administrativo do país.
Não nego.
É, por demais evidente, que é o Estado quem paga o desenvolvimento.
Mas valeria a pena parar para analisar alguns dados:
1. As despesas que fizeram disparar, nos últimos anos, a despesa do Estado são, quase todas, despesas de desenvolvimento. Nestas despesas de desenvolvimento, surgem, à cabeça, as Parcerias Público Privadas (PPP). Se quisermos um maior enfoque, as PPP são, fundamentalmente, oriundas dos ministérios da Defesa, Economia, dos Transportes e Obras Públicas e da Saúde. Nestas (como é óbvio!), surgem à cabeça a construção de estradas, de hospitais e de "investimento estrangeiro", e, a cereja no topo do bolo, a compra de submarinos.
Para não entrar em pormenores, detenho-me apenas na estradas: que país do tamanho do nosso tem três auto-estradas que ligam as duas principais estradas do país, autoestradas que ligam eixos centrais a cidades(?) com menos de 20 mil habitantes e, não menos importante, que país europeu tem 86% das suas autoestradas numa faixa longitudinal de 20km?
2. É comum"culpar-se" os funcionários públicos do "gasto" excessivo do estado (volto a não negar!), mas, é interessante "escalpelizar" estas afirmações. Os funcionários públicos (fp) (imensos, não nego novamente!) representam uma despesa fixa de cerca de 27% das despesas do Estado. Ou seja, pouco mais de um quarto. Destes, 13% representam quadros intermédios e superiores. De entre os quadros médios e superiores, cerca de 40% correspondem a cargos de chefias...
Ora, depois destes dados, não será essencial a pergunta: para quê tantos chefes?
3. Por último, e ainda na perspetiva da despesa, é ainda pertinente fazer algumas perguntas: se os fp são tão "gastadores" e se "não produzem", porque razão é tão fundamental a corrida aos "jobs" que, após cada eleição, se verifica? Será porque os tais "fp" que não produzem são aqueles que apenas "vivem" dos favores e benesses que o Estado concede, como os "abonos suplementares" tão em voga neste início de ano? Se assim é, penso que é chegada a hora de, com os meios que nos são acometidos, fazer alguma coisa.
É indigno que eu, enquanto funcionário público, seja "confundido" com os lorpas e parasitas que por aí vegetam.
E a forma de mostrar a indignação não passa, no meu entender, por todas aquelas "sugestões" do costume, em que "as eleições", "os sindicatos" e "a vida" surgem (não por esta ordem) como "formas de agir".
A ação deve (tem de) ser localizada e contínua: nos nossos locais de trabalho, mostrando aos pares a nossa razão; nos nossos locais de trabalho, reforçando a razão dos nossos pares; nos nossos locais de trabalho, refletindo sobre o que fazemos e porque fazemos e, consequentemente, recusando o que nos é imposto sem justificação; nos nossos locais de trabalho, unindo e não dividindo; nos nossos locais de trabalho, colaborando e cooperando e, por fim, nos nossos locais de trabalho, justificando, individualmente, a confiança que nos foi depositada por todos aqueles que necessitam de um Estado forte: ou seja, as pessoas!
Podem estas palavras parecer irrelevantes, mas acredito que, se cada um de nós as refletir seriamente, encontrará a razão da sua existência, até porque enquanto "assobiarmos" para o lado ou projetarmos no "vizinho" as nossas frustrações (ou, em português legítimo, a nossa "dor de cotovelo"), nunca deixaremos de "gastar"...
Experimentem!

13 de janeiro de 2012

Um novo ano, muitas dificuldades mas algumas certezas...

Hoje tenho andado a interrogar-me sobre o "porquê" das nossas decisões.
O desafio do Doutoramento foi, à partida, um desafio pessoal, aceite inquestionavelmente por ser (ou representar!), acima de tudo, um passo no caminho do conhecimento pessoal, social e cultural.
A escolha do tema mais geral (vulgo especialidade), a escolha da Universidade, a escolha das caraterísticas e condicionantes foi ditada pelo que admiti serem as que melhor me responderiam em termos pessoais e profissionais.
Não obstante as dúvidas, é claro que as certezas que advieram da reflexão permanente são suficientemente fortes para serem seguidas.
Mas, neste momento, questiono tudo.
Que país é este que, pura e simplesmente despreza o conhecimento, o esforço, o mérito?...
Que país é este em que, para se ter sucesso (pessoal, profissional, social...) é mais importante participar num programa de televisão de duvidosa qualidade do que investir nas suas competências pessoais e profissionais e lutar, diariamente, por "fazer a diferença", aumentando, de forma consciente, a qualidade palpável da sua praxis?
Que país é este que apela à imigração?
Questiono e duvido de tudo.
Para além do auto-prazer de investir no conhecimento, para que me servirá investir no conhecimento?
Se a resposta for: "Emigra!", peço-vos, desde já, desculpa, mas, por defeito de educação sempre acreditei que se muda fazendo. Dando o peito às balas...
Ficando.
Não fugindo!