15 de junho de 2012

Avaliações...

Por muito que, de uma forma gratuita, afirmemos que "não precisamos de processos de avaliação, porque somos, diariamente, avaliados", essa afirmação é, toda ela, manipuladora e enganadora.
Podemos, de facto, estar certos e conscientes dos nossos métodos, dos nossos processos de trabalho, dos resultados que obtemos, mas, na realidade, sermos avaliados é muito mais do que isso: é compreendermos que o que fazemos tem sentido e significado num âmbito mais lato, mais global e holístico.
Não temos muitas vezes (nas escolas) oportunidade de que a observação de que possamos ser alvo, com critérios avaliativos, seja justa e efetiva. Também é verdade que, mesmo que justa e efetiva, pode ela própria (a observação) ser embuída de um qualquer interesse (nosso ou de quem observa) que a faz, desde logo, tornar-se inócua ou parcial.
No entanto, há dias em que temos a sorte de sermos brindados com momentos de observação/avaliação não programados e/ou esperados que, de forma incisiva e correta nos "devolvem" uma imagem mais próxima de uma realidade aferida e fundamentada pelos tais métodos, processos e resultados que "dominamos" e que selecionamos para imprimir, à nossa prática/vontade, um rumo adequado e objetivo.
E porque, apesar de se tratar de uma "avaliação" sem qualquer tipo de função quantitativa ou qualitativa e, principalmente por (por essas mesmas razões!) ser resultado de uma "visita" completamente inesperada e sem "objetivo" formal, sinto que o texto que recebi é digno (por "dizer" tantas mais coisas do que as "avaliações" formais" dizem) de ser publicado. Não para me "orgulhar" do seu conteúdo ou regojizar-me (para isso não precisava de o publicar!), mas porque sinto que este texto, além da sua clareza e significado, é um texto que não me importaria de ler num qualquer relatório de avaliação formal. Porque "diz" o que deve ser dito e, além de tudo, "compreende" a essência que deve ser compreendida,
Aqui vai (com as devidas omissões a nomes e situações concretas que podem identificar sujeitos específicos):

Quando estou no ambiente "escola", como ontem estive - e ainda por cima um ambiente que tu, passo a passo, sem desistir e com dedicação e empenho renovas a cada dia, é-me muito difícil imaginar-te cansado e com vontade de "pular fora", como me confessaste já por várias vezes.
Sim, eu sei que "escola" não é só o "ambiente de dentro", é também o contexto mais alargado onde os "pares" e a "hierarquia mais próxima do terreno" (as direções dos agrupamentos) deveriam querer estar sintonizados e capazes de verdadeiramente pensar para concretizar de maneira responsável, e por isso inovadora e interventiva, como a vossa equipa "aprendeu" a fazer, porque se pôs ao caminho...
Sim, eu sei que mesmo o "ambiente de dentro" é por vezes cansativo de "manter em alta", porque te sentes sempre o mesmo e muitas vezes muito sozinho a "puxar a carruagem"...
Mas quando te vejo numa manhã como a de ontem, completamente envolvido e encantado a observar as reações, os comportamentos, as descobertas dos meninos...
E quando te vejo, com a maior das naturalidades e das alegrias, "pegar" numa turma, para além da tua e do teu ciclo de ensino, porque a colega faltou, e logo ali desenvolveres estratégias e ambientes que puderam pôr todos a "funcionar sobre rodas"...
E quando te vejo na sintonia, na confiança, na cumplicidade que tens com o coordenador e na forma como os dois se comunicam e trabalham em conjunto para fazer da escola um lugar de excelência pedagógica...
E quando te vejo numa hora de almoço, servir, estar atento ao conforto de todos, participar nas conversas e contribuir para um convívio saudável e descontraído - mesmo que algumas daquelas pessoas até possam nem te dizer muito em termos de trabalho...
E quando observo a relação de cumplicidade e de confiança mútua que desenvolveste ao longo dos anos de trabalho com a tua auxiliar, dando-lhe espaços de intervenção que a estimulam a ser cada vez mais parceira, envolvida e capaz de assumir responsabilidades e de articular com a tua forma de trabalho...
Enfim, poderia continuar, mas acho que já entendeste como tenho tantas dúvidas em imaginar-te "fora da escola" não porque duvide que sejas capaz de fazer outras coisas - sabes que nunca me passou nem passa pela cabeça duvidar, sei que és naturalmente dotado para perseverar, lutar e vencer todos os desafios a que te propões ou que te vão aparecendo pelo caminho.
É completamente mágico ver-te numa manhã como a de ontem e sentir como és feliz e (quase) completo e como tudo o que fazes tem a ver com o bem-estar e a possibilidade de fazer crescer e desenvolver os que te cercam.
Nunca me canso de te dizer como a cada dia te respeito mais e mais e vejo o Educador que mora em ti.
Como eu gostava, um dia, de ser avaliado "formalmente" com um texto destes...