3 de maio de 2013

Eu, Culpado, me confesso...

Confesso que encolhi os ombros algumas vezes, quando me pediam para, em voz alta, falar em nome de "muitos";
Confesso que fico chateado quando me dão "palmadinhas nas costas" acompanhadas de um "deixa lá isso, não podes mudar nada!";
Confesso que não tenho lutado por ter muitos amigos no local de trabalho (mas na realidade ninguém me deveria obrigar a conviver com pessoas que têm uma opinião diferente por cada camisa que vestem...);
Confesso que, às vezes, digo o que deve ser dito sem ter em conta que as pessoas que me ouvem gostariam de ouvir outra coisa qualquer, só para "não terem problemas";
Confesso que tenho acreditado que, de forma coerente e consistente, tenho mantido as minhas posições, mas que elas são completamente erradas porque são as da "minoria";
Confesso que tenho tentado, desde que me conheço, a participar ativamente em associações, grupos, dinâmicas de partilha e reflexão, com uma vontade imensa de cooperar e colaborar, mas acabo sempre por ser acusado de "querer protagonismo" e, como as acusações vêm, quase sempre, de pessoas muito mais envolvidas do que eu, isso me dói;
Confesso que, com a minha mania de procurar consensos, acabo sempre por ficar sozinho a tentar o impossível;
Confesso que, porque acredito na "Excelência" como forma de estar e de ser, posso ter contribuído para o alargamento do horário de trabalho dos funcionários públicos;
Confesso que nunca fiz aquelas coisas que os chefes me "obrigavam" a fazer, como "cumprir "programas escolares", comprar "manuais" desnecessários...;
Confesso que continuo a querer levar os alunos a subir às árvores, mesmo quando o seguro escolar não permite (apesar de ser, depois, repreendido!);
Confesso que gostava de apresentar num qualquer encontro/conferência sobre educação em Portugal (o que nunca fiz!), as minhas práticas letivas, que foram já, inclusivamente, premiadas no estrangeiro;
Confesso que nunca fui muito incisivo em levar os meus amigos próximos a refletir (e praticar) ações tão simples como "apanhar o papel do chão" e continuo a, nas suas esteiras, fazê-lo porque me incomoda o papel no chão;
Confesso que continuo a ficar fulo, quando o Benfica ganha, porque isso significa que uma parte importante dos portugueses se esquece, propositadamente, de que os problemas não se resolvem com comemorações no Marquês de Pombal;
Confesso também que me sinto indignado quando oiço alguém evocar o "Futebol, Fado e Fátima" sem ter noção do quão profundo (e eficaz!) esse conceito é;
Confesso não me ter posto à frente das pedras que agrediam um conjunto de seres humanos vestidos de polícias que cumpriam as regras que lhes disseram que deveriam defender...
Ou seja, todos os males do país são meus!
Eu arco com as consequências...