4 de julho de 2013

Que "Cultura" de Estado?

Nestes últimos dois dias tenho (temos!) vivido uma espécie de esquizofrenia social.
Por um lado (o dos comentadores, o dos "opinion makers", o dos "filhos do(s) sistema(s)"), há como que uma preocupação (que não me atrevo a dizer legítima) sobre a situação e as "condições" do país.
Relembro que, a maior parte dos "comentários" vêm na sequência da demissão do Ministro das Finanças e posteriormente, do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
Por outro lado há uma tendência para dizer "eles" em situações que todos sabemos que seria mais adequado e sério dizer "nós"...
Independentemente das "razões" apontadas, há uma ideia que me fica a ressoar na cabeça: são todos meninos reguilas e mimados.
Comentadores e políticos!
E são-no porquê?
Porque não me parece que tenham (ou não querem ter!) uma cabal visão da situação que eles próprios criaram.
Neste momento, o país vive refém de birras e infantilidades, do "quero, posso e mando" tão característico de crianças que foram criadas sem SABER, sem CONHECER, sem experimentar na pele o que de fundamental existe na dinâmicas pessoal, nas relações humanas e, sobretudo, na teia do relacionamento social.
Pode esta prosa parecer retórica, desenquadrada, desajustada. E pode até parecer simplista.
Mas se olharmos atentamente aos factos, talvez não seja assim tão descabida.
Temos um primeiro-ministro que fez toda a sua "formação" nos corredores do poder, de jotinha a administrador de empresas sorvedoras dos dinheiro públicos, em companhia de "poderosos" que o escolheram pelos seus dotes e convicções amistosas para com as "causas" que defendem.
Tivemos um primeiro-ministro que se situou no mesmo espaço de "crescimento pessoal".
Temos (tivemos?) um Ministro de Estado que é um político profissional e, por tal, está imbuído dos ditames e das dinâmicas dos "corredores do poder".
Temos um Presidente da República que advém de um grupo de "patos bravos" que, um dia, prometeu "vingar-se" de quem lhes teria (a si e às suas famílias) feito mal numa convulsão social chamada 25 de abril...
Poderia continuar a enumerar, mas penso que, com estes parcos exemplos, se chega rapidamente à conclusão de que, entre aqueles que nos "governam" não haverá muitos que sejam detentores de uma efetiva "cultura" social.
Não leram a "Mãe", do Gorki; não sabem quem é Kafka; na escola "passaram os olhos" pelo "Os Maias" apenas porque um qualquer professor os "obrigou"...
Não serão estes os títulos mais "sérios e fundamentais" (poderia enumerar alguns efetivamente importantes, mas ficaria a "falar sozinho"...) que definem uma "cultura", mas servem para sustentar a evidente falta de cultura, de história, de responsabilidade de que são "vítimas".
Mudar este paradigma político e social (que é como quem diz: mudar estes políticos) não é uma tarefa fácil nem breve.
É antes uma mudança a fazer ao longo de gerações.
Mas, ter consciência disto, neste momento, é assustador.
Portugal não tem "esse" tempo. Não tem.
Mas, ao olhar para a "Educação" atual, ainda mais assustador se torna a visão (inexistente) de uma potencial mudança.
Nos últimos quatro ou cinco anos os docentes das escolas onde tenho estado têm sido, na generalidade, mais novo que eu. E é aterrador constatar que a maior parte deles não lê (não leu!) sequer "Os Lusíadas", o "Frei Luís de Sousa" ou o "1984"...
E isto para nem elencar um conjunto de livros que sustentam as bases de um conhecimento profundo de si e dos outros, de modelos sociais e, sobretudo, da História da humanidade...
E "isto" é aflitivo.
É aterrador.
Como pode ser possível ensinar valores, ética, atitudes (ou simplesmente potenciar experiências) se não existe, sequer, um conhecimento médio das "razões" que sustentam os modelos sociais em que vivemos...
Fomos, lentamente, desenvolvendo o culto do "umbiguismo" como fonte de vida. O dinheiro assumiu o espaço principal, quase religioso, nos objetivos de quase toda a gente. E de lá não sairá facilmente.
Torna-se "desadequado" pretender "ter uma conversa" séria sobre Valores, sobre Ética, sobre Atitudes nas escolas, hoje em dia.
Quem o pretende fazer ganha um selo de "inconveniente"...
As práticas atuais vivem do compadrio, da corrupção (até de ideias), de plágio, de facilitismo...
Os professores são, na generalidade, os mais "umbiguistas" (nem sequer me atrevo a relatar situações concretas!...) e, quer queiramos, quer não, são (foram)eles quem, consciente ou inconscientemente nos trouxeram até aqui.
Ninguém me convence do contrário.
Não me demito das responsabilidades, mas teimo em não aceitar "ser como eles"...
Não quero e não vou fazê-lo.