26 de abril de 2013

Porque não acredito na mudança da "Classe Docente"...

Antes de mais, é importante deixar claro, logo a abrir, três ideias fundamentais:
1. Sei que serei empalado por algumas das pessoas que lerem este meu comentário. Algumas deixarão de ser minhas "amigas". Outras nunca mais me falarão. Não me importo. Prefiro a honestidade e a amizade franca.
2. Uma das coisas que mais gosto no facto de ter 40 anos é que não me importo mesmo do que os outros "acham" sobre o que eu digo (ou escrevo!), pelo que, usando um dos direitos consagrados na Constituição da República (que até ver está em vigor), digo o que me apetece!
3. Por mais que possa não parecer, há muito tempo que venho a dizer (e escrever!) o que agora transcrevo. Talvez agora o faça de uma forma mais crua e nua. Talvez mais dolorosa de ler. Mas muito menos dolorosa de escrever.
Posto isto, sigamos...
Porque é que eu não acredito na classe docente...
Primeira razão: os docentes são são pessoas igual a toda as outras. Com medos, com incertezas, com dificuldades várias, com constrangimentos variados...
Segunda razão: ao contrário da maioria das pessoas, deixaram-se adormecer à sombra de uma "ideia romântica" sobre a sua função.
Desde há muito tempo que, de forma sustentada, a "classe docente" deixou de se preocupar com a efetiva função que se espera dela: educar e formar os cidadãos.
E porquê?
Porque deixou de acreditar que são os alunos (prefiro aprendentes!) a única razão da sua existência.
Assisto e sou também testemunha indireta, diariamente, de situações que me chocam enquanto profissional e me chocariam ainda mais se fosse encarregado de educação.
Desde o desprezo evidente pelo aluno/criança até à mais evidente indiferença perante o ser humano. Mas, mais grave ainda, é o completo desprezo pela função social do docente.
Uma Escola que deixou de respeitar o aluno, a sua comunidade de origem, os seus conhecimentos contextualizados e locais, uma Escola que funciona como um "centro de emprego" para pessoas com uma ideia aproximada do que deveria ser a "educação", uma Escola que prefere proteger-se a abrir-se à crítica e à cooperação é uma Escola morta.
E, desculpem-me a crueza, mas a maior parte deste esmorecimento do papel da Escola deve-se à "classe docente"...
Desde o docente que entra e sai da escola sem sequer um "Bom dia" dizer, até ao docente que se "esquece" de que o trabalho na escola deve ser "colaborativo";
Desde o docente que elege ou reconduz um Diretor a quem, ao longo dos anos da sua vigência, criticou e contestou (por vezes judicialmente!) em reuniões, encontros ou simples "conversas de café";
Desde o docente que, armado de uma "inquestionável" razão, se superioriza ao "recém-chegado", ao "estagiário" ou ao "colega mais novo", contribuindo, assim, para uma cultura de individualização do ato de educar;
Desde o docente que prefere "confiar"nos "sindicatos (que em Portugal são mais de 10!), para resolver aquelas que deveriam ser as suas razões;
Desde o docente que prefere trabalhar sozinho, em função de rankings e classificações, ou em função de um "programa" que serve de desculpa para alguma incompetência reflexiva, ignorando, por vezes, outras possibilidades que advenham da partilha efetiva;
Desde o docente que partilha, nas redes sociais, textos assertivos e concludentes de "pensadores" consagrados, mas, depois, na prática, ignora os "conselhos";
Desde o docente que, perante possibilidades, de certa forma arriscadas, porque inovadoras, de melhorar e aumentar as incidências da sua atividade, prefere "jogar pelo seguro",
Desde o docente que se abstém de ter uma posição oficial nos locais devidos e depois, com "palmadinhas nas costas", agradece a intervenção de um colega;
Desde o docente que desdenha o sucesso de um colega por imperativos egoístas e individuais, em vez de com ele partilhar o êxito;
Desde o colega que prefere a máxima "muitas vezes tenho uma opinião quando estou deitado e outra quando estou de pé", a outro que usa, sistematicamente, o aforismo" faz o que eu digo, não faças o que eu faço";
Pois bem...
Em vinte anos de atividade, conheci muitos destes "exemplos".
E, para aqueles que me dizem que apenas correspondem a uma minoria, respondo: "Que azar o meu: estive (e estou) em escolas onde eles estão todos!"
Por tudo o exposto, resta-me a pergunta: como é que se "monta" uma Escola útil quando a parte importante da equação (os docentes) se "esqueceu" das suas obrigações humanas, educativas, sociais e culturais? Como é que se operacionaliza uma educação integral quando aqueles que se batem (sendo bem avaliados, numa avaliação que não é auto-avaliação), com práticas distintivas, são penalizados e estigmatizados pelos seus pares?... 
A mudança só acontecerá quando, de uma vez por todas, chegarmos a um consenso de mudança coletivo. E isso, parece-me, nunca irá acontecer, por mais que eu continue otimista.
Por tudo isto, não acredito na mudança. Apesar de, para já, querer continuar a contribuir para que alguma coisa mude.
E, preciso deixar ainda claro que não me desvinculo de ser docente e sou, por isso, membro da "classe"...
Mas não quero pertencer ao rebanho!

16 de abril de 2013

Porque me sinto culpado...

Ontem, em resposta a um comentário meu numa rede social, sobre um evento que, a toda a linha, é censurável, uma amiga "alertava-me" para o "negativismo" da minha "atitude de culpabilização" constante.
Na realidade, e quando fiz uma análise de comentários, de respostas a comentários, de análises que tenho feito nos últimos dois/três meses, é, de facto, evidente uma atitude de crítica e auto-crítica sobre muitas das atitudes/comportamentos/ações (ou inações!) que me guirarm nos últimos tempos.
Mas, na realidade, não estou sozinho.
Deter-me-ei, aqui e agora, a analisar alguns dos "comportamentos" que me fazem sentir culpado.
Não é minha ideia, com isso, atribuir culpas a quem quer que seja.
Mas ficará "escrito" para que possa, se necessário, servir de "contraponto"...
Não serei eu culpado por tanto desemprego?
Sou.
Sou, quando "ordeiramente", levanto o meu tabuleiro no centro comercial e deposito, com um um brio quase impossível, os restos nos recipientes adequados (se "pensar" bem, e seguir as "indicações" dos promotores de tal "comportamento", estarei a "poupar" no preço do bem que consumo, mas não estarei eu a pagá-lo quando contribuo para o "subsídio de desemprego" de quem deixei sem trabalho?)
Sou, quando, no supermercado, escolho, quase inconscientemente, a fruta pelo seu "aspeto claro e limpo" e deixo nos tabuleiros a fruta "tocada" e com menor dimensão (por "causa" dessa minha escolha, muitos produtores de fruta deixam o "remanescente" nas árvores porque é "financeiramente desadequado" contratar alguém para colher a fruta que "ninguém compra");
Sou quando compro umas calças de uma qualquer "marca internacional de reconhecida qualidade", preterindo umas outras de produção nacional, cuja etiqueta apresenta um nome que me é desconhecido (apesar de eu saber, lá no fundo, que, sobre "qualidade", estamos conversados...);
Sou, quando, de forma absolutamente normal, opto por me deslocar no meu automóvel, mesmo sabendo que os transportes públicos me fariam poupar dinheiro...
E não serei eu culpado da "falta de educação" que está tantas vezes presente no meu discurso diário!
Sou.
Sou, quando estaciono o meu automóvel no passeio porque "vou demorar uns minutinhos", e me esqueço de que, por estar em cima do passeio, pode impedir uma pessoa com qualquer tipo de dificuldade de "continuar a sua vida";
Sou, quando "por estar muito ocupado", me esqueço de dizer um "Bom Dia" vigoroso, ou me esqueço de "segurar a porta" para quem vem "mesmo atrás";
Sou, quando "me esqueço" de devolver o troco em excesso que me foi dado por uma funcionária distraída;
Sou, quando me esqueço de pedir desculpa...
E, numa perspectiva mais "global" não sou eu culpado da "Crise Social e Financeira"?
Sou.
Sou, porque preferi ir para a praia a ir votar;
Sou, quando acho que "não vale a pena reclamar" por um serviço mal prestado;
Sou, quando, numa reunião no trabalho,"meto a viola no saco" só para não "ter chatices"...
Sou, quando prefiro pagar ao meu mecânico sem exigir que ele me passe uma fatura...
Alguns dos que me possam vir a ler, neste comentário, acharão, legitimamente, que "estas culpas" não são "razões suficientes", nem eu "serei culpado de todos os males do mundo".
Haverá também quem diga que "eu faço o meu melhor".
Não discuto e nem sequer faço qualquer tipo de consideração sobre tal facto.
E, além do mais, eu próprio sei que "mudar" o estado das coisas é "absolutamente utópico".
Mas, que raio, não estará a mudança destinada a acontecer quando tomamos consciência de que podemos fazer melhor?
Não será a "consciência da culpa" que nos faz evoluir para algo diferente?
Neste texto "uso" apenas algumas "generalidades e generalizações", que, para a maior parte dos "leitores" (se houver alguns!) não passarão de banalidades discursivas, mas, uma coisa posso garantir: ao tomar consciência de algumas das minhas "atitudes normais", tenho optado por tentar mudar.
E só o faço porque delas tomei consciência.
Não vou mudar o mundo (pelo menos o dos outros!), mas tentarei, pelo menos, mudar o meu. E viverei feliz se, pelo menos, eu me sentir bem.
Sou profissional de educação, e, neste espaço, tenho "relatado" algumas situações que me afetam, direta ou indiretamente.
É claro que eu não sou "culpado" por uma bomba que rebentou em Boston...
Mas posso ser culpado por uma que rebente em Lisboa...