15 de junho de 2013

Educadores "menores"...

Sou Educador de Infância de profissão, Educador de Infância por vocação e, acima de tudo, Educador de Infância porque acredito, sinceramente, que os profissionais de educação de infância são capazes, competentes, conhecedores, talentosos e, acima de tudo, dedicados.
Por isso, ao ler, nas redes sociais, alguns comentários, afirmações, perguntas e outras "dúvidas", não resisiti a "escrever para nós"...
Lia há pouco , entre outras coisas, a tremenda "insatisfação" que advém do facto de "sermos considerados 'gente' menor" (e neste epíteto incluo educadores de infância, profissionais de educação e terapêutica infantil, etc...)...
Pois bem, sem querer entrar em grandes provocações, se assim é, deixo uma pergunta (séria) para nos fazer refletir um pouco:
O que é que temos feito (e reparem que eu generalizei) para
que a "opinião pública" tenha, dos profissionais de educação de infância uma imagem de competência, seriedade, congruência?...
Sei que surgirão, de seguida, alguns comentários pouco abonatórios para a minha pessoa, mas tentarei expor o meu ponto de vista, avisando, desde já, que a maior parte das perguntas que faço "nascem" das evidências sentidas, vistas e experienciadas...
- Ao longo dos últimos trinta anos, sempre que dá jeito, somos docentes... outras vezes somos educadores de infância...
- Sempre que exista uma decisão contrária aos interesses da Educação Pré-escolar (por parte do Diretor, do Conselho Pedagógico, do Conselho Geral...), optamos por achar que "isso é lá com eles..."
- Sempre que existe, em termos de reflexão profunda, algo que seria importante sublinhar, no interesse da Educação de Infância, optamos por não nos preparamos convenientemente para contrapor...
- Sempre que, por exemplo, num grupo de profissionais de educação de infância, se abrem reflexões substantivas sobre práticas, atitudes e/ou comportamentos, há 3 ou 4 pessoas que se manifestam efetivamente e uns outros tantos que adotam a atitude do "nim" (apesar de estar a referir espaços físicos, como Departamentos ou reuniões sindicais, por exemplo, esse comportamento também é vísivel por aqui...)
- Sempre que uma qualquer decisão deve ser tomada, vamos "embrulhando" a coisa até ficar mais ou menos ao gosto de toda a gente, sem nos expormos, sem nos assumirmos... (basta olhar para a generalidade dos representantes do pré-escolar nos órgãos dos agrupamentos, que assumem, de uma maneira geral, a posição do "filho bem comportado"...)
- Sempre que é preciso confrontar, optamos por assobiar para o lado...
Poderia continuar, mas, de certeza que os 10 ou 12 companheiros constantes de reflexão não iriam gostar e logo diriam que "não posso generalizar... que até fazem exatamente o contrário... que esta não é a realidade..."...

Contudo, são esses mesmo (os que se manifestam), que eu respeito. E porquê? Pela simples razão de que são Educador@s que dão a cara. Que lutam por ideais, que se envolvem...
Nos grupos de "Educadores", nas redes sociais, há centenas de profissionais inscritos. Por vezes, comentários de pendor mais reflexivo têm umas dezenas de "gosto" (que é uma forma de manter o "nim" que referia atrás), contudo, algumas imagens retiradas da net e expostas aqui (de bolinhos, de desenhos, de fichas...) alcançam muitas dezenas (às vezes centenas ) de comentários, muitas vezes redundantes...
Porque tenho sido muitas vezes acusado de ser deselegante e grosseiro (apesar de não ser a minha intenção), era bom, de uma vez por todas, que parássemos para refletir sobre o nosso "papel" no espaço da Educação em Portugal.
Não basta escondermo-nos atrás dos que caminham. Temos de levantar a cabeça e caminhar desafiantes...
Claro que, para o fazer, será conveniente preparamo-nos. Estudarmos. Percebermos. Lutarmos pelo que de muita qualidade fazemos. E isso dá trabalho!
Mas será a única forma de vermos as nossas competências reconhecidas. Inclusive pelos nossos pares.
Não podemos confundir as particularidades e especificidades do nosso trabalho (os "mimos" e "afetos" com que gostamos de nos particularizar) com a dimensão global de uma ótima preparação para todas as vertentes da vida dos nossos cidadãos.
Pensemos nesta frase de uma colega nossa que muito prezo: "os educadores de infância, no final do pré-escolar, acompanharam os seus alunos, em média, durante metade das suas (dos alunos) vidas. Não há outro docente, em mais nenhum nível, que passe tanto tempo com os seus alunos..."
A nossa responsabilidade é enorme. Mas temos de o saber demonstrar...
Por tudo isto, assumamos, de uma vez por todas, a importância do que fazemos. Sem nos escondermos atrás deste ou daquele "interesse". Porque, na realidade, quando "acordarmos", pode ser tarde demais (há por aí quem ache que a gestão do pré-escolas pelas autarquias seria uma "solução", mas conheço o suficiente da realidade do país para discordar completamente).
E não nos esqueçamos que, para as nossas crianças, somos um exemplo....
Pois que seja um exemplo de certeza, de definição e de frontalidade!