Supostamente, e pelo que indicam as sondagens, que são sempre uma forma legítima de exercer pressão, o candidato Cavaco Silva será o novo próximo Presidente da República de Portugal.
Infelizmente, e note-se que esta adjectivação não se prende com as características específicas deste ou de outro qualquer candidato, o que estes resultados parciais (sondagens) nos mostram é um país preocupado em mudar. E as mudanças, diz-se, são sempre fruto de uma dinâmica avaliativa e evolutiva. Quer isto dizer que os (e as) portugueses(as), ao fim de alguns meses de governo eleito claramente por eles mesmos, revelam alguma preocupação com o rumo que a governação política está a seguir e, desta forma (Presidenciais), preparam-se para seguir o princípio do “dividir para reinar” ou do “não pôr todos os ovos no mesmo cesto”.
O que possivelmente estes mesmos portugueses não sabem, porque ninguém lhes quer dizer de uma forma clara e concisa, começando por uma comunicação social que vem a desvirtuar a sua função de há tempos para cá, é que a opção Cavaco Silva será a mais hipótese mais próxima do que, teoricamente, contestam.
Por pontos: 1. Quando do surgimento do candidato Manuel Alegre, o PS, num esforço de aniquilação política, procura desesperadamente uma solução contrária a essa hipótese. Porquê?, porque o candidato Alegre apresenta-se como um contrapeso político, social e institucional à cada vez maior hegemonia da governação anti-social e europeísta, na qual os grandes desígnios políticos e económicos são ditados a partir de Bruxelas, bem como se apresenta, naturalmente, como um candidato contra o “establishment” que tem sido referido por todos os políticos (relembre-se quase todos os “slogans” das candidaturas legislativas) como causa do afastamento dos cidadãos da política e dos políticos.
2. O candidato ora cooptado pelo partido do poder, Mário Soares, mesmo depois de dizer “Basta!” (o que nos tinha satisfeito a todos), volta, pela mão de um primeiro-ministro que, confrontado com a opção Alegre, acredita sinceramente numa derrota deste, num confronto com o arqui-rival Cavaco Silva. E porque é que acredita? Porque sabe que os portugueses, hoje, num confronto directo entre os dois candidatos, e porque veêm os seus bolsos cada vez mais cheios de nada, procurarão uma imagem de rigor e seriedade que pensam ter vislumbrado entre 1985 e 1995, fruto de uma governação de ciclo bom, no qual o agora candidato construiu a sua imagem de homem e político sério (relembro aqui que outros presidentes do governo também tiveram esta imagem, nomeadamente antes do 25 de Abril). Logo, escolherão Cavaco Silva.
3. O candidato Cavaco Silva situa-se num espaço político onde, por natureza e ideologia, se situam os grandes princípios de governação do capital económico contra o capital social. Não será necessário um maior exercício do que o da análise dos investimentos do país entre a década atrás citada para entender isso. Nesse sentido, o candidato Cavaco Silva é o que, face à dinâmica política e económica escolhida pelo actual Governo, mais poderá viabilizar a governação deste. Por isso, a opção Soares em detrimento da solução Alegre, não é mais do que um calculado jogo de interesses devidamente reflectido no seio do actual Governo. Porque ninguém esperará que uma candidato que legitima a acção governativa em período de campanha eleitoral se posicione como um contrapoder ao longo do seu mandato, designadamente nas “grandes causas”, e mal por mal, ainda ninguém ouviu do candidato Soares a afirmação peremptória de que o actual governo governa bem.
Pelo exposto, não sendo adepto de nenhum dos ideários políticos expostos nesta campanha presidencial, sinto-me frustado quando, com um mínimo esforço, compreendo as faces por detrás das máscaras. Portugal não precisa de candidatos. Portugal precisa de decisores, mas não à custa de baixa política. A Política deveria ser a arte mais nobre!
12 de janeiro de 2006
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