Há dias assim.
Quando de repente nos apercebemos que vivemos num mundo "faz de conta", em que parece que todos estão a "tentar parecer que", o choque é ainda maior do que imaginamos vir a ter quando esse dia chegar.
Passámos esta semana mais um aniversário do 25 de Abril e sinto, com cada vez maior intensidade, que "faz de conta" que essa data significou alguma coisa para todos nós.
No nosso dia-a-dia, é cada vez mais evidente que os conceitos deram lugar a preconceitos, que a liberdade de afirmação deu lugar a liberdade de exclusão, que a liberdade de informação é agora liberdade de censura...
Poucos se lembrarão da alegria, do entusiasmo, da possibilidade de virmos, todos, a ser protagonistas de algo único e inolvidável. As correrias na Fonte Luminosa, os nossos braços no ar sem saber o seu significado, as gaivotas que voavam e, apesar disso, não nos provocavam inveja...
Alguns se lembrarão, outros, talvez a maioria, prefere "fazer de conta" que esqueceu. Não quer hipotecar o emprego, "já não tem vida para isso", é politicamente incorrecto, não é adequado.
No fundo, resignou-se a aceitar que, afinal, esse dia revelou um embuste, um "faz de conta" mascarado de vermelho e cravos.
Afinal, dizer o que se quer, fazer o que é melhor, lutar por um e por todos não é a solução.
Invejar o colega que se esforça, mas evitar o esforço, maltratar o próximo em defesa da solidariedade e violentar o outro numa amostra de cordialidade passaram, infelizmente, a ser o espaço comum da órbita de todos os portugueses.
Para quê mudar se é esse registo que nos evita pensar?
Quando o Presidente da República nos diz que, "se calhar" é melhor encontrar outras formas de comemorar o Dia da Liberdade, não podia estar mais certo: vamos comemorá-lo sim, mas acreditando nele.
Vamos comemorá-lo acreditando que é possível fazer melhor.
Que é possível entender-lhe o significado!
27 de abril de 2007
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