7 de novembro de 2010

Greves e outras formas de Luta...

Começo por referir, para que fique claro, que nunca fiz greve e não tenciono fazer.
E porque é que não faço greve?
Antes de mais, quero também esclarecer que considero que todas as formas de luta, se justificadas, são pertinentes e objectivam um resultado. Contudo, a minha análise face às greves é que são, globalmente, estratégias desadequadas.
E porquê?
Porque, acima de tudo, uma greve não consegue (não tem conseguido!) atingir os objectivos a que se propõe. Logo, é minha opinião que se devam encontrar outras formas de protesto.
Em três pontos tentarei esclarecer a minha posição:
1. Uma greve é uma paragem no trabalho que, quanto muito, beneficia patrões e Estado.
A cada paragem "geral", em termos de produtividade do país, fica em causa um valor aproximado de 0,01% do PIB (se a greve for bem sucedida). Uma paragem num "fim-de-semana prolongado" (ponte) atinge um valor próximo dos 0.1% do PIB.
Na prática, os portugueses "gostam" mais de uma boa "ponte" do que de uma greve. É a história que nos tem mostrado isso.
Ora, se a ideia é prejudicar o "Estado" (que somos todos nós!), façamos então mais "pontes".
Por outro lado, só na função pública, uma greve com uma média de 50% de "grevistas" faz o estado "economizar" 1M€! E o Governo (qualquer Governo!) agradece. Poupa e nem por isso tem de mudar políticas (ainda mais aquelas em que não pode mexer!)
Além de, como é sabido, uma greve significar, em média, menos 50€ nos bolsos do "grevista". A mim, esse dinheiro faz diferença.
2. Uma greve é, tendencialmente, um espaço de "manifestação" esgotado.
Veja-se, por exemplo, o caso de França (aumento da idade da reforma). Há mais de um mês que as greves se sucedem e se mantêm "em alta". Efeitos? Nenhuns.
A política social europeia "prefere" greves a alterar o seu caminho.
Como docente, dou ainda mais um exemplo: quantas greves do passado fizeram mudar políticas? Poucas ou nenhumas.
Dou exemplos: Greve e Manifestação contra a alteração do calendário escolar para o pré-escolar (nos dados do sindicato, 91% de adesão). Efeitos: continuamos com o calendário que foi, nessa altura, aprovado.
Greve e Manifestações de docentes contra a ADD (120 mil na rua, greves na ordem dos 80%). Efeitos: A ADD está aí, e em força.
Um pouco "mais longe": Greves e Manifestações contra a entrada de Portugal na CEE. Efeitos: agora somos todos "Europeus"!
3. Uma greve não mostra o "poder" dos trabalhadores.
A primeira vez que me "convocaram" para uma greve (há já alguns anos), perguntei o que poderíamos fazer (trabalhando numa escola, seria fundamental) para informar e esclarecer os utentes do espaço sobre as nossas razões. Para isso mostrei a disponibilidade de estar, na escola, todo o dia da paralisação, a informar e esclarecer os alunos e as famílias sobre os motivos da greve. Resposta de TODOS os colegas: "Estás maluco ou quê? Eu cá vou aproveitar para ficar em casa a corrigir testes!"
Por outro lado, as razões (aparentemente) são tantas para a greve que, na maior parte das vezes, nem são distinguidas por quem "vê" de fora o movimento.
Há uns anos, por ocasião dos plenários de educadores de infância (sobre o Calendário Escolar) sugeri, numa sala com mais de 400 profissionais que fossemos para um Centro Comercial, ao sábado, informar sobre as "nossas razões". Iam-me comendo vivo.
Desde aí tenho aceitado que, a melhor forma de agir colectivamente é fazendo-o de forma individual: votando esclarecido; colaborando com colegas e parceiros no sentido de, todos juntos, fazermos melhor no dia-a-dia; participando activamente nos fóruns e locais de reflexão sobre a nossa profissão; exigindo, das nossas chefias, qualidade e atenção e, além de tudo isso, intervindo activamente na nossa vida: quer exigindo qualidade, quer procurando a excelência.
Podem parecer palavras desadequadas e irrealistas, mas, infelizmente, se, entre nós, tivessemos durante os últimos 35 anos, procurado a Excelência naquilo que somos, que fazemos, que queremos, talvez a "Crise" não nos atingisse tão profundamente...
Mas, parafraseando (mais uma vez) o Edson Atayde: "A culpa de Portugal são os portugueses!"...
Por mim, estarei individualmente solidário com a Greve, mas estarei na escola, a explicar aos meus alunos porque é fundamental "intervir, exigir e manifestar"!
E já agora, seria interessante que todos nós reflectíssemos sobre os "objectivos" de uma greve.

(veja "Greve" na Wikipédia)