Temo que a "Rua" (aquela para onde as pessoas se dirigem, convencidas de que, assim, se farão ver e ouvir), não nos chega. Nunca nos chegou.
No passado dia 15 de setembro, lá estive. Na "Rua". Onde me senti bem e "fazendo parte".
Mas a "Rua", essa ideia de esperança e de revolta, não se traduz num espaço orientado, planeado, direcionado.
Essa "Rua" de que nos falam os comentadores, é, tão só, uma espécie de desafogo das nossas ânsias, dos nossos temores, das nossas incertezas.
Mudar implica "fazer o trabalho de casa". E, de preferência, em casa.
Mudar implica uma atitude refletida e séria de vontade de mudança.
E, ir "para a Rua" deve (tem de!) ser apenas o culminar de um processo muito individual de ação e reflexão.
Cada um de nós, em casa, deve questionar-se sobre o seu papel na mudança. Como é que eu quero educar os meus filhos? Como é que eu posso viver dentro das minhas possibilidades? Que trabalho é que eu quero desenvolver? De que forma é que as minhas escolhas individuais podem ser "motores de mudança"?
Estas (e muitas outras) são perguntas para as quais as respostas têm de ser encontradas. E, se necessário for, podem ser encontradas na "Rua", em comunhão com as respostas a todas as outras perguntas.
Mas, "ir para a Rua", sem respostas prévias, retira-nos o poder de mudança. Na realidade, a "Rua", esta "Rua" que, ultimamente nos tem entrado pela casa dentro (seja da Grécia, da Espanha ou mesmo de Portugal) não é a "resposta".
Mostra-nos alguma vontade, mostra-nos alguma disponibilidade, mas não nos mostra o essencial, o fundamental: para onde queremos nós ir?
Portugal (e os portugueses) tem-se caracterizado, desde o assomar da Casa de Bragança, como um país com pouca ou nenhuma capacidade de Planeamento a médio/longo prazo. Neste intervalo, só o Marquês (e de certa forma, "fugindo" à máxima enraizada na altura) conseguiu, num determinado contexto, "deixar condições para o futuro". Tudo o resto foi uma espécie de navegação à vista.
O nosso dia-a-dia mostra-nos que, individualmente, somos "bons trabalhadores", "obedientes", capazes", "determinados". Mas, infelizmente, esses que somos nós, são também aqueles que se mostram incapazes de manter a sua dignidade no seu local de trabalho. Que se revelam ignorantes e desconhecedores o q.b. para aceitarem, sem questionar, o modelo superiormente imposto.
As frases repisadas "sempre foi assim", "para quê mudar?" são, de certa forma, a evidência do que escrevo.
Mas é muito maior evidência o comportamento esguio e fugidio que cada português, no seu local de trabalho, na sua vida diária, assume, por forma a "não se chatear".
Não se quiseram "chatear" com a educação (presente) dos seus filhos. Não se quiseram "chatear" com as escolha dos seus representantes. Não se quiseram "chatear" com a sua participação ativa e cívica no seu futuro. Não se quiseram "chatear" com as opções que lhes foram limitadas...
Agora, não podemos estar à espera que a "Rua" chateie quem quer que seja.
Porque, na realidade, quem se deveria "chatear" com a "Rua", nem sequer se incomoda com os números, com os cartazes ou com os gritos...
Na realidade, "eles" sabem que não passa disso mesmo: de uma birra de fome, inconsequente e capaz de ser aplacada daqui a uns meses, em novos atos eleitorais, com a inauguração de uns quantos serviçoes de saúde, estradas e escolas...
Na realidade, sempre fomos assim. E continuaremos a sê-lo.
14 de outubro de 2012
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