Ao longo dos últimos vinte, trinta anos, a Escola (como espaço
institucional, organizativo, administrativo...) tem vindo a mudar a sua faceta
de construtura de conhecimento para uma estrutura homologadora de bem estar social.
Cresceram as ofertas educativas e sociais da escola, os espaços
escolares adaptaram-se novas exigências e até os docentes assumiram novos
papéis. A sociedade mudou e o aspeto da escola mudou com ela.
É até possível, atualmente, encontrar escolas onde até o jantar é
servido, carinhosamente, a todos aqueles alunos que, por uma ou outra razão,
não foram recolhidos pelos seus encarregados em "horário útil".
A Escola, tal como a conhecemos hoje, deixou de ser um espaço de
instrução e conhecimento para se transformar num espaço de solidariedade
social.
Os docentes têm, atualmente, diversas funções, que não apenas as
de ensinar e promover o conhecimento. Espera-se deles que sejam assistentes
sociais, psicólogos, médicos, enfermeiros e até polícias.
Os gestores escolares têm funções tão centradas na gestão e na
administração empresarial que, em muitos casos, transformaram,
inconscientemente, a educação em mercadoria transacionável, cujo "valor de
mercado" define o sucesso ou o insucesso das práticas educativas (muitas
vezes sem olhar a questões específicas, pessoais, locais e/ou sociais...).
Os cuidadores (vulgo assistentes, contínuos, técnicos...) chegam à
escola, na maior parte das vezes, com pouca ou nenhuma formação específica
(seja pedagógica ou apenas lúdica e didática), para responder a outras
necessidades, entretanto criadas (horários alargados, serviços complementares,
etc.)
Por tudo isto, a Escola tem vindo a mudar.
E, lenta e compassadamente, todos nós vamos aceitando estas
mudanças sem as questionar, sem as confrontar e, muitas vezes, sem refletir
nelas ou, ainda mais grave, sem perspetivar a médio ou a longo prazo as
alterações globais e definitivas que provocam na vida das comunidades.
Ao integrar e aceitar como "normais" as novas funções da
escola, acabamos por ser, mesmo que inconscientemente, responsáveis por alguns
dos efeitos negativos perniciosos dos tempos modernos.
É corrente ouvirmos (e por vezes dizermos) que a escola é, cada
vez mais, um espaço de educação e que a família deixou de o ser. Se entendermos
a palavra "educação" como um conjunto de pressupostos de convívio, de
responsabilidade, de respeito e de solidariedade social, essa não deveria ser a
função prioritária do sistema de formação de um país ou de uma comunidade.
Nesse sentido mais lato e abrangente, compete às famílias (e à
comunidade) educar. A natureza da escola é outra. A sua função primordial é
formar, instruir e transmitir o conhecimento.
Podemos sempre achar que reduzir o papel da escola à sua função
primária é negar a sua importância ou mesmo diminuir a sua condição. Contudo,
no conceito de instrução cabe, antes de mais, a função de criar cidadãos
interessados, participativos, solidários e envolvidos que sejam conhecedores do
seu património (cultural, artístico e criativo) e que respeitem os valores
sociais que servem de base às relações interpessoais e comunitárias.
Este é, atualmente, o desafio da escola e das comunidades: reacreditar
a Escola como espaço de preparação social e de divulgação do conhecimento é,
atualmente, o desafio a que temos (todos!) de responder. Pode parecer um chavão
reacionário. Mas basta perceber onde chegou a "vida na escola" para
percebermos que algo tem de mudar na escola e nas comunidades.
*texto publicado no Jornal "O Carrilhão", em 01 de fevereiro de 2019, na rubrica "Refletir Educação"
*texto publicado no Jornal "O Carrilhão", em 01 de fevereiro de 2019, na rubrica "Refletir Educação"