Não é fácil, em tempo de eleições, deixar de sentir aquele misto de descrédito, desespero e incapacidade de sentir esperança num futuro próximo.
Portugal é, na minha modesta opinião (e com culpa minha também) um país falhado no que ao envolvimento e participação cívica diz respeito.
Desde que me foi concedida a possibilidade de votar que aceitei esse dever como algo de muito sério e, desde sempre, assumi o compromisso de o honrar com a minha presença, na assembleia eleitoral, bem como com o meu voto, de avidamente validado e consciente.
Não obstante, como comecei por referir, chegados que estamos, mais uma vez, ao ato eleitoral que decidirá (?) politicamente os próximos quatro anos da ação governativa, não posso deixar de estar sem esperança no que ao que o futuro nos pode trazer...
E não será tanto por conta das "opções políticas" que qualquer governo escolherá (essas estão já descritas, ou não fosse a Grécia o melhor exemplo de capitulação e humilhação perpretada a um Estado soberano - independentemente das "culpas" que cada cidadão grego pudesse ter tido na situação económica "apresentada"), nem pela austeridade necessária para reequilibrar as "contas públicas", onde a desorganização tanto se deve às auto-estradas construídas pelos governos escolhidos por nós como aos automóveis franceses e alemães que as circulam com combustíveis ingleses e espanhóis que nós compramos...
A falta de esperança, portanto, não se deve tanto ao espectro de "oportunidades" com que os partidos políticos se apresentam a plebiscito; deve-se sobretudo à evidente incapacidade de cada um de nós escolher "outra coisa qualquer".
E, ao "escolhermos o mesmo de sempre", tornámo-nos reféns da causa e da consequência de uma mesma circunstância.
Porque o fazemos?
Talvez porque a nossa "cultura" cidadã (fruto da nossa educação), se tem revelado insuficiente para compreendermos, de facto, a implicação das escolhas individuais na organização do Estado que dizemos "exigir". No fundo, e rapidamente: quem paga os "benefícios" que exigimos? Nós, com os impostos que não pagamos?
Logo, uma das formas de sairmos deste ciclo que se repete ad eternum, talvez fosse pensando a Educação como um pilar essencial (mesmo fundamental) para a mudança.
Por tal, e não me escusando nunca, a votar, iniciarei o período de reflexão, que dentro de horas começa, com uma leitura atenta: "Pensar Educação" (edição Educa, com coordenação da Manuela Silva, recentemente chamado aos escaparates) que faz eco da iniciativa Pensar a Educação, Portugal 2015, na qual orgulhosamente participei como moderador.
Do livro, retiro, para já, a seguinte passagem: "Importa, também, reconhecer que, sobretudo na última década, professores e educadores foram sujeitos a uma notória desqualificação social, por parte da opinião pública, nomeadamente por efeito de sucessivas práticas da Administração e das medidas de política educativa adotadas pelos últimos governos. A este propósito, merece relevo o que tem ocorrido nos concursos de admissão e regras de colocação de pessoal docente, o congelamento da progressão nas carreiras, um sistema de avaliação sujeito a arbitrariedades e permissivo à prepotência das direções e a escassa ou nula participação de todos os atores na elaboração de projectos educativos e na gestão dos agrupamentos, designadamente quando estes últimos se tornaram grandes máquinas de gestão empresarial.
Por outro lado, presentemente, recai sobre os professores, individualmente considerados, uma carga burocrática desmesurada que asfixia a necessária criatividade e disponibilidade para a função docente propriamente dita e obriga a pesado fardo sobre a sua vida pessoal e familiar" (p. 45)
Em relação ao meu voto, a única certeza, neste momento, é que o depositarei na urna com uma escolha clara.
2 de outubro de 2015
Porque vou votar
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