A Escola - tal como a conhecemos e sobre a qual construímos conhecimento - existe porque adveio de um modelo social específico - o da Revolução Industrial - onde existiam necessidades sociais únicas e era fundamental criar mão de obra especializada nos processos produtivos.
Hoje, a sociedade que conhecemos e os processos de aprendizagem e conhecimento (bem como os conteúdos pertinentes) mudaram.
As necessidades sociais são outras, os esquemas de produção e de geração de riqueza baseiam-se em outros instrumentos e procedimentos e o conhecimento prático e conceptual é uma exigência.
Mas a Escola, aquela que frequentamos hoje, para a qual caminhamos diariamente, mantém as lógicas e dinâmicas daquela que a Revolução Industrial fez nascer.
E isso torna o processo educativo difícil. Complicado. Esgotante.
Há quem diga que a Escola está a mudar.
Mas talvez seja porque as mudanças que assistimos em todos os mezzo e macro sistemas (organizações sociais e políticas, estruturas empresariais, e outra) a obriga a fazê-lo.
E porque é "obrigada" pelas condições exteriores, a Escola (e os seus profissionais) não refletem, de facto, sobre o caminho de mudança...
Para agravar, dentro da Escola, quem lá está, recusa-se a operar mudanças. porque estas lhes podem afetar a "segurança", o "know-how" que julgam ter e, sobretudo, os processos de liderança (que, neste caso, se deveriam chamar "processos de Mandança").
Por outro lado, as famílias tornam-se mais conscientes dos desafios e dificuldades (inclusive com a "boa educação" que sentem que os filhos não têm) e tendem a ser mais "observadoras" dos processos educativos formais (claro que estou a falar numa perspetiva macro), mas, de alguma forma, continua a faltar informação pertinente.
Ora, tudo isto junto deixa-nos sentados num barril de pólvora: a autoridade (e não autoritarismo) docente começa a ser posto em causa (mesmo nos processos organizacionais internos - repare-se como há
cada vez mais docentes a "contestar" direções, a "fazer o contrário", etc. -) e isso acabará por levar a uma espécie de caos onde ninguém sabe, ao certo, para onde quer ir...
Para acabar, não posso deixar de referir o óbvio: inundam-nos de informações, formações e pseudo-formações "inovadoras" e "vanguardistas" para falar de "salas de aula de futuro" mas fazem-no em salas preparadas para o passado, com as inenarráveis disposições de secretarias em filas, o "professor" sobre o estrado, e os conteúdos devidamente "preparados" para mais fácil doutrinação, apontando, inconscientemente, para a mesma escola de sempre.
Roubei esta frase a um amigo, e fi-lo sem autorização (mas ele não se importará) porque define muito bem o que estamos a passar na Escola: "o foco do sistema de ensino na rotinação, disciplina cega e a autofagia dos exames, em que o conhecimento e aprendizagem são totalmente direcionadas para o desempenho na métrica do momento de avaliação, não dão resposta ao tipo de competências que os nossos alunos vão precisar para viver, sobreviver e serem competitivos no seu futuro."
No final disto tudo fica a dúvida: o que fazer entre o que as "crianças sabem" e o que os adultos querem que ela saiba?...