“Quem chamou BRINCAR ao viver do miúdo foi o adulto. O miúdo, de tão demasiado ocupado a viver, nunca de tal palavra se lembraria”
Na Antiguidade Grega, “escola” queria dizer loisir, tempo suficiente para se fazer o que é agradável e “professor” queria dizer mestre de jogo.
Se olharmos agora para a sociedade em que vivemos, sentimos como urgente e necessário que ela “aprenda a jogar” antes de querer aplicar e “impor” as suas perspectivas e intenções sobre a função do jogo.
A braços com o falso problema do insucesso escolar, a instituição escolar e as famílias não têm sabido estudar profundamente a natureza lúdica das crianças – o brincar.
A educação, dita formal, tem sido concebida segundo o modelo produtivo do adulto, interpretando os miúdos não segundo a natureza destes mas procurando torná-los “animais sábios”. Por outro lado, deparamo-nos actualmente com diferentes condicionalismos, sociais e laborais, que têm reduzido, em tempo e em espaço, a conviviabilidade entre os elementos da família.
A actividade lúdica (brincar) e a situação de jogo, levadas a cabo pela criança constituem forças inesgotáveis nos mais diferentes domínios: No domínio da interacção mãe/filho facilita e satisfaz as necessidades dos contactos, dos afectos, dos sorrisos, dos reforços positivos; No domínio cognitivo ajuda a criança a desenvolver as capacidades de abstracção, simbolização, imaginação e criatividade, assim como possibilita o exercício da concentração e memorização; No domínio da linguagem possibilita a aquisição de novos conceitos e palavras, desenvolve capacidades de percepção, nomeação e verbalização, aumenta capacidades linguísticas (fonéticas, fonológicas, semânticas, sintacto/morfológicas); No domínio da socialização possibilita a interacção, facilita a assimilação da noção de grupo, promove capacidades de ouvinte activo, desenvolve potencialidades de interiorização e cumprimento de regras. E estas são apenas algumas das vantagens…
Voltando então à questão do sucesso/insucesso escolar, implica referir o papel que a actividade lúdica e o jogo têm no desenvolvimento da criança. Aspectos da motivação, da disponibilidade para a aprendizagem e o relacionamento são reforçados através das dinâmicas do jogo e do brincar, e, acima de tudo, do papel indiscutivelmente importante da família e do educador/professor na sua promoção.
É à família que compete ensinar à criança os laços de uma relação afectiva, de suporte e protecção, estável e equilibrada. A Escola tem função técnica, pedagógica e educativa, consciente e conhecedora da sua acção, e que se constitui como um elemento facilitador do processo de interacção, articulado e contínuo, entre criança e a sua família.
Mas é fundamental que o adulto, seja o familiar ou o professor, através da sua presença activa, dinâmica e colaborante, contribua, directa ou indirectamente, para o enriquecimento da actividade lúdica e das situações de jogo, assim como promova a construção do mundo mágico, fantasioso, imaginativo e criativo da criança potenciando as suas capacidades pessoais e sociais.
A brincar chegamos lá.
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1 comentário:
Brincar é coisa séria, sem dúvida. Só tenho pena das crianças que, infelizmente não estão "autorizadas" a brincar...
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