22 de setembro de 2008

Planificações, projectos, programas e mais "tralha" para fazer pior o que já não fazemos muito bem...

(este post é uma síntese de uma conversa com duas colegas, bastante enriquecedora e útil. A elas o meu obrigado)

Agora que (re)começamos a nossa actividade lectiva (para todos aqueles que possam ler isto e sejam não docentes, eu regressei ao trabalho no dia 26 de Agosto, e ainda não parei!), surgem também as (eventualmente) necessárias solicitações de planos, programas, projectos e tudo o mais.
Já tive a oportunidade de reflectir algumas das ideias que me assistem, em outros tópicos anteriores, mas quero dedicar este, especificamente, à educação de infância.
Surgem-nos, agora, as necessidades de "fichas de diagnóstico" e às "planificações", com vista à preparação do processo de avaliação docente.
Em relação às primeira, apesar de reconhecer que é um trabalho de muita importância, continuo a achar que, por mais que façamos muitas fichas de observação, de diagnóstico e de caracterização, estaremos sempre longe do que deveríamos.
Sobre algumas das fichas de avaliação diagnóstica/caracterização que tenho visto "por aí", urge dizer o seguinte: apesar de concordar inteiramente com o facto de termos de evidenciar o nosso trabalho, e ser pertinente e fundamental para a nossa prática possuir informação fidedigna, continuo a achar que podemos transformarmo-nos em nossos próprios reféns, pois, ao considerar um conjunto tão grande de "habilidades" para avaliar/observar, incorremos no risco de termos de passar duas horas por dia a "observar" se determinada criança faz ou não aquelas coisas...
No fundo, saber (aferir, neste caso) se aquela criança é capaz de enfiar uma "linha numa agulha" é pouco determinante para saber se ela é capaz de utilizar essa competência quando para isso for requisitada.
Ou seja, o que, para mim é importante avaliar é a capacidade de cada criança saber utilizar os conhecimentos para responder a desafios. Por exemplo, nós podemos criar uma "habilidade" que seja, por exemplo: "domina o rato do computador...", mas isso não nos diz nada sobre a competência dessa mesma criança sobre o saber interagir com o computador através desse periférico, nem da sua capacidade de reagir a estímulos ou de, positivamente, moderar capazmente a coordenação óculo-manual necessária para definir uma determinada resposta... (terei sido claro???)
Além de que, no caso da educação de infância, se quisermos "analisar" as crianças recém chegadas pelo óculo escolar (que é como quem diz, pelos programas, projectos, planos e outros que produzimos incessantemente, às vezes sem pensar neles, repetindo-os à exaustão) então teremos o problema acrescido de considerar que "as famílias falharam no seu papel de educadores!" (que é o que muito boa gente já anda a querer fazer).
Por outro lado, ao definirmos (tantos) comportamentos admissíveis de ser observados, quase que retiramos "prazer" à aprendizagem, pois corremos o perigo de começar a "fazer" as coisas aos nossos meninos só para obtermos resultados para nós...
Posso parecer um pouco "bruto" nesta análise, mas não é a minha intenção.
Em relação aos documentos de Planificação, é importante que os docentes tenham a acapacidade de prever e antever os desafios da sua prática lectiva, bem como as orientações globais da sua estratégia pedagógica, contudo espero que não confundam os documentos que produzem como uma "tábua rasa" ou como Bíblia.
Todas as planificações são esquemas conceptuais muito interessantes, mas não se pode ficar por aí, pois a Educação de Infância é a base da pirâmide da educação e, por isso, haverá sempre muitos outros conteúdos e áreas a explorar, e não apenas os discriminados nas ditas Planificações.
Ao limitar apenas algumas (e mesmo assim muitas) "áreas de intervenção" estaremos sempre a fechar a porta a outros, e, por exemplo, as TIC estão, cada vez mais, a assumir protagonismo na escola.
Ora, se nos esquecermos disso (por exemplo, nas planificações não basta pôr "Utilização das TIC") então, continuaremos a cavar o fosso entre educação de infância e Educação, e entre Educação e Desenvolvimento (nestas áreas que nos "falham" constantemente, lembro, por exemplo, as "ciências" ligadas ao ambiente/energias renováveis, ou à biotecnlogia, ou à genética, que assumirão, brevemente, um espaço importante na formação do Cidadão, e que já podemos "encontrar" nas discussões sobre OGM - Organismos Geneticamente Modificados).
Por outro lado, e porque nos esquecemos sempre que as planificações deverão obedecer sempre à lógica de que são desenvolvidas para dar respostas aos alunos, é bom que tenhamos em atenção que os objectivos que pretendemos desenvolver e capacitar terão de ser objectivos preconizados nesse âmbito, ou seja, que serão para ser atingidos pelos alunos/crianças, e não pelos docentes (o que costuma ser um erro crasso e comum em muitas das planificações que leio).
Será que me fiz entender?
Resta-me desejar um bom trabalho e um excelente Ano Lectivo!

11 de setembro de 2008

Autonomias...

O que é isto da Autonomia???. É um conceito complexo de entender.
E sinto que a coisa vai ficar, cada vez, mais preta. Por um lado, o ME quer dar às escolas e professores autonomia, por outro, as escolas e os professores não a querem receber. A desculpa, invariavelmente, é que "esta" autonomia implica receber menos dinheiro, e, logo, ter menos capacidade de “fazer coisas”.
Mas isso é uma falsa questão.
E é essa a ideia que nos vendem e que nós, sem querer e sem saber (ou seja, sem ler!) aceitamos como única.
Mas, desculpem-me a intrusão, o que o termo “autonomia” (em educação) pressupõe é que as escolas persigam objectivos de Qualidade, e que vivam disso!.
Estamos constantemente importar modelos do estrangeiro, maior parte das vezes sem os testarmos ou conhecermos bem, mas eis um exemplo simples que pode pôr algumas cabeças a pensar:
Na Suécia, por exemplo, ao nível do Secundário as escolas são, efectivamente, autónomas, quase como colégios privados. Não nos podemos esquecer, contudo, que o país está dividido em regiões administrativas (“län, em sueco”) e que cada região é competente em termos educacionais, desde, é claro, que respeite as orientações nacionais.
Nesse país, cada escola "especializou-se" numa área ou num conteúdo específico (sem menosprezar todos os outros. Por exemplo, estive, Falun (na região de Dalarna) onde, no ano anterior à minha estadia, tinham tido lugar os Jogos Olímpicos de Inverno.
Toda a cidade construiu espaços e equipamentos de raiz: desportivos, sociais, culturais, residenciais, etc. Neste caso concreto, a escola secundária ficou a "tomar" conta de alguns dos espaços e equipamentos, com competência para os rentabilizar no pressuposto educativo. O que acabou por acontecer é que, a escola secundária de Falun funciona, actualmente, como uma espécie de Universidade de desporto de nível secundário, tendo-se especializado, por exemplo, na formação de atletas mas também de técnicos desportivos e outros agentes do desporto. Alguns dos melhores (e actuais) campeões da Suécia fazem (ou fizeram) o ensino secundário lá...
Claro está que este tipo de escola tem muitos apoios: de marcas desportivas, de empresas desportivas, de entidades estatais...
Mas, assim é possível atingir alguma autonomia, quanto muito porque os resultados obtidos com a formação e a educação convertem-se em créditos financeiros capazes de suportar investimentos globais (da Escola).
Paralelamente, os “gestores” são equipas constituídas por docentes, não docentes e gestores profissionais (em Conselhos Directivos que têm até cinco pessoas).
Comparativamente, em Portugal, queixamo-nos do estado mas depois queremos ser dependentes do Estado!!!!
Não sei se será só receio da mudança.
Hoje ao almoço uma colega minha dizia que "Cada vez há menos Professores e cada vez há mais Técnicos de Educação", pode parecer rebuscado, mas é mesmo isto. Há cada vez mais pessoas (nem me digno a chamar-lhes professores) para quem dar uma aula é "seguir o que está no manual"...
E são estas “pessoas” que nós temos eleito para os Conselhos Executivos…
No fundo, a culpa é (também) nossa, individual e colectivamente.
A nossa história mostra-nos que, como cidadãos, optamos pela opção de “não nos querermos envolver", ou "isso é para os outros", mas depois acabámos por escolher os mais incompetentes.
E não só os que são mais incompetentes na gestão da "coisa pública" como os incompetentes na Sala de Aula (que nós pensámos que era melhor retirar da sala, a bem das crianças)...
Pensemos um bocadinho nisto, agora que se aproximam as “nomeações” dos Directores.