8 de abril de 2009

Legitimidades...

Há quem defenda que a eleição legitima.
Concordo em absoluto.
Ao sermos eleitos, normalmente por um conjunto de ideias e/ou pessoas, devemos, em primeira análise, representar essas mesmas ideias e/ou pessoas.
É este espaço de representatividade (que alguns diriam democrática) que deve presidir aos nossos actos, acções e mesmo omissões enquanto elementos eleitos.
Sinto, por vezes, que não é bem assim.
Quando votamos (e não devemos esquecer-nos, nunca, que é pelo processo eleitoral que somos legitimados) estamos a escolher um representante da nossa voz e das nossas reflexões.
De mesma forma que os eleitos não deverão, nunca, esquecer que são representantes de uma determindada forma de ver, ouvir e pensar...
É difícil?
É, sem dúvida!
Acresce ao facto de que um representante deve, em última análise, fidelidade ao órgão que representa e, no caso de ser eleito entre um conjunto de outros representantes, fidelidade à entidade que representa.
Mas, na minha modesta opinião, deve, passados todos estes graus de ligitimidade e fidelização (ou obediência), representar, antes de mais, o sentir e o pensar individual de cada um dos que o escolheu como representante.
A isto chamam alguns "opinion makers" (designadamente os que vêm da área da Gestão Empresarial) a "consciência colectiva". Quer isto dizer que o eleito deve, nunca esquecendo a sua particularidade e individualidae, decidir em função de um espaço médio de análise e reflexão do grupo/entidade que o elegeu.
Nesta lógica, os deputados (que, em minha opinião até são muitos!) deveriam, malgrado as opiniões contrárias, nomeadamente as que são impostas pelos partidos políticos que representam, "votar em consciência" e que essa consciência fosse a que lhes fosse ditada pela tal "média" que lhes fosse demonstrada.
Porque é que tal não acontece?
Em primeiro lugar, quer-me parecer que esta história da "democracia representativa" é apenas um embuste.
Em segundo lugar, os ditos representantes são, demasiadas vezes, reféns dum certo tipo de "status quo" com que a eleição os brindou.
Não bastas vezes, ou esquecem quem representam ou, e esta é para mim, a principal razão, os que os elegeram não se manifestam de forma constante e preocupada.
Por último, apesar de nos exibirmos bastantes vezes como "dignos representantes do espaço democrático herdado do 25 de Abril", o que é facto é que nos nossos momentos diários somos, nós próprios avessos a participar.
No dia-a-dia, nas mais breves situações, nos nossos locais de trabalho e/ou residência somos impelidos a "participar democraticamente". Temos as assembleias de condomínio, as assembleias dos clubes locais, as assembleias de freguesia, ou mesmo, em termos profissionais, as assembleias das associações representativas. Também temos, se fizermos apelo aos que, nas suas actividades profissionais se regem por elas, as reuniões e assembleias gerais...
Mas tudo isto não é mais do que um exemplo de dinâmicas falhadas.
Somos capazes de reclamar sobre a luz da escada que está fundida há alguns dias, de reclamar sobre os buracos no passeio de acesso a nossa casa, de maldizer o Presidente do órgão sindical porque "não nos defende" cabalmente.
Mas, para além das manifestações de intenção ou da vontade de "fazer-algo-que-nunca-deixa-de-ser-apenas-vontade", em que nos transformamos numa massa disforme e desumanizada, quando é que participamos mesmo?
Quando é que escrevemos uma reclamação, interpelamos um eleito em sede própria ou, em última análise, abdicamos do nosso espaço próximo de conforto para "trabalhar em prol da comunidade"?
E melhor, quando é que aceitamos ser confrontados, claramente, com as nossas escolhas e opiniões?
Infelizmente, nessses momentos, o cinismo e o receio próprio de quem teme vem ao de cima. E são mais aqueles que optam por esfumar-se e aninhar-se do que os que levantam a cabeça e procuram o confronto de ideias.
Mas todos temos culpa. Ora por não nos "darmos ao trabalho", ora por não nos dignarmos a "representar o outros"...
Valia a pena penasr nisto!

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