26 de outubro de 2011

Nasci aqui, mas não sou daqui...

Têm sido mais os dias de desencanto que o contrário.
Dia após dia, tento convencer-me que é possível. Que é possível fazer mais e melhor. Que é possível, através de um esforço individual, contribuir para um espaço coletivo melhor.
Ainda há pouco comentava que, mesmo em termos profissionais, aquela ideia (que temos todos!) de que é possível "mudar o mundo", vai desvanecendo, lentamente, até desaparecer envolta numa bruma de desconsolo e angústia. De impotência.
Lembro-me, quando iniciei, do meu gosto por "provocar" reações. Por destabilizar o status quo...
Lembro-me, num dos primeiros dias de atividade profisional, já lá vão 20 anos, de um comentário de uma colega, mais velha, que me dizia: "não podes andar por aí a correr e a brincar com os miúdos, senão, qualquer dia, temos os pais deles a acusar-nos (aos outros, entenda-se!) de que não corremos também!..."
Lembro-me dessa frase me ter ficado na memória como uma lição de vida: essa seria uma frase que eu nunca diria na vida!
Lembro-me também de muitas "discussões" (eu prefiro o termo "reflexões") sobre o papel e o modelo do docente como instrumento facilitador e formador. A importância de "dizer" obrigado e "se faz favor", a importância de não confundir o "pessoal" e o "profissional", não descurando, contudo, que, na profissão que escolhi, o "que sou" é determinante para a qualidade do "que faço".
Ao longo destes anos de prática profissional já recebi muitos prémios e recomendações, já fui avaliado (formalmente) muitas vezes e sempre com um elevado grau de distinção. Sou, frequentemente, convidado para participar em eventos, no país e no estrangeiro onde se espera que eu partilhe as minhas práticas e formas de fazer. Envolvo-me em atividades comunitárias e profissionais (em associações, em projetos de desenvolvimento social, etc.) e contribuo, pessoal e profissionalmente, para o bem comum.
Tenho uma história de participação cívica e solidária que fala por mim. Sou alvo de elogios que não peço e não recompenso...
Mas, se alguém "precisa" de falar de mim (normalmente para se "elevar"), conta sempre uma história mais "ao seu jeito", e aí, esquecendo-se que fui nomeado ou designado, que fui eleito ou escolhido, que fui convidado ou indicado, prefere sempre denegrir e prejudicar...
Não. Não arranjei problemas em "todos os sítios por onde passei" (tenho até orgulho de continuar a receber convites para lá voltar!). Não, não "entrei em conflito nas associações e com os sindicatos" (apenas reparei, como muitas outras pessoas, que essas entidades estão pejadas de pessoas que lhes alteram, para pior, os desígnios!). Não, não sou "egoísta e invejoso" (partilho, distribuo, dou, faço "por" e ofereço-me muito facilmente!). Não, não sou "mau educador" (um Bom - no tempo do Dec.-Lei11/98, um Excelente neste modelo de ADD, uma nomeação para o Prémio Professor do Ano e muitos convites para apresentar a minha prática em encontros nacionais e internacionais mostram o contrário!). Não, não sou individualista: acredito na força do grupo e bato-me, inquestionavelmente por algo muito maior do que o meu "lugarzinho de educador"...
Mas, se não me sinto feliz é, de certeza, porque nasci no espaço e no tempo errado.
Não. Não devo ser português.
Apenas estou a sofrer na pele por algo que fiz de muito mau noutra encarnação.
E, por mais que tente ser imune a isso, sofro com a mesquinhez de que sou vítima. E sofro muito!

21 de outubro de 2011

O aprender...

O Aprender não é algo que eu faça se não estiver a fazer alguma coisa.
E. Wenger

Esta frase passou-me hoje à frente e fez todo o sentido. Se não estiver envolvido, se não participar, se não escolher conscientemente, não aprendo.
Esta frase, e uma outra referida, há dias, por uma amiga, do Mário Henrique Leiria ("Uma nêspera/estava na cama/deitada/muito calada/a ver o que acontecia..."), tiveram aquele efeito explosivo defazer tremer o mundo.
Se a estas coincidências acrescentarmos o fato de o mundo político/económico estar a atravessar tempos de instabilidade e incerteza, que, sem qualquer tipo de dúvida, se abaterá (se já não se abateu) sobre todos nós, então, a consistência da linha de reflexão transforma numa silogia o meu estado atual: "se não nos mexemos, não aprendemos. Se não aprendemos, morremos...".
Logo...
Assim estamos!

7 de outubro de 2011

Porque será que somos assim?

Numa época em que andamos (todos, sem exeção!) a falar (e a pensar) em crise, em problemas, em constrangimentos, não consigo perceber porque razão não tentamos, de forma clara, direta e definitiva, diminuir, consideravelmente, as dificuldades que nós próprios criamos.
Às vezes julgo que, de certa forma, andamos todos a brincar.
Andamos todos a fingir que "é melhor assim"!
Hoje, mais uma vez, testemunhei um desses exemplos.
Numa daquelas reuniões que sabemos serem desnecessárias, e apenas realizadas por uma espécie de "desejo inexplicado de poder dizer que não (ou que sim)" de quem as promove, estiveram quinze tristes figuras que se submetem a este exercício de "fingimento" profissional e no qual são compelidas a acreditar que estão a fazer algo sério e importante.
Mas pior ainda é quando, também induzidos por uma outra "vontade" estranha (mas muito real) de "mostrar trabalho", se põem a tentar concretizar efabulações documentais e bibliográficas, na forma de "mais documentos e fichas" que terão, provavelmente, uma função despicienda e até contranatura...
E gostam! E, apesar de, em outros fóruns e espaços proclamarem, alto e em bom som que "a educação está, cada vez mais, administrativa e menos pedagógica", acabam por, desta forma, torná-la ainda mais Kafkiana e desprezível.
Por favor: Parem!
Parem de fazer de conta que se preocupam e preiocupem-se mesmo!
O nosso futuro agradece.
Não é complicando que sairemos da crise em que nos metemos. É simplificando.
Precisamos de sair deste ciclo de baixa produtividade-burocracia-corrupção-baixa produtividade. A baixa produtividade e a burocracia estão, diretamente, nas nossas mãos evitar. A currupção também é possível, porque, "quando um não quer, dois não discutem!".
Sejamos honesto.
Mantenhamos o "discurso" próximo da ação e vice-versa.
E simplifiquemos: mais papéis não significam melhor competência nem melhoria da qualidade!
Sejamos sérios! Todos os dias!