21 de junho de 2011

Colectivo

colectivo (èt) (latim collectivus, -a, -um , recolhido)  
adj. 
1. Que forma colectividade! ou provém dela. 
2. Que pertence a muitos.

Porquê Colectivo?
Assaltam-me, muitas vezes, as "razões" das nossas dificuldades. Das nossas dificuldades enquanto Povo, enquanto País, enquanto Nação...
Muitos são (e, possivelmente eu serei um mais) aqueles que, através de escritos, reflexões, sugestões ou apenas "estados de alma" têm manifestado, de forma mais ou menos pública, as "razões das dificuldades", a "origem da crise".
Por mim, além de muitas das opiniões me merecerem crédito e respeito, sinto como causa maior a inexistência de um verdadeiro espírito de solidariedade. De uma verdadeira "consciência colectiva"* que nos impede, que nos atrasa, que nos dificulta o crescimento.
Na escola, não educamos os nossos alunos (e futuros cidadãos e líderes de pleno direito) para um "espírito" colaborativo, colectivista, associativo.
Desde cedo os "manipulamos", criando (às vezes) pequenas barreiras que, de forma inconsciente, molda o comportamento individual de forma a desvalorizar o colectivo.
Porque será que o "sucesso educativo" é, tendencialmente individual?
Porque razão a competitividade (tão presente no "sistema escolar e educativo") individualista é a "fonte" do progresso académico?
Se formos sérios, e nos quisermos interrogar sobre estes conceitos, chegaremos, depressa, à conclusão de que a nossa base identitária é egoísta, individualista e narcisista.
Se pensarmos, por exemplo, nos critérios de avaliação que usamos para atribuir "valor" às aprendizagens dos alunos, identificaremos, facilmente, que os seus resultados conjunturais, apesar de existirem alguns preceitos globalizadores, "vivem" do modelo comparativo do sucesso individual, acima de qualquer outro.
Quantos indicadores comportamentais e cognitivos do "pensar global" estão presentes nos modelos de avaliação da escola portuguesa?
Que valor tem, efectivamente, nas "pautas" avaliativas, o comportamento solidário, a percepção do conjunto, a participação cívica, a colaboração, a cooperação?...
Bem sei que, quase como uma "moda", muitos docentes apelam a esses "valores", incluindo-os nos seus próprios "esquemas" avaliativos. Mas o que faz o "Estado"? Valoriza o resultado individual sobre a percepção do conhecimento (através das fichas de avaliação, exames nacionais, etc.).
E, se refiro "percepção do conhecimento", faço-o conscientemente, pois analisando a estrutura avaliativa em uso na escola, não podemos falar mais do que uma percepção do conhecimento, pois a forma como a avaliação está organizada, não permitindo a evidência multi-cognitiva, determina uma avaliação perceptiva e não consubstanciada na competência e no saber-fazer.
Não é fácil mudar os esquemas de avaliação. Admito.
Mas, a dificuldade não reside no processo em si. Reside, muito mais, nos seus actores.
Chegados que estamos ao final de mais um ano lectivo, começam a observar-se as evidências do que atrás referi.
Quando os docentes (e sem querer generalizar) começam a ultimar os espaços e os modos de reconhecimento da aprendizagem dos seus alunos, invariavelmente o que farão será o reconhecimento da sua "competência técnica" enquanto educadores.
Já aqui o escrevi, por exemplo, que a grande confusão que existe entre "objectivos de aprendizagem" e "competências" é um dos grandes males da Educação.
Tendo por exemplo "o uso dos computadores na educação" (área em que me sinto mais confortável), detenhamo-nos neste exemplo: o docente refere que o aluno "utiliza o rato do computador de forma adequada e consciente". Este é o seu objectivo, plasmado no "resultado" de avaliação final.
Mas, o que me interessará saber é se o aluno em questão "sabe usar o rato do computador de forma adequada e contextualizada e se, à falta deste, conseguirá responder positivamente à tarefa que o corporiza". Ou seja, correr e saltar todos nós sabemos fazer, a questão é saber se o conseguimos fazer quando e como for conveniente...
E deveria ser isso que teríamos de avaliar.
Como é que se explica, por exemplo, que um aluno que desenvolve blogues, software educativo ou instrumentos tecnológicos em casa, não seja mais do que um "razoável" aluno na "aula" de informática?
Não é fácil destinguir os "objectivos" do docente das "competências" a adquirir pelos seus alunos e é esta, talvez, a razão da tal falta de espírito colectivo de que falava.
Ora, se o docente apresenta os "seus" resultados individuais como base do conhecimento esperado dos seus alunos, mais não estará a fazer do que a penalizaro objectivo último da educação: o desenvolvimento social e comunitário!
E, infelizmente, este modelo cognitivo está para durar.
Alguns exemplos: que "moral" terão os docentes que trabalham de "porta fechada", esquecendo todo o contexto social e cultural da escola, para "desenvolver competências de formação colaborativa e colectiva"? Que "moral terão os Agrupamentos de Escolas para falar de "cidadania" e "cooperação" quando se fecham em si, guiados por normativos "superiores" que impedem a sua efectiva intervenção local? Que "moral" terá o Estado para exigir participação cívica dos seus cidadãos quando os exemplos que dá (desde os "fundos" que servem interesses particulares e privados até aos "maus" exemplos de utilização dos orçamentos públicos), ou mesmo a "confusão organizativa" dos seus serviços (vulgo burocracia) penalizam os cidadãos mais do que os "envolvem". E, numa perspectiva ainda mais individualizada, que exemplo dá o professor que, acabado de sair de uma reunião que perspectivou a "acção geral", opta por fazer, inversamente ao decidido, o seu percurso individual, apenas porque "se sente mais confortável e a mudança custa"?
Pode até parecer rebuscado e sem qualquer ligação, mas estes exemplos serão poucos, se nos quisermos, realmente, deter no que eles ilustram.
Infelizmente, todos nós, portugueses, temos vindo a esquecer que o país somos nós. Todos!
Um último exemplo: estando eu a conversar junto à escola com um encarregado de educação, reparei num papel branco, evidente e notório, que teria caído à frente da porta de entrada. Enquanto conversava, atravessaram a porta três docentes, duas assistentes e seis alunos. Sabem quem se dobrou para apanhar o papel e o pôr numa papeleira?
Eu, quando terminei de conversar com o encarregado de educação e me dirigi à escola.
Pergunta: será tão difícil, de forma (in)consciente e integrada, desenvolver comportamentos colectivos e colectivistas?
Talvez... Não sei. Mas a Escola não tem ajudado!


*Émile Durkheim

5 de junho de 2011

E agora?...

Pois é.
Há dias, dizia eu numa conversa informal com colegas, que a "mudança" esperada (em termos eleitorais) iria acontecer, com um resultado expressivo do PSD. Negaram-mo os meus amigos.
Que não iria acontecer, que o Pedro Passos Coelho não iria conseguir....
Eu estava convicto, apenas por uma razão: os portugueses, tendencialmente, são conservadores. Mas, apesar disso, decidiram (a esta hora é o que as previsões dizem) apostar num neoliberal para os guiar nos próximos tempos.
Acredito, sinceramente, que a maior vitória do Presidente do PSD é interna: os "barões" e os "instalados" não vão gostar.
Mas também acredito que vamos ver, mesmo, a mudança, quando os "boys" do PS forem substituídos pelos "boys" do PSD.
Antes da apresentação do programa eleitoral, foram muitas as afirmações do PSD "contra" os "inumeráveis institutos públicos, fundações e Direcções-gerais", e que "seriam fechados"...
No programa eleitoral, apenas uma referência à constituição de uma equipa que "fará a análise sobre os que possam ser pertinentes"...
Este é um exemplo da mudança que nos espera.
Tenho pena.
Mas, para que fique claro e que não haja dúvidas: eu não votei no PSD.
E, sinceramente, não acredito numa efectiva mudança com estas pessoas.
Mas, se tal for possível, serei dos primeiros a reconhecê-lo.
Parabéns aos vencedores. E porque precisam de todos nós: estarei disponível: no meu dia-a-dia, na minha prática pessoal e profissional, na minha atitude solidária e colectiva.
Façamos todos os mesmo!
O país precisa!