23 de janeiro de 2012

Poupar... Ou talvez não.

Nestes últimos dias tenho (por força das inúmeras notícias que tenho ouvido, lido, comentado...) refletido seriamente sobre o conceito (e o problema!) de Poupança (ou, por outras palavras, de Crise!).
Nestes dias de cada vez mais austeridade (ou será autoridade?), uma das ideias chave é a necessidade de poupança, aliada à necessidade imperiosa de "gastar menos".
Ouvimo-lo, diariamente, nas mais variadas situações, mas, como acaba pos ser normal, não prestamos a atenção exigível, nem sequer fazemos um esforço de compreensão do que nos pedem.
O enfoque que nos é dado pelo Estado (através dos seus - nossos - representantes eleitos) é de que a imagem de poupança surge associada à necessidade de: a) cortar nas despesas; b) diminuir custos supérfluos; c) readequar os custos e d) produzir mais (e, acrescento eu, melhor!).
De todas as estratégias que têm sido apresentadas, é notório uma quase "culpabilização" da "máquina do Estado" como fator decisivo do crescente endividamento do setor público e administrativo do país.
Não nego.
É, por demais evidente, que é o Estado quem paga o desenvolvimento.
Mas valeria a pena parar para analisar alguns dados:
1. As despesas que fizeram disparar, nos últimos anos, a despesa do Estado são, quase todas, despesas de desenvolvimento. Nestas despesas de desenvolvimento, surgem, à cabeça, as Parcerias Público Privadas (PPP). Se quisermos um maior enfoque, as PPP são, fundamentalmente, oriundas dos ministérios da Defesa, Economia, dos Transportes e Obras Públicas e da Saúde. Nestas (como é óbvio!), surgem à cabeça a construção de estradas, de hospitais e de "investimento estrangeiro", e, a cereja no topo do bolo, a compra de submarinos.
Para não entrar em pormenores, detenho-me apenas na estradas: que país do tamanho do nosso tem três auto-estradas que ligam as duas principais estradas do país, autoestradas que ligam eixos centrais a cidades(?) com menos de 20 mil habitantes e, não menos importante, que país europeu tem 86% das suas autoestradas numa faixa longitudinal de 20km?
2. É comum"culpar-se" os funcionários públicos do "gasto" excessivo do estado (volto a não negar!), mas, é interessante "escalpelizar" estas afirmações. Os funcionários públicos (fp) (imensos, não nego novamente!) representam uma despesa fixa de cerca de 27% das despesas do Estado. Ou seja, pouco mais de um quarto. Destes, 13% representam quadros intermédios e superiores. De entre os quadros médios e superiores, cerca de 40% correspondem a cargos de chefias...
Ora, depois destes dados, não será essencial a pergunta: para quê tantos chefes?
3. Por último, e ainda na perspetiva da despesa, é ainda pertinente fazer algumas perguntas: se os fp são tão "gastadores" e se "não produzem", porque razão é tão fundamental a corrida aos "jobs" que, após cada eleição, se verifica? Será porque os tais "fp" que não produzem são aqueles que apenas "vivem" dos favores e benesses que o Estado concede, como os "abonos suplementares" tão em voga neste início de ano? Se assim é, penso que é chegada a hora de, com os meios que nos são acometidos, fazer alguma coisa.
É indigno que eu, enquanto funcionário público, seja "confundido" com os lorpas e parasitas que por aí vegetam.
E a forma de mostrar a indignação não passa, no meu entender, por todas aquelas "sugestões" do costume, em que "as eleições", "os sindicatos" e "a vida" surgem (não por esta ordem) como "formas de agir".
A ação deve (tem de) ser localizada e contínua: nos nossos locais de trabalho, mostrando aos pares a nossa razão; nos nossos locais de trabalho, reforçando a razão dos nossos pares; nos nossos locais de trabalho, refletindo sobre o que fazemos e porque fazemos e, consequentemente, recusando o que nos é imposto sem justificação; nos nossos locais de trabalho, unindo e não dividindo; nos nossos locais de trabalho, colaborando e cooperando e, por fim, nos nossos locais de trabalho, justificando, individualmente, a confiança que nos foi depositada por todos aqueles que necessitam de um Estado forte: ou seja, as pessoas!
Podem estas palavras parecer irrelevantes, mas acredito que, se cada um de nós as refletir seriamente, encontrará a razão da sua existência, até porque enquanto "assobiarmos" para o lado ou projetarmos no "vizinho" as nossas frustrações (ou, em português legítimo, a nossa "dor de cotovelo"), nunca deixaremos de "gastar"...
Experimentem!

13 de janeiro de 2012

Um novo ano, muitas dificuldades mas algumas certezas...

Hoje tenho andado a interrogar-me sobre o "porquê" das nossas decisões.
O desafio do Doutoramento foi, à partida, um desafio pessoal, aceite inquestionavelmente por ser (ou representar!), acima de tudo, um passo no caminho do conhecimento pessoal, social e cultural.
A escolha do tema mais geral (vulgo especialidade), a escolha da Universidade, a escolha das caraterísticas e condicionantes foi ditada pelo que admiti serem as que melhor me responderiam em termos pessoais e profissionais.
Não obstante as dúvidas, é claro que as certezas que advieram da reflexão permanente são suficientemente fortes para serem seguidas.
Mas, neste momento, questiono tudo.
Que país é este que, pura e simplesmente despreza o conhecimento, o esforço, o mérito?...
Que país é este em que, para se ter sucesso (pessoal, profissional, social...) é mais importante participar num programa de televisão de duvidosa qualidade do que investir nas suas competências pessoais e profissionais e lutar, diariamente, por "fazer a diferença", aumentando, de forma consciente, a qualidade palpável da sua praxis?
Que país é este que apela à imigração?
Questiono e duvido de tudo.
Para além do auto-prazer de investir no conhecimento, para que me servirá investir no conhecimento?
Se a resposta for: "Emigra!", peço-vos, desde já, desculpa, mas, por defeito de educação sempre acreditei que se muda fazendo. Dando o peito às balas...
Ficando.
Não fugindo!