9 de março de 2013

Irritações

Quando me detenho a pensar naquilo que me faz tão "odiado" pelos meus pares, não encontro justificações sérias e credíveis do ponto de vista forma, profissional e até mesmo académico e curricular.
Mas é um facto de que sinto, na maior parte das vezes, e fora daquele que será, estou em crer, o "grupo de conforto", constituído por aqueles que me conhecem realmente, que me acompanham, com quem partilho (e que comigo partilham!) sensibilidades, formas de Ser e de Estar, um desconforto imenso por me sentir uma espécie de "alvo a abater".
Muitas razões haveria que, provavelmente, justificariam a forma como a maior parte dos meus colegas me vêem.
A "ameaça" que para eles represento, ao sugerir a reflexão, a ação refletida, a posição assumida.
Muitos exemplos haveria para clarificar a atitude.
Mas detenho-me, hoje, numa daquelas que me faz impressão (acima de todas as outras). A hipocrisia pedagógica.
Ontem recebi, na escola, um comercial de uma empresa de software para a infância.
Mostrava ele um conjunto de materiais que, teoricamente, se destinam às crianças e jovens do pré-escolar e do primeiro ciclo.
A ideia, segundo ele, seria que os docentes "promovessem", junto dos encarregados de educação e famílias as "possibilidades concedidas pelos materiais...".
De sublinhar que o referido comercial chegou à escola com "indicação" superior, ou seja, o órgão dirigente não só "autorizou" como "aconselhou" o material.
No decorrer da apresentação, ficou claro a fraca qualidade do material, a sua desadequação legal e pedagógica. A inconsistência e os erros pedagógicos apresentados.
Ao ter referido tal facto e ao me ter recusado a "promover" aquele material, logo fui "siderado" pelos colegas presentes.
Posteriormente fiquei a saber que teria sido o único a recusar tal desiderato (o de "promover" o referido material).
Fi-lo por princípio e por acreditar, sinceramente, que só com uma atitude de exigência constante podemos, enquanto nação, chegar a algum lado.
Nas mais pequenas coisas.
Mas parece que é isso que me "contestam": acreditar que a "culpa" é de todos nós, ao não fazermos, no nosso espaço individual, o que a nossa consciência nos diz que devemos fazer.
Não tenho "medo" de me opor a uma directiva superior se não acredito (consubstanciadamente!) nela.
E ficarei à espera de qualquer penalização que daí advenha: porque me baterei até ao fim naquilo em que acredito!
Mas não posso voltar a sentir-me como um médico que recebe um qualquer delegado de informação médica que lhe sugere, por "iniciativa" do dirigente superior, que o sumo de limão é o medicamento indicado para o cancro no cólon...
Não tenho interesse em ser "amado" por todos, mas gostava mesmo de não ter que estar sempre a sentir que sou um alvo a abateri.
E o que mais me irrita são as pessoas "nim"...

1 comentário:

voo do tapete disse...

Na verdade, H., muitas vezes e a propósito das mais variadas situações/acontecimentos temos conversado, pensado alto, "partido pedra" sobre uma razão plausível para estas enigmáticas e, aos nossos olhos - faço a ressalva - incongruentes posturas de, entre pares, as pessoas terem tanta dificuldade de assumir as coisas até ao fim, mesmo quando essas coisas acontecem em sede de órgãos oficiais de funcionamento das estruturas, e por votações com unanimidade! Pasme-se!... Adiante!

Se queres que te diga, no teu caso, essa sensação recorrente que tens, de seres "alvo a abater" por parte desses pares, tem como motivação principal a chamada e antiga dor de cotovelo, ponto. E se, há uns tempos atrás, eu teria algum "pudor" em "chamar os bois pelos nomes" - e digo "bois" porque, se dissesse o nome correspondente, em função do género, seria com certeza mal interpretada, (mas que me apetecia escrevê-lo, ai! não duvides disso nem um segundo! Adiante!...

Dizia-te eu que é dor de cotovelo pura e dura!

Porque barafustar, estrebuchar e outras manifestações do género são, infelizmente e cada vez mais, confundidas pelas pessoas (e se pensarmos que são docentes até assusta que assim seja!!!!) com ser assertivo, ser objetivo, ser fundamentado quando se dá opinião e, porque se reflete nas coisas por opção pedagógica quotidiana, se mantém essa opinião, quando se acha que se tem razão, mesmo "contra" a tal hierarquia que hoje-em-dia nos é apresentada (e se apresenta...) como o papão contra o qual não se pode levantar a voz, nem dizer não, nem dizer discordo e não vou por aí, para mim não é assim que a coisa funciona...

Podia continuar, mas para já chega. Beijo grande e volto a dizer-te aqui o que sempre te digo: dares importância a essas atitudes é mera perda de tempo. E graças a Deus (e a ti!) que tu tens muita coisa que fazer na vida e sempre mais interesses e coisas novas que queres fazer acontecer... e muitos projetos válidos com a tua assinatura!
Por isso pára de te desgastar com gente e atitudes tontas e sem qualquer valor.

Beijo
Ana França