De uma forma geral, quem “passa a vida” à volta das questões de Educação, seja
a praticá-la, a refleti-la ou, pura e simplesmente, a criticá-la, assume, quase
sempre, a atitude egocêntrica de quem acha que, por ter estudado, por ter
investido na sua formação (sobretudo académica) e por ter dedicado uma parte
importante da sua vida a “ser exemplo”, é, de alguma forma, “diferente”.
Normalmente não discute o que de menos bem pode,
ocasionalmente, fazer, nem assume que uma vida de “ensinagem” não significa, de
fato, uma efetiva aprendizagem. Dele e dos “outros”.
Tende a achar que é “o melhor modelo” e que, poucos (ou
quase nenhuns) compreendem a dedicação, a competência, o envolvimento e,
sobretudo, a capacidade de “fazer”.
Dedica parte do seu tempo a evidenciar (ou a tentar) a sua “imensa
qualidade” e, regra geral, aceita pouco uma sugestão e/ou crítica.
E porque sente que “o mundo está contra si”, acaba por se
fechar numa cápsula protetora, de onde não sai nem quer sair.
Acaba por trilhar caminhos paralelos, sem que nunca, mas
nunca mesmo, esses caminhos se cruzem com outras práticas, com outras
experiências, com outras vivências. E assim, de ponto em ponto, lá vai
construindo uma linha reta sem tropeções, sem cruzamentos e, sobretudo, sem
problemas.
Por vezes, pára para pensar. E, quando pensa, chega à
conclusão que os outros estão errados. Que o “outro” é pouco interessante e que
lhe traz pouco de bom. Quando pensa, descobre que “já fez”, “já sabe” ou “já
experimentou”.
De novo ou inovador pouco o “outro” lhe pode trazer.
Dá-se o caso, por vezes, que o “outro” ser uma criança. Um “aluno”
sedento de aprender, de conhecer, de transformar experiências vividas em
aprendizagens significativas.
E o “outro”, por vezes, também é o “colega da porta do lado”,
que mesmo não sabendo tanto e com tanta profundidade, tem, pelo menos, o dom e
a capacidade de olhar. De ver e compreender que, por vezes, os caminhos não são
em linha reta.
Estamos tão certos e seguros do que fazemos, que nos
esquecemos de que, bem mais importante, é “sermos”. E “sermos” significa, acima
de tudo, ter a capacidade e humildade de nos abrirmos ao outro. De ouvir, de
escutar, de compreender a razão, a experiência, a dedicação, o conhecimento, a
prática do “outro”.
Mas, de tão centrado nele próprio, o que “passa a vida” à
volta das questões de Educação acaba por perder a possibilidade de ser abraçado
e apoiado pelo “outro”. Perde a possibilidade de fazer melhor e de forma mais
fácil. Acaba angustiado por não receber o abraço que não dá.
Um dia, todos nós, “que passamos a vida” à volta da Educação,
vamos perceber que o que nos fez perder o pé foi a falta de empatia pelo “outro”.
Foi a incapacidade de reconhecermos a centralidade do outro na nossa vida e na
nossa ação. E, nesse dia, vamos ser capazes de reconhecer o mérito do outro
(porque é também nosso); vamos reconhecer a qualidade do outro (porque é também
a nossa!); vamos ser capazes de agradecer ao outro (mesmo que nos tenha
assustado e desequilibrado) porque nos tornou mais fortes e resilientes.
Um dia, vamos ser capazes de reconhecer as boas práticas do
outro porque serão elas o fundamento das nossas ótimas práticas.
Um dia saberemos que o melhor modelo é aquele em que, mais
do que colaborarmos e cooperarmos, temos espaço para SER. E para partilhar o
que em nós é único para que sirva a muitos outros.
Um dia…