8 de março de 2019

PELO “OUTRO”…


De uma forma geral, quem “passa a vida” à volta das questões de Educação, seja a praticá-la, a refleti-la ou, pura e simplesmente, a criticá-la, assume, quase sempre, a atitude egocêntrica de quem acha que, por ter estudado, por ter investido na sua formação (sobretudo académica) e por ter dedicado uma parte importante da sua vida a “ser exemplo”, é, de alguma forma, “diferente”.

Normalmente não discute o que de menos bem pode, ocasionalmente, fazer, nem assume que uma vida de “ensinagem” não significa, de fato, uma efetiva aprendizagem. Dele e dos “outros”.
Tende a achar que é “o melhor modelo” e que, poucos (ou quase nenhuns) compreendem a dedicação, a competência, o envolvimento e, sobretudo, a capacidade de “fazer”.

Dedica parte do seu tempo a evidenciar (ou a tentar) a sua “imensa qualidade” e, regra geral, aceita pouco uma sugestão e/ou crítica.

E porque sente que “o mundo está contra si”, acaba por se fechar numa cápsula protetora, de onde não sai nem quer sair.

Acaba por trilhar caminhos paralelos, sem que nunca, mas nunca mesmo, esses caminhos se cruzem com outras práticas, com outras experiências, com outras vivências. E assim, de ponto em ponto, lá vai construindo uma linha reta sem tropeções, sem cruzamentos e, sobretudo, sem problemas.
Por vezes, pára para pensar. E, quando pensa, chega à conclusão que os outros estão errados. Que o “outro” é pouco interessante e que lhe traz pouco de bom. Quando pensa, descobre que “já fez”, “já sabe” ou “já experimentou”.

De novo ou inovador pouco o “outro” lhe pode trazer.
Dá-se o caso, por vezes, que o “outro” ser uma criança. Um “aluno” sedento de aprender, de conhecer, de transformar experiências vividas em aprendizagens significativas.

E o “outro”, por vezes, também é o “colega da porta do lado”, que mesmo não sabendo tanto e com tanta profundidade, tem, pelo menos, o dom e a capacidade de olhar. De ver e compreender que, por vezes, os caminhos não são em linha reta.
Estamos tão certos e seguros do que fazemos, que nos esquecemos de que, bem mais importante, é “sermos”. E “sermos” significa, acima de tudo, ter a capacidade e humildade de nos abrirmos ao outro. De ouvir, de escutar, de compreender a razão, a experiência, a dedicação, o conhecimento, a prática do “outro”.

Mas, de tão centrado nele próprio, o que “passa a vida” à volta das questões de Educação acaba por perder a possibilidade de ser abraçado e apoiado pelo “outro”. Perde a possibilidade de fazer melhor e de forma mais fácil. Acaba angustiado por não receber o abraço que não dá.
Um dia, todos nós, “que passamos a vida” à volta da Educação, vamos perceber que o que nos fez perder o pé foi a falta de empatia pelo “outro”. Foi a incapacidade de reconhecermos a centralidade do outro na nossa vida e na nossa ação. E, nesse dia, vamos ser capazes de reconhecer o mérito do outro (porque é também nosso); vamos reconhecer a qualidade do outro (porque é também a nossa!); vamos ser capazes de agradecer ao outro (mesmo que nos tenha assustado e desequilibrado) porque nos tornou mais fortes e resilientes.

Um dia, vamos ser capazes de reconhecer as boas práticas do outro porque serão elas o fundamento das nossas ótimas práticas.

Um dia saberemos que o melhor modelo é aquele em que, mais do que colaborarmos e cooperarmos, temos espaço para SER. E para partilhar o que em nós é único para que sirva a muitos outros.

Um dia…



 
 
  

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