2 de maio de 2007

"Há bons professores...."

Confesso que esta expressão me causa, por vezes, alguma urticária.
Admito o uso, normal e contextualizado, mas, infelizmente, esta expressão é usada em contextos condicionadores da actividade docente.
Invariavelmente, tem surgido em conversas de e para professores.
Senão vejamos: quando, num grupo de professores que discutem as propostas, alterações, teses e demais iniciativas sobre a vida (pessoal e profissional) dos docentes, e quando algum dos participantes incorre na apresentação de justificações para as mudanças e intenções de mudança, há sempre alguém que afirma: "Não podes dizer isso assim, como em outras profissões, há bons e maus professores....". Outro exemplo da inclusão desta constatação num discurso elaborado é, por exemplo, quando se discutem as condições exteriores à Escola, do género: "Há bons professores que, mesmo sem condições na sua escola, fazem um bom trabalho". Se ouvirmos um encarregado de educação que, satisfeito com a actividade docente do seu educando, apregoa loas à capacidade dos docentes, invariavelmente vamos ouvi-lo dizer: "O meu filho tem um bom professor a....".
Por último, e não menos importante, quando a Sra. Ministra da Educação pretende distinguir a capacidade de superação de algum dos seus "funcionários", exemplarmente afirma "...os bons professores...".
Voltando à razão da primeira frase, passo a justificar-me: se um qualquer mecânico aperta mal uma porca num rotor de um qualquer mecanismo, e este deixa de funcionar, o pior que pode acontecer é ter de dedicar uma horas mais a consertar a avaria provocada. Se um funcionário das finanças, com cara de poucos amigos, confunde uma qualquer declaração de impostos, terá de, na pior das hipóteses, corrigir o erro. Quando um bancário regista erradamente um cheque (ou o seu valor) ficará, sem dúvida, umas horas mais no trabalho a tentar descobrir o erro, e, por último, quando um bibliotecário se engana a arrumar um qualquer livro, possivelmente terá de o dar por perdido.
Mas em qualquer destas situações, a solução não provocará um maior mal ao mundo, e, infelizmente, em alguns casos, nem terão de ser confrontados com os seus erros. Quanto muito, dormirão menos umas horas e, depois de um bom banho, será passado.
Mas com um professor é diferente.
Os nossos erros, visíveis ou invisiveis, necessariamente, produzirão efeitos graves ao longo do tempo. A nossa "massa" de trabalho são os homens e mulheres que, se nós errarmos, terão como consequência os seus próprios erros. O professor não pode passar "mais umas horas" a reparar o erro, porque, na maior parte das vezes, nem sequer dele tem consciência.
Somos modelo de comportamento, de organização, de posicionamento social, de sentido ético e profissional, de estrutura moral, de competência profissional...
Somos trabalhadores especializados de alto rendimento e com formação de alto nível. Somos responsáveis, preocupados, coerentes, dedicados e conscientes.
Não podemos (ou não devemos) errar.
Por tudo isto, ser "Bom professor" é redundante.
Quanto muito, seremos pouco envolvidos, pouco preocupados, poucos consciemtes, mas recuso-me a admitir que existam professores que, por oposição aos Bons, sejam Maus!
Não há maus professores. Existe em cada um de nós uma centelha de esperança de que podemos mudar o mundo, e só isso basta para que nunca sejamos maus!
Mas, e em jeito de conclusão, se acharmos que outros, como nós, podem ainda melhorar, é da nossa responsabilidade partilharmos, envolver-nos e, como um todo, crescermos pessoal e profissionalmente, não invejando, não "deixando para trás" e não criticando, quando isso é o menos importante!

1 comentário:

sandra disse...

Poucos percebem a guilhotina que temos sobre a cabeça diariamente. Um passo em falso e...já está! Rótulo aplicado! Ainda assim, é isso que nos move e permite que, como em poucas profissões, haja uma preocupação diária com a necessidade do aperfeiçoamento.