27 de maio de 2007

"Arrefecer"...

Eu sei (já ouço isso há tanto tempo!) que tenho de "dar tempo ao tempo", que tenho de "arrefecer", que tenho de "ser maior do que...", eu sei tudo isso. Mas também sei que este desgaste constante me deixa saturado e que me tira o tempo de atenção e dedicação que quero entregar àqueles que o merecem.
Por vezes, tenho uma réstia de esperança que os nossos pares entendam a seriedade que é a educação de infância. Eu nunca frequentei um Jardim-de-infância (a minha mãe tratou disso, ao ter quatro filhos!) mas sei, por experiência própria, que aquilo que sou, aquilo que procuro ser, é resultado directo desses magníficos anos de experimentação, de descoberta, de liberdade, de prazer...
A educação de infância é uma coisa séria. Tão séria que não a concebo numa perspectiva de "trabalho".
Avaliar, devolver o nosso trabalho à prática é, para mim, uma questão de honra.
E quando compreendo que estou no caminho errado, sou o primeiro a querer mudar.
Mas quando tenho indicações, que normalmente me chegam através de incentivos vários, dos alunos, de colegas, de familiares de alunos e até mesmo dos amigos e dos meus familiares, sinto-me bem, e sinto que estou no bom caminho daquilo que defini como objectivo de vida.
Mas também sou o primeiro a sentir-me vencido quando "a má moeda afasta a boa moeda" (para parafrasear o nosso Presidente da República) e não há muito a fazer.
Sei bem que algumas das reflexões, ideias e práticas do meu “background profissional” assustam e levam a que algumas pessoas "cerrem fileiras" e que, tenham uma posição pesada de negação da realidade.
Custa-me isso, principalmente porque compreendo que a minha atitude muito contribuirá para esse “fechar da concha”.
Mas apesar de saber que essa minha atitude, por vezes de confronto, é causadora de mal-estar, por vezes de inveja e, quase sempre de despeito, acabo por não estar preparado para o pior, pois tenho uma constante vontade de que essa atitude sirva para ajudar e melhorar, e não para complicar.
E o pior são sempre os tempos de “confusão” que vêm com essa complicação. De trocas azedas de ideias, de desconfianças, de terrorismo intelectual.
Essa vida consome-me. Esgota-me.
É consciente da minha parte que no modelo de educação de infância que escolhi, a participação e a acção das famílias é fundamental, que sou um modelo constante de acção, que o empreendorismo, a correcta atitude cívica e o desenvolvimento integral da criança passa por uma atitude reflexiva, cuidada e envolvida do adulto e do educador.
E, acima de tudo, que este saiba ver, em cada criança, um potencial livre pensador e não como um carneiro de um enorme rebanho. Pintar, desenhar, escrever, falar ou criar não é, não deve ser, uma obrigação com hora marcada, mas um prazer, uma honra e, acima de tudo, um orgulho.
Mas, infelizmente, quando olho à volta, sinto que não é assim.
Preciso constantemente de um confronto útil e livre, onde todas as ideias são aproveitadas. Infelizmente, há grupos profissionais que têm medo desse confronto. Não me compete saber porquê, nem de que têm medo.
Mas pelo menos, deveriam conseguir reflecti-lo.
Em nome da Qualidade. De toda a Qualidade!

19 de maio de 2007

Medo de quê?

Medo de quê?
Esta pergunta aflora-me constantemente e em todos os momentos do dia. Cada vez mais agimos como se estivessemos tementes a um qualquer efeito decorrente, directamente , da nossa prática.
É-me absolutamente incompreensível a gestão do medo. Como a fazemos, como dela nos tornamos dependentes, como dela ficamos reféns...
Deixamos de ser audazes e responsáveis por uma maior(?) vontade temerária. Responsabilizamos, acusamos, ocultamos, e acabamos enredados numa teia claustrofóbica que nos obriga a perder o Norte, a duvidar do que sempre aceitámos como garantido, a mudar (e por vezes mal) para opções de vida em que deixamos de ser donos dos nossos destinos.
Mas o pior de tudo é quando esse medo é causa e efeito de mudanças práticas na nossa cultura de vida, de trabalho e até mesmo de amizade.
Temos medo de ser avaliados (quando o somos a todos os minutos), temos medo de avaliar e confrontar (quando a nossa vida é um processo de avaliação contínua de escolhas), temos medo dos efeitos da avaliação (quando serão esses mesmos efeitos que nos libertarão, ou não, dos grilhões da incompetência)...
De que temos medo afinal?
De nos tornarmos melhores, de aprendermos mais, de partilhar o que sabemos????!!!
Até quando viveremos sem enfrentar os nossos medos?

16 de maio de 2007

Coisas bonitas...


Espero que passe...

É verdade. Espero mesmo que passe!
Há dias assim. Por mais que tente afastar-me das situações de conflito, por mais que tente compreender o que lhes dá razão e o que as motiva, de forma a, se não evitar, ter, pelo menos uma atitude positiva, é difícil alhear-me delas completamente.
E todos os dias elas aí estão, a consumir-nos, a debelar-nos, a fustigar-nos...
Seria tão melhor que não nos prendessemos com coisas pequenas, comezinhas, inúteis...
Claro que posso sempre gritar, manifestar-me, revoltar-me, atingir culpados e inocentes, mas será que essa minha atitude me trará paz para me centrar naquilo que verdadeiramente importa?
Acho que não.
Talvez o melhor seja mesmo esperar que uma tal "ordem natural" acabe por reparar e cicratizar os problemas.
Mas que cansa, lá isso cansa!

2 de maio de 2007

"Há bons professores...."

Confesso que esta expressão me causa, por vezes, alguma urticária.
Admito o uso, normal e contextualizado, mas, infelizmente, esta expressão é usada em contextos condicionadores da actividade docente.
Invariavelmente, tem surgido em conversas de e para professores.
Senão vejamos: quando, num grupo de professores que discutem as propostas, alterações, teses e demais iniciativas sobre a vida (pessoal e profissional) dos docentes, e quando algum dos participantes incorre na apresentação de justificações para as mudanças e intenções de mudança, há sempre alguém que afirma: "Não podes dizer isso assim, como em outras profissões, há bons e maus professores....". Outro exemplo da inclusão desta constatação num discurso elaborado é, por exemplo, quando se discutem as condições exteriores à Escola, do género: "Há bons professores que, mesmo sem condições na sua escola, fazem um bom trabalho". Se ouvirmos um encarregado de educação que, satisfeito com a actividade docente do seu educando, apregoa loas à capacidade dos docentes, invariavelmente vamos ouvi-lo dizer: "O meu filho tem um bom professor a....".
Por último, e não menos importante, quando a Sra. Ministra da Educação pretende distinguir a capacidade de superação de algum dos seus "funcionários", exemplarmente afirma "...os bons professores...".
Voltando à razão da primeira frase, passo a justificar-me: se um qualquer mecânico aperta mal uma porca num rotor de um qualquer mecanismo, e este deixa de funcionar, o pior que pode acontecer é ter de dedicar uma horas mais a consertar a avaria provocada. Se um funcionário das finanças, com cara de poucos amigos, confunde uma qualquer declaração de impostos, terá de, na pior das hipóteses, corrigir o erro. Quando um bancário regista erradamente um cheque (ou o seu valor) ficará, sem dúvida, umas horas mais no trabalho a tentar descobrir o erro, e, por último, quando um bibliotecário se engana a arrumar um qualquer livro, possivelmente terá de o dar por perdido.
Mas em qualquer destas situações, a solução não provocará um maior mal ao mundo, e, infelizmente, em alguns casos, nem terão de ser confrontados com os seus erros. Quanto muito, dormirão menos umas horas e, depois de um bom banho, será passado.
Mas com um professor é diferente.
Os nossos erros, visíveis ou invisiveis, necessariamente, produzirão efeitos graves ao longo do tempo. A nossa "massa" de trabalho são os homens e mulheres que, se nós errarmos, terão como consequência os seus próprios erros. O professor não pode passar "mais umas horas" a reparar o erro, porque, na maior parte das vezes, nem sequer dele tem consciência.
Somos modelo de comportamento, de organização, de posicionamento social, de sentido ético e profissional, de estrutura moral, de competência profissional...
Somos trabalhadores especializados de alto rendimento e com formação de alto nível. Somos responsáveis, preocupados, coerentes, dedicados e conscientes.
Não podemos (ou não devemos) errar.
Por tudo isto, ser "Bom professor" é redundante.
Quanto muito, seremos pouco envolvidos, pouco preocupados, poucos consciemtes, mas recuso-me a admitir que existam professores que, por oposição aos Bons, sejam Maus!
Não há maus professores. Existe em cada um de nós uma centelha de esperança de que podemos mudar o mundo, e só isso basta para que nunca sejamos maus!
Mas, e em jeito de conclusão, se acharmos que outros, como nós, podem ainda melhorar, é da nossa responsabilidade partilharmos, envolver-nos e, como um todo, crescermos pessoal e profissionalmente, não invejando, não "deixando para trás" e não criticando, quando isso é o menos importante!