1 de abril de 2008

A Identidade da Escola. Reflexões sobre uma reflexão

Mais uma vez, e nem sempre pelas melhores razões, a televisão pública dedica um programa de (pelo menos pretende-se que assim seja) grande audiência à escola (ou, neste caso, aos seus problemas!)
O mote foi a Indisciplina, ou no dizer do seu subtítulo: a Perda da Autoridade.
Mais uma vez, assisti a um debate interessante, mas que, invariavelmente, reteve muito ruído sobre a Educação. Nomeadamente para aqueles que (ou porque querem, ou porque os obrigam), estão fora do espaço proximal da relação educativa profissionalizada e ética, ou seja, todos aqueles que não estão, directamente, ligados à Escola.
Falou-se de muita(s) coisa(s), umas com maior e melhor direccionalidade e assertividade, outras com menor acuidade e proporcionalidade, mas falou-se. Isso sim. Falou-se!
E das muitas coisas que se disseram, uma delas, quase em jeito de conclusão, retive com maior empenho: falta à Escola (ou seja, às escolas) uma Identidade.
Concordo inteiramente. Também concordo que, como foi dito, parte desta Identidade nasce com uma liderança forte, com um projecto devidamente planeado e incorporado nas práticas, com um espaço de reflexão e compromisso entre todos os envolvidos e, sobretudo, com autonomia para o fazer.
E não falo de autonomia legal, económica e/ou financeira.
Falo, isso sim, de autonomia social, ética e cívica.
Mas, dessa, não estamos preparados para falar.
Retive também, nesse aspecto da autonomia que se precisa, que, casos como o da Escola da Ponte, ou do Agrupamento de Escolas de Vialonga, são considerados casos de sucesso, invejados e aplaudidos, plagiados ou citados.
Portanto, pergunto-me: se casos como este são (foram) possíveis de desenvolver (e deles obter sucesso) como referido, com a legislação em vigor, com as condicionantes que todos nós repetimos à exaustão (colocação de professores, desinteresse ministerial, condicionalismos sociais, etc., etc.) e com as pessoas (professores, alunos, famílias, etc.), porque é que estamos sempre a criticar a legislação, os sucessivos governos, as condições "deploráveis"?
Parece-me, neste caso, que se alguns foram capazes de fazer omoletes com os ovos que têm, então o problema não são os ovos nem a frigideira. Talvez seja do cozinheiro.
Por outro lado, e em outra pergunta: se todos nós reconhecemos que a sociedade está em mudança, que as crianças e jovens são "educadas pela televisão", não nos caberá a nós, pais e professores, chamarmos a responsabilidade desse facto? Não será competência nossa assumirmos o "controlo" das nossas vidas e as das gerações futuras?
Quanto a mim, apesar de se falar da televisão, penso como muito mais importante "olharmos" para a nova relação cognitiva (em rede), dependente de um conjunto complexo de novas formas de conhecer e compreender, instrumentalizadas (?) por um novo meio de comunicação de massas, mas eficaz e mais "presente" (a Internet) e, enquanto pais e professores, enfrentarmos, com segurança e consciência da sua pertinenência e adequabilidade a um "novo Mundo", esta nova relação social e geracional.
É que, também a este nível (autoridade Vs. disciplina), a certeza do Saber é um eficaz instrumento de respeito e liderança. Ou seja, continuar a ignorar a evidência é desprestigiante e, acima de tudo, redefine a hierarquia vigente.
No fundo, o que se conclui é que, para se ser respeitado (e, necessariamente, aceite como Líder e Autoridade) é imperioso que se Conheça (saiba, compreenda, aceite, reflicta, etc.).
Não necessariamente para se Saber Muito, mas para se Saber do quê (do que se fala, do que trata, do que é...)!

P.S. Sobre isto (e talvez por isso este post-scriptum), como formador na área das chamadas TIC, continuo a não compreender nem respeitar que, apesar de, nas nossas escolas se assistir a um quase completo estado de "analfabetismo funcional" (Ponte, J. P. (1998). Novas tecnologias, novos desafios na formação de professores. In A sociedade de informação na escola (pp. 171-176). Lisboa: Conselho Nacional de Educação) por parte de um dos importantes parceiros da educação - professores -, cursos como os por mim ministrados (e com acreditação pelo CCFCP e "organizados" pelo CRIE) não se realizem por "falta de formandos". É triste!

1 comentário:

Anónimo disse...

concordo plenamente!!!
Basicamente o que se tem feito é criticar os outros,sendo assim muito mais fácil para certos educandos e até professores não terem de sentir o peso da responsabilidade do desenvolvimento desequilibrado que alicerçamos aos nossos de "palmo e meio".
Não podemos pensar que só a forma de vida dos adultos se vai alterando. Há que reflectir sobre as constantes adaptações que uma criança sofre na sociedade,no dia-a-dia. Assim,admitamos de uma vez por todas que a sociedade no geral todos os dias se modifica,se adapta...ou seja, ninguém é culpado nem inocente. Estamos aqui para educar,para ter crianças na sociedade, e não homens revoltados contra tudo e todos.Mas se pensarmos um pouco,é isso que estamos a proporcionar.Não nos esqueçamos que somos sempre o modelo de uma criança.
O que se vai verificando é que para certas pessoas o que conta é o ordenado no final do mês,não fazendo muita diferença se trabalhamos com crianças ou com papéis.
É triste, mas é a realidade.
rita odrigues