26 de março de 2008

(In)Disciplina...

Como é necessário e imperioso que exista sempre algo a circular na comunicação social sobre a Escola e sobre os Professores, eis agora a chegada da Indisciplina.
O que é engraçado, e não é, de todo, estranho, é que estes "discursos paralelos" não são sobre a Educação, entendida como um sistema amplo, macrossocial e fundamental para o Desenvolvimento (humano, de um Estado, de uma população....), mas sim sobre pequenas parcelas desse todo, quase como se houvesse o objectivo de "dividir para reinar".
E é interessante constatar que, agora que o YouTube até permite uma rápida (e eficaz) generalização dos acontecimentos, todos se pareçam interrogar sobre as questões, segundo parece, primordiais, da indisciplina na Escola.
Poucos foram, de certeza, os que acharam que esta questão, a da indisciplina, é nova.
E não é.
Contudo, é interessante constatar algumas questões à volta deste tema.
Começando...
O uso dos telemóveis: com as imagens agora divulgadas, soltou-se a verborreia sobre se estes devem ou não, ser presença assídua nas aulas. Até se fala do Estatuto do Aluno, que, de uma forma clara e eficaz(?), penaliza o seu uso na sala.
Mas minhas questões são: e os professores, não são penalizados por dar maus modelos? E os alunos que os usam para documentar metodologias de trabalho (não nos esqueçamos que os telemóveis possuem capacidades absolutamente aproveitáveis no contexto escolar) também devem ser punidos? E então e se as operadoras de telefones móveis forem parceiras das Escolas? e por último, se se considera punível o comportamento da aluna que não queria entregar o seu telemóvel, o que dizer do uso de um outro para a recolha das imagens divulgadas?
Numa segunda ordem de ideias, surge a inevitável pergunta: A professora deveria ou não agir de outra forma?
Também aqui se especula imenso, e, na maior parte das vezes, a ideia consensualmente aceite é a de que teria de ter agido de uma outra forma, mais liminar e brusca.
Não concordo.
Sinceramente, o problema não tem de ver com a atitude do professor, num ou outro caso concreto. É ele quem conhece a turma, quem conhece os alunos dessa turma, quem conhece, no fundo, o contexto situacional do acontecimento.
Contudo, em relação a isto, devo dizer o seguinte: onde estão os senhores presidentes de conselhos directivos, coordenadores de escola, directores de turma que, ao longo de mais de vinte anos, deveriam ter agido, de forma "liminar e brusca", e não o fizeram?
Onde estão os efeitos punitivos das devidas situações relatadas e identificadas ao longo dos últimos anos?
Onde estão as instituições de acompanhamento (CPCJs, Tribunais de Menores, Segurança Social, etc.), que, há anos, têm casos à sua guarda?
Onde estão as punições exemplares da justiça poruguesa para os pais, familiares e vizinhos que confrontaram, sem razão, a instituição escolar?
A indisciplina actual, mais visível e imediata não é de agora. Mas é de agora a incapacidade de a debelar.
Mas este, ao contrário do que às vezes se quer fazer crer, não é um problema da Escola, nem deve ser um dos tais "discursos paralelos". Este é um problema da Educação, e tem de ser reflectido e discutido num contexto mais amplo.
Não faz grande sentido continuar a tentar resolver problemas de forma parcial, porque, se nos centrarmos nos seres humanos, que são quem, de forma objectiva, necessita da Escola e da Educação, não nos podemos esquecer que são eles que se vão perdendo à medida que os currículos da Escola, centrados nos conteúdos e no saber fazer, os vão desviando do verdadeiro interesse em construir as competências que serão o cerne da sua evolução como seres pensantes e intervenientes.
Mas se calhar é isso que queremos. Ou não??!

1 comentário:

Anónimo disse...

Há já vários dias que assistimos à projecção das imagens da cena da "guerra pelo telemóvel".
Já cheira mal!
Em todo o caso, a mim parece-me haver ali duas teimosas.
Mas este episódio remete-nos para o tema "indisciplina" que ciclicamente vem à tona para depois desaparecer.
E, podemos ficar infinitamente a refletir e a discuti-lo que dificilmente encontraremos a solução. Primeiro, porque como tu dizes, ele só faz sentido ser posto no âmbito de uma discussão mais vasta sobre a Educação (para quê? que seres humanos queremos? (se calhar seres pensantes e intervenientes não dá muito jeito), depois, nesse contexto provavelmente teremos de refletir sobre o conceito de disciplina.
Uma coisa julgo certa: ela não se decreta, constroi-se...
Bom, nunca mais se ouviu falar na "Avaliação". Que descanso!
Bjinhos
Olga