28 de abril de 2010

Acordos...

Devo começar por escrever que, neste momento em que, sentado com o portátil à frente, me transformo em palavras, sinto como que uma comunhão com o Mundo (com o meu desejado Mundo), patente na minha expressão de aligeirada loucura.
Tudo isto porque tive a oportunidade de presenciar (em óptima companhia) e usufruir de um tempo de prazer inigualável, concedido pelo José Eduardo Agualusa (com excelente acompanhamento do Carlos Vaz Marques) no "Café com Letras" na Biblioteca Municipal de Oeiras.
Poderia estar para aqui a escrever sobre múltiplas incidências desta conversa-quase-lição-e-também-sobremesa, mas seriam tantas que me perderia, quase de certeza.
Mas aproveito este post para reflectir (em "voz" alta) sobre uma das questões abordadas e que foi, talvez, a mais polémica.
A páginas tantas entrámos pelas análises à questão da lusofonia e, principalmente, do Acordo Ortográfico. O Agualusa, que tem o condão de dizer, tão bem, o que muitos de nós pensamos mas somos incapazes de verbalizar, justificou, de forma cabal e devidamente contextualizada, a necessidade de existência do acordo. E apesar das muitas sugestões de reflexão/compreensão, a que mais fundo me tocou prende-se com a petulância e arrogância de um pequeno grupo (portugueses) em relação à maioria (de mais de 90%) dos falantes.
Reflectia ele que a Língua Portuguesa é muito mais do que ortografia e que é a cultura imbuída, que nasce na diferença e na capacidade única de incorporar, que dá razão de ser a uma língua, no âmbito da união e da partilha social e cultural. Logo, qualquer Acordo que regule a terminologia ortográfica é "pormenor de somenos importância". Como exemplo, falou-nos do Euro, que dois dias antes de se tornar "cidadão de pleno direito da Europa", provocou cataclismos há muito (agora) esquecidos.
Neste âmbito, os Acordos (quaisquer que sejam), apenas regulam uma parte do todo, e se puderem ser entendidos de forma conveniente (e deixando de lado a arrogância natural daqueles que querem fechar em si a razão de qualquer existência), não afectam o fundamental: a Língua Portuguesa é muito mais do que a soma de muitas partes.
Por tal, e parafraseando o Agualusa, "O conceito de Lusofonia não pode encerrar em si a ideia de "origem". Por si, o termo é incompleto. Mas não tenho outro melhor...."
Mas, nas minhas palavras, também concordo que, "fechar" num termo cuja origem define a "fonia" (de fonética, de som) todo um espaço de cumplicidade, partilha, irmandade, é redutor...
Mas valerá a pena pensar nisto!

1 comentário:

voo do tapete disse...

De repente, ao ler-te "fez-se-me luz"!

Provavelmente uma das dificuldades de se conseguir alargar os "espartilhos" da discussão sobre estas temáticas da Língua terá a ver com a pouca importância - e consequentes "desafinidades" - que se dá, neste nosso país singular, à Música! Educação musical: para que é que serve?
Ai, ai, a Lusofonia...

Ana :)