23 de janeiro de 2011

Porque será que não queremos ver o óbvio?

Neste momento em que escrevo (e faço-o depois de uma interrupção de quase um mês), acabo de ouvir a "declaração" de vitória do nosso "novo" Presidente da República.
Já há uns anos (quando da primeira eleição) escrevi algumas coisas que, então, me "atormentavam a alma" sobre a eterna dúvida dos portugueses acreditarem em si próprios, mas, desculpem-me o desabafo, acho, neste momento, que já não é uma dúvida: é uma certeza. Mas no sentido inverso: os portugueses têm a certeza que não acreditam em si próprios.
Não me é estranha nem inesperada a vitória do Presidente hoje eleito. Mas faz-me confusão que o tenha sido (e por mais de uma vez)!
Pode parecer uma posição partidária, mas, tenham a certeza, não é!
O actual Presidente é um conhecido e reputado(?) político, antes governante, inspirador de um modelo específico de governabilidade, no qual, por exemplo, o investimento em betão e maquinaria (que é uma metáfora para "investimento em Capital") foi o maior dos últimos cinquenta anos do país: Auto-Estradas, com as devidas "valorizações" para Brisas e outras concessionárias; divisão da Rede Ferroviária Nacional, com evidentes "valorizações" para empresas municipais e "amigos" (veja-se o caso do Metro do Mondego: 15 anos de Administrações muito bem remuneradas e, de Metro, nem os carris...); Centro Cultural(?) de Belém que aloja o espólio particular de um coleccionador, com evidentes vantagens para ele próprio; "morte" anunciada do Serviço Nacional de Saúde, com o maior aumento de sempre da iniciativa legal sobre "Seguros e Seguradoras de que há memória em Portugal; desinvestimento na Educação, com o Orçamento da Educação a baixar, em quatro anos de governo, 1,7% e, por último, a "nomenclatura" dispersa pelos "lugares-chave" das instituições (públicas e privadas) que sustentam a economia nacional...
Por tudo isto (e muito mais que haveria a discriminar), custa-me que os portugueses (pelo menos os que votaram) tenham dito, novamente, sim a este modelo social.
E, para aqueles que defendam que a eleição deste candidato será melhor para o "equílibrio" de poderes, relembro que, ao longo do último mandato, foram mais as "sintonias" (mesmo que de conveniência) do que as efectivas oposições. Porque terá sido?
Provavelmente porque o espectro político e ideológico é o mesmo. E para ambos os "modelos" representados nas principais figuras de Estado, há que fazer a classe média suportar as dificuldades, pois os "poderes" instalados deverão "continuar a convergir no esforço nacional", mesmo que isso signifique que empresas portuguesas tremendamente apoiadas para exportar, para desenvolver competência e para "proporcionar emprego" continuem (como se quer no modelo económico) a procurar o lucro (para alguns, diria eu), independentemente desse "lucro" não significar uma efectiva melhoria das condições de vida das pessoas.
Mas, parece, ficamos todos felizes, não é?

1 comentário:

voo do tapete disse...

Não, por acaso acho que não estamos todos felizes, acho que neste momento estamos e somos um país de rastos e um povo sem voz. No meu caso, em que já há "n" eleições, quer presidenciais quer legislativas que não voto por opção assumida, faço-o porque olho à minha volta e não consigo apostar em ninguém (leia-se,PESSOA, PERSONALIDADE quer política quer humana) com perfil para me fazer acreditar que vai finalmente governar com a humildade de olhar para o país real - por isso, para mim eleições já não significa "poder ter voz" e "expressar a minha vontade" porque não consigo ver no desfile/parada do nosso circo político/partidário nada nem ninguém que me faça acreditar que ao votar estou a escolher e não apenas a dizer: "bem, do mal o menos"... Tenho pena, porque estou cansada de ouvir-nos, portugueses, a deitar abaixo o país que é o nosso, onde sabemos que vivem, lutam e sonham pessoas de carne e osso que não são, estou agora mais que convencida, feitas da mesma massa que esta "fauna política" que nos mata lentamente ano após ano, mandado político após mandato político - e o pior ainda é que os que ainda lá não estiveram "empoleirados" não me convencem que votar neles iria fazer mudar fosse o que fosse: apenas iríamos chamar os bois por outros nomes, mas eles continuariam a pastar, paulatinamente, nos (agora pouco viçosos) pastos dos cofres públicos e privados... Triste, deprimente, constrangedor - e, não sei porquê, palpita-me que dá muito mais jeito dizer/comentar que uma abstenção de mais de 50% significa que as pessoas não se querem envolver... Será?

Ana