10 de fevereiro de 2011

"Falta-nos um bocadinho assim..."

"Os portugueses parecem estar constantemente a pedir desculpa e a prever que não conseguem alcançar os seus objectivos"
Mats Olsson (Seleccionador Nacional de Andebol)

Tive hoje a oportunidade de ler uma das, senão a melhor, melhores reportagens feitas sobre "o que é ser português".
A ocasião foi um excelente trabalho da Visão, através dos seus jornalistas Francisco Cruz e Pedro Justino Alves ("Quando os de fora nos levam longe", Visão nº935), onde, como o título indica, se faz uma análise aos resultados obtidos por diferentes "estrangeiros" que desenvolvem a sua actividade profissional (neste caso, desportiva) nas selecções nacionais de diversas modalidades.
Começa a reportagem por esclarecer sobre o que, até agora, foi alcançado por cada um deles (os profissionais, entenda-se) e continua, discorrendo sobre as suas (deles) análises sobre o que contribui para o (in)sucesso nacional nas áreas que lhes competem.
Tendencialmente achamos que o que "vem de fora" é bom. Na maior parte das vezes não discordo. Claro está que, na maior parte das vezes deveríamos fazer uma efectiva adaptação dos modelos à nossa realidade. Mas, se na maior parte das vezes essa adaptação é, pelo menos, planeada, o que, na realidade acontece é que, invariavelmente, nos esquecemos de um "pormenor" importante: quem, na realidade efectiva o que se importa, são os agentes, os executores, ou seja, os portugueses!
E, daí, a pertinência e acuidade desta reportagem: um conjunto de "estrangeiros" com resultados observáveis, explicam e exemplificam a "incompetência" que, não poucas vezes, faz não alcançar um efectivo sucesso nacional.
Da leitura desta reportagem surgem diversas possíveis leituras: por um lado, o "dedo na ferida" é real e justamente aplicado, por outro, este "prognóstico" não é, decididamente uma novidade (nem sequer uma verdade de La Palisse); de certa forma, esta análise é generalizável para outras realidades (que não a desportiva) e, por último, a "leitura" que se pode fazer destas opiniões muito localizadas é que nós, portugueses, somos muito bem lidos e interpretados por quem connosco convive e/ou trabalha.
Posto isto, esta "visão"merece-nos uma reflexão: tal como também referido pelo Mats Olsson, "Quem sabe ter a capacidades para chegar aos 100%, e embora tenha consciência de que 80% bastam, não desiste de se aplicar" luta por uma constante melhoria da sua Condição. É esse o objectivo da Excelência.
Ora, neste particular, quando os Docentes (por exemplo) contestam (entre eles) que "não há professores Excelentes" (como tantas vezes ouço!), como que a justificar a sua pouca vontade de obter uma classificação de desempenho que se situe entre os valores de 9,0 e 10 (na escala escolhida no modelo de ADD em vigor), estão, na realidade, a demonstrar, ipsis verbis, o que "dizem de nós".
Por outro lado, e aproveitando ainda uma outra citação, desta vez do Juan Diaz (Seleccionador Nacional de Voleibol) "...um dos problemas dos portugueses é, exactamente, o «medo de mudança», a falta de coragem para mudar de fórmula, quando os resultados não são satisfatórios", sublinho que, mais do que nunca, é este que se constitui como o paradigma da "modernidade" nacional: não se muda de governo, não se muda de vontade, não se muda de modelo porque "é mais fácil manter tudo como está", mesmo que a nossa vida esteja, como está, a atingir patamares de insolvência...
E, para terminar e, de certa forma "dar o laço" ao presente, a última citação (também do Diaz): "a passividade nacional tem causas sociais: os pais portugueses dão tudo de mão beijada aos filhos apresentando-lhes a vida como algo fácil e sem exigir responsabilidades em troca...".
No fundo, também nós, pais, fomos filhos!
Será que esta reportagem terá a audiência que deveria ter? Será que os 530 mil leitores da visão (anunciados pela própria) vão (mesmo!) ler esta reportagem e, espero eu, iniciar a respectiva "mudança"?...
Eu, posso dizê-lo, já a comecei (por acaso há algum tempo): não me contento com os 80%. E apesar de, ter, normalmente mais dissabores com essa atitude do que efectivas recompensas (sim, também fui desvalorizado em 3.5% da minha remuneração!), continuarei a tentar mostrar que vale a pena lutar por mais e melhor!

1 comentário:

voo do tapete disse...

Henrique,

Como conversávamos há umas horas, a excelência tem principalmente a ver com termos ou não termos a capacidade/vontade de lhe dar informalmente a mão e de a utilizar como "ferramenta" para nos colocar no patamar de realização pessoal, profissonal, social, etc, abaixo do qual não queremos viver, trabalhar, conviver, construir, educar...

Exigir-nos (cada um a si, antes de nos "preocuparmos" em classificar e conotar os outros) a postura fundamental de ter os pés bem assentes num excelente chão de partida e não ter limites para cada dia de construção de um caminho "de excelência" em tudo o que nos propusermos fazer e construir... "O céu será o limite"? Não saberemos, mas o que deveríamos inequivocamente querer saber é que nos propomos a cada dia viver para ultrapassar limites e encontrar sempre melhores soluções. E isso é infinitamente possível, perguntem a qualquer cientista!

A excelência tem que ser tratada por tu por cada um de nós, enquanto a tratarmos por V.ª Ex.ª teremos sempre a paulatina desculpa de hipocritamente (ou ingenuamente...) dizer que "ninguém é excelente" e que quem assim se denomina, ou assim pretende pautar a sua vida por esse patamar de exigência e esforço sincero e quotidiano de superação é um insuportável arrogante...

Lamentável postura(mas infelizmente profusamente instalada!) e destruidora mesquinhez...

Por acaso, ainda hoje provei um excelente bolo de bolacha ao almoço!

E, a seguir a essa excelente degustação, estive numa escola onde observei excelentes docentes e excelentes práticas educativas.

Será que estou a precisar de ir mudar a graduação das lentes?

Ana