Alguns dizeres, opiniões, artigos da comunicação social, textos editados e publicados nos mais insuspeitos espaços e até comentários ouvidos no café me deixam, não raramente, literalmente, às voltas.
Nestas últimas semanas, a propósito da nova canção dos Deolinda, dos idosos encontrados mortos em casa, das reflexões à volta dos lucros dos bancos (e dos seus diminutos impostos!), da redução do número de deputados na Assembleia da República e até da proverbial Moção de Censura, a apresentar pelo Bloco de Esquerda, foram muitas (mas muitas mesmo!) as vozes que vieram a lume fazer a "queixa" do costume: "a culpa é deles!".
É sempre interessante revermo-nos nos outros. É ainda mais interessante "opinar", criticar, culpar, ofender, relativizar, responsabilizar, e todas aquelas outras coisas que (dizem os outros) é "expressão do ser português".
Não quero (e não vou) entrar em grandes análises e reflexões filosóficas, etológicas, étnicas (e éticas) ou de valores, mas deixo algumas perguntas...
1. Quem, de entre nós, nunca estacionou o veículo num passeio, impedindo, dessa forma, a fácil circulação de pessoas com mobilidade reduzida?
2. Quem, de entre nós, "olhou para o lado" sempre que testemunha de um acto de agressão física e/ou verbal, entre conhecidos, por "não ser nada comigo"?
3. Quem, de entre nós, nunca ameaçou o filho/sobrinho/educando com um "portas-te mal e eu vou dizer ao polícia"?
4. Quem, de entre nós, nunca deixou de ir votar por alegar "que eles são todos iguais"?
5. Quem, de entre nós, nunca perguntou ao amigo/conhecido se "não tens ninguém lá na repartição que possa dar uma ajudinha para desbloquear o meu caso"?
6. Quem, de entre nós, não pediu a respectiva factura depois de ter mandado reparar o esquentador/o cano/os sapatos, apenas porque "sem IVA é mais barato"?
Estes, e muito mais exemplos que aqui poderia escrever são, sem sombra de dúvida, o melhor retrato desta insistente e definida cultura de "deixa andar" que tão bem nos caracteriza.
Num post anterior, reflectia, com base em palavras de outros, sobre essa luta que é (seria!) a solução para "todos os males": a acepção da Excelência.
Mas, para isso, seria necessário que conseguíssemos, num rasgo de inteligência colectiva, substituir a expressão "a culpa é deles" por "a culpa é nossa"!
Mas isso obrigaria a que a solidariedade do Estado fosse, acima de tudo, a solidariedade do indivíduo.
Pois é. Infelizmente, o Estado somos todos nós. Até quando nos demitimos de o ser!
Era bom pensar nisto (designadamente, antes de falar em coisas das quais somos os primeiros e últimos responsáveis)!
Breve glossário:
1. Aqui se vê, por exemplo, o "respeito" que temos pelo "outro". E, mesmo quando compramos uma casa, não nos interessa mesmo muito saber se, daqui a uns anos, quando já não conseguirmos subir um degrau, a rampa de acesso seria útil...
2. Um dos principais problemas de autoridade é mesmo o autoritarismo. E, sem querer entrar em grandes análises comparativas, os países onde a "igualdade de género" é maior, poupam cerca de 0,01% do PIB (este valor, em Portugal, é cerca de 2.000.000€) em despesas médicas derivadas de assistência a situações de agressão "menor"...
3. Novamente a questão da autoridade: Quem respeita um Agente de Autoridade, cuja função é (deveria ser) manter a "segurança pública e mobilizar os cidadãos para a vida em sociedade", com "expressões" destas?
4. Votar é um direito e um dever. Escolher é sempre uma opção. Se não o fizermos, estaremos a desresponsabilizarmo-nos e, dessa forma, excluirmo-nos do "sistema". Que razão então para o criticar?
5. Sem mais delongas: Portugal ocupa a 32ª posição entre 172 países cuja "percepção sobre corrupção" foi "aferida " pela Transparency International. Nota importante, da Europa a 25, apenas três depois de nós...
6. "Fugir ao Fisco"... Mais palavras para quê? Se o país não tem dinheiro para distribuir, aumenta os impostos, e pagam os mesmos... ou seja, aqueles que não podem "fugir" (entre estes, por acaso, encontram-se os "funcionários públicos", sobre quem, por exemplo, se diz serem a "causa da desgraça"...)
20 de fevereiro de 2011
10 de fevereiro de 2011
"Falta-nos um bocadinho assim..."
"Os portugueses parecem estar constantemente a pedir desculpa e a prever que não conseguem alcançar os seus objectivos"
Mats Olsson (Seleccionador Nacional de Andebol)
Tive hoje a oportunidade de ler uma das, senão a melhor, melhores reportagens feitas sobre "o que é ser português".
A ocasião foi um excelente trabalho da Visão, através dos seus jornalistas Francisco Cruz e Pedro Justino Alves ("Quando os de fora nos levam longe", Visão nº935), onde, como o título indica, se faz uma análise aos resultados obtidos por diferentes "estrangeiros" que desenvolvem a sua actividade profissional (neste caso, desportiva) nas selecções nacionais de diversas modalidades.
Começa a reportagem por esclarecer sobre o que, até agora, foi alcançado por cada um deles (os profissionais, entenda-se) e continua, discorrendo sobre as suas (deles) análises sobre o que contribui para o (in)sucesso nacional nas áreas que lhes competem.
Tendencialmente achamos que o que "vem de fora" é bom. Na maior parte das vezes não discordo. Claro está que, na maior parte das vezes deveríamos fazer uma efectiva adaptação dos modelos à nossa realidade. Mas, se na maior parte das vezes essa adaptação é, pelo menos, planeada, o que, na realidade acontece é que, invariavelmente, nos esquecemos de um "pormenor" importante: quem, na realidade efectiva o que se importa, são os agentes, os executores, ou seja, os portugueses!
E, daí, a pertinência e acuidade desta reportagem: um conjunto de "estrangeiros" com resultados observáveis, explicam e exemplificam a "incompetência" que, não poucas vezes, faz não alcançar um efectivo sucesso nacional.
Da leitura desta reportagem surgem diversas possíveis leituras: por um lado, o "dedo na ferida" é real e justamente aplicado, por outro, este "prognóstico" não é, decididamente uma novidade (nem sequer uma verdade de La Palisse); de certa forma, esta análise é generalizável para outras realidades (que não a desportiva) e, por último, a "leitura" que se pode fazer destas opiniões muito localizadas é que nós, portugueses, somos muito bem lidos e interpretados por quem connosco convive e/ou trabalha.
Posto isto, esta "visão"merece-nos uma reflexão: tal como também referido pelo Mats Olsson, "Quem sabe ter a capacidades para chegar aos 100%, e embora tenha consciência de que 80% bastam, não desiste de se aplicar" luta por uma constante melhoria da sua Condição. É esse o objectivo da Excelência.
Ora, neste particular, quando os Docentes (por exemplo) contestam (entre eles) que "não há professores Excelentes" (como tantas vezes ouço!), como que a justificar a sua pouca vontade de obter uma classificação de desempenho que se situe entre os valores de 9,0 e 10 (na escala escolhida no modelo de ADD em vigor), estão, na realidade, a demonstrar, ipsis verbis, o que "dizem de nós".
Por outro lado, e aproveitando ainda uma outra citação, desta vez do Juan Diaz (Seleccionador Nacional de Voleibol) "...um dos problemas dos portugueses é, exactamente, o «medo de mudança», a falta de coragem para mudar de fórmula, quando os resultados não são satisfatórios", sublinho que, mais do que nunca, é este que se constitui como o paradigma da "modernidade" nacional: não se muda de governo, não se muda de vontade, não se muda de modelo porque "é mais fácil manter tudo como está", mesmo que a nossa vida esteja, como está, a atingir patamares de insolvência...
E, para terminar e, de certa forma "dar o laço" ao presente, a última citação (também do Diaz): "a passividade nacional tem causas sociais: os pais portugueses dão tudo de mão beijada aos filhos apresentando-lhes a vida como algo fácil e sem exigir responsabilidades em troca...".
No fundo, também nós, pais, fomos filhos!
Será que esta reportagem terá a audiência que deveria ter? Será que os 530 mil leitores da visão (anunciados pela própria) vão (mesmo!) ler esta reportagem e, espero eu, iniciar a respectiva "mudança"?...
Eu, posso dizê-lo, já a comecei (por acaso há algum tempo): não me contento com os 80%. E apesar de, ter, normalmente mais dissabores com essa atitude do que efectivas recompensas (sim, também fui desvalorizado em 3.5% da minha remuneração!), continuarei a tentar mostrar que vale a pena lutar por mais e melhor!
Mats Olsson (Seleccionador Nacional de Andebol)
Tive hoje a oportunidade de ler uma das, senão a melhor, melhores reportagens feitas sobre "o que é ser português".
A ocasião foi um excelente trabalho da Visão, através dos seus jornalistas Francisco Cruz e Pedro Justino Alves ("Quando os de fora nos levam longe", Visão nº935), onde, como o título indica, se faz uma análise aos resultados obtidos por diferentes "estrangeiros" que desenvolvem a sua actividade profissional (neste caso, desportiva) nas selecções nacionais de diversas modalidades.
Começa a reportagem por esclarecer sobre o que, até agora, foi alcançado por cada um deles (os profissionais, entenda-se) e continua, discorrendo sobre as suas (deles) análises sobre o que contribui para o (in)sucesso nacional nas áreas que lhes competem.
Tendencialmente achamos que o que "vem de fora" é bom. Na maior parte das vezes não discordo. Claro está que, na maior parte das vezes deveríamos fazer uma efectiva adaptação dos modelos à nossa realidade. Mas, se na maior parte das vezes essa adaptação é, pelo menos, planeada, o que, na realidade acontece é que, invariavelmente, nos esquecemos de um "pormenor" importante: quem, na realidade efectiva o que se importa, são os agentes, os executores, ou seja, os portugueses!
E, daí, a pertinência e acuidade desta reportagem: um conjunto de "estrangeiros" com resultados observáveis, explicam e exemplificam a "incompetência" que, não poucas vezes, faz não alcançar um efectivo sucesso nacional.
Da leitura desta reportagem surgem diversas possíveis leituras: por um lado, o "dedo na ferida" é real e justamente aplicado, por outro, este "prognóstico" não é, decididamente uma novidade (nem sequer uma verdade de La Palisse); de certa forma, esta análise é generalizável para outras realidades (que não a desportiva) e, por último, a "leitura" que se pode fazer destas opiniões muito localizadas é que nós, portugueses, somos muito bem lidos e interpretados por quem connosco convive e/ou trabalha.
Posto isto, esta "visão"merece-nos uma reflexão: tal como também referido pelo Mats Olsson, "Quem sabe ter a capacidades para chegar aos 100%, e embora tenha consciência de que 80% bastam, não desiste de se aplicar" luta por uma constante melhoria da sua Condição. É esse o objectivo da Excelência.
Ora, neste particular, quando os Docentes (por exemplo) contestam (entre eles) que "não há professores Excelentes" (como tantas vezes ouço!), como que a justificar a sua pouca vontade de obter uma classificação de desempenho que se situe entre os valores de 9,0 e 10 (na escala escolhida no modelo de ADD em vigor), estão, na realidade, a demonstrar, ipsis verbis, o que "dizem de nós".
Por outro lado, e aproveitando ainda uma outra citação, desta vez do Juan Diaz (Seleccionador Nacional de Voleibol) "...um dos problemas dos portugueses é, exactamente, o «medo de mudança», a falta de coragem para mudar de fórmula, quando os resultados não são satisfatórios", sublinho que, mais do que nunca, é este que se constitui como o paradigma da "modernidade" nacional: não se muda de governo, não se muda de vontade, não se muda de modelo porque "é mais fácil manter tudo como está", mesmo que a nossa vida esteja, como está, a atingir patamares de insolvência...
E, para terminar e, de certa forma "dar o laço" ao presente, a última citação (também do Diaz): "a passividade nacional tem causas sociais: os pais portugueses dão tudo de mão beijada aos filhos apresentando-lhes a vida como algo fácil e sem exigir responsabilidades em troca...".
No fundo, também nós, pais, fomos filhos!
Será que esta reportagem terá a audiência que deveria ter? Será que os 530 mil leitores da visão (anunciados pela própria) vão (mesmo!) ler esta reportagem e, espero eu, iniciar a respectiva "mudança"?...
Eu, posso dizê-lo, já a comecei (por acaso há algum tempo): não me contento com os 80%. E apesar de, ter, normalmente mais dissabores com essa atitude do que efectivas recompensas (sim, também fui desvalorizado em 3.5% da minha remuneração!), continuarei a tentar mostrar que vale a pena lutar por mais e melhor!
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