20 de fevereiro de 2011

Às voltas...

Alguns dizeres, opiniões, artigos da comunicação social, textos editados e publicados nos mais insuspeitos espaços e até comentários ouvidos no café me deixam, não raramente, literalmente, às voltas.
Nestas últimas semanas, a propósito da nova canção dos Deolinda, dos idosos encontrados mortos em casa, das reflexões à volta dos lucros dos bancos (e dos seus diminutos impostos!), da redução do número de deputados na Assembleia da República e até da proverbial Moção de Censura, a apresentar pelo Bloco de Esquerda, foram muitas (mas muitas mesmo!) as vozes que vieram a lume fazer a "queixa" do costume: "a culpa é deles!".
É sempre interessante revermo-nos nos outros. É ainda mais interessante "opinar", criticar, culpar, ofender, relativizar, responsabilizar, e todas aquelas outras coisas que (dizem os outros) é "expressão do ser português".
Não quero (e não vou) entrar em grandes análises e reflexões filosóficas, etológicas, étnicas (e éticas) ou de valores, mas deixo algumas perguntas...
1. Quem, de entre nós, nunca estacionou o veículo num passeio, impedindo, dessa forma, a fácil circulação de pessoas com mobilidade reduzida?
2. Quem, de entre nós, "olhou para o lado" sempre que testemunha de um acto de agressão física e/ou verbal, entre conhecidos, por "não ser nada comigo"?
3. Quem, de entre nós, nunca ameaçou o filho/sobrinho/educando com um "portas-te mal e eu vou dizer ao polícia"?
4. Quem, de entre nós, nunca deixou de ir votar por alegar "que eles são todos iguais"?
5. Quem, de entre nós, nunca perguntou ao amigo/conhecido se "não tens ninguém lá na repartição que possa dar uma ajudinha para desbloquear o meu caso"?
6. Quem, de entre nós, não pediu a respectiva factura depois de ter mandado reparar o esquentador/o cano/os sapatos, apenas porque "sem IVA é mais barato"?
Estes, e muito mais exemplos que aqui poderia escrever são, sem sombra de dúvida, o melhor retrato desta insistente e definida cultura de "deixa andar" que tão bem nos caracteriza.
Num post anterior, reflectia, com base em palavras de outros, sobre essa luta que é (seria!) a solução para "todos os males": a acepção da Excelência.
Mas, para isso, seria necessário que conseguíssemos, num rasgo de inteligência colectiva, substituir a expressão "a culpa é deles" por "a culpa é nossa"!
Mas isso obrigaria a que a solidariedade do Estado fosse, acima de tudo, a solidariedade do indivíduo.
Pois é. Infelizmente, o Estado somos todos nós. Até quando nos demitimos de o ser!
Era bom pensar nisto (designadamente, antes de falar em coisas das quais somos os primeiros e últimos responsáveis)!

Breve glossário:
1. Aqui se vê, por exemplo, o "respeito" que temos pelo "outro". E, mesmo quando compramos uma casa, não nos interessa mesmo muito saber se, daqui a uns anos, quando já não conseguirmos subir um degrau, a rampa de acesso seria útil...
2. Um dos principais problemas de autoridade é mesmo o autoritarismo. E, sem querer entrar em grandes análises comparativas, os países onde a "igualdade de género" é maior, poupam cerca de 0,01% do PIB (este valor, em Portugal, é cerca de 2.000.000€)  em despesas médicas derivadas de assistência a situações de agressão "menor"...
3. Novamente a questão da autoridade: Quem respeita um Agente de Autoridade, cuja função é (deveria ser) manter a "segurança pública e mobilizar os cidadãos para a vida em sociedade", com "expressões" destas?

4. Votar é um direito e um dever. Escolher é sempre uma opção. Se não o fizermos, estaremos a desresponsabilizarmo-nos e, dessa forma, excluirmo-nos do "sistema". Que razão então para o criticar?
5. Sem mais delongas: Portugal ocupa a 32ª posição entre 172 países cuja "percepção sobre corrupção" foi "aferida " pela Transparency International. Nota importante, da Europa a 25, apenas três depois de nós...
6. "Fugir ao Fisco"... Mais palavras para quê? Se o país não tem dinheiro para distribuir, aumenta os impostos, e pagam os mesmos... ou seja, aqueles que não podem "fugir" (entre estes, por acaso, encontram-se os "funcionários públicos", sobre quem, por exemplo, se diz serem a "causa da desgraça"...)

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