Expetativas para o ano lectivo que se aproxima?!...
Talvez prefira falar em “desejos”.
Nunca, em mais de quinze anos, um Programa de Governo fora tão parco em “medidas” e “propostas” para a Educação Pré-Escolar (EPE): apenas uma breve referência à “continuação do alargamento da rede escolar”.
Podemos “ler” este facto à luz de dois olhares: ou este nível de ensino está “tão bem” que é preferível “não mexer”, ou que as alterações significariam um conjunto de ações que estão, à partida, vedadas por desígnios financeiros que as tornam inoportunas.
A frequência de uma oferta educativa e pedagógica formalizada, antes da entrada na chamada “escolaridade obrigatória”, traz ganhos qualitativos e quantitativos ao sucesso escolar e social posterior dos alunos. Se atentarmos na melhoria global dos resultados PISA dos alunos portugueses neste último exercício (2010) e se considerarmos que estes (com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos) são os primeiros que, mercê de um investimento feito há cerca de dez anos na EPE, frequentaram esta oferta educativa, de forma generalizada e contínua, então, também nós, podemos comprovar os resultados deste investimento.
Para qualquer decisor político é importante considerar alguns pressupostos, antes de apagar, de forma rápida e convincente dos programas governativos, a EPE da vanguarda do investimento em educação:
1) A EPE é, pela sua natureza, a base de desenvolvimento científico do cidadão escolar, quer seja através da especificidade da sua dinâmica lectiva, quer seja porque é o primeiro espaço formalizado e organizado de contacto com o rigor académico;
2) A formação cívica pressupõe que o aluno aprenda a ser. A EPE posiciona-se como lugar destacado para potenciar este pressuposto, pois as suas bases curriculares definem que este nível de ensino deve pautar-se por desenvolver a personalidade, potenciar o aumento da capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade do aluno;
3) Vários estudos internacionais identificam a idade pré-escolar como “momento oportuno” para criar as bases do raciocínio matemático e linguístico. Nesse sentido, o reforço dos tempos dedicados à Matemática e à Língua Portuguesa nos ciclos escolares consequentes, como “fatores de desenvolvimento” dos alunos, deve ser, também, analisado à luz do investimento num espaço formal de EPE.
De acordo com as palavras do actual Ministro, a educação “deve deixar de lado a sua visão romântica” e centrar-se no desenvolvimento de competências e conhecimento. Ora, se assim é, é tempo de reflectir, de forma séria, a Educação no seu todo. O que me leva aos tais “desejos” para 2011/2012…
Que se assuma a EPE como espaço central da formação do cidadão escolar
E, neste particular, é meu desejo que as escolas (e a sua administração), valorizem a acção pedagógica dos seus docentes, designadamente ouvindo-os e potenciando os seus conhecimentos específicos, em vez de escolherem processos administrativos, bastas vezes desadequados e insignificantes, emanados por estruturas dispensáveis e inócuas que não reconhecem a especificidade deste nível;
Que a reflexão pedagógica e educativa substitua, nas escolas e nas vidas dos professores, o tema Avaliação de Desempenho Docente.
Estes últimos anos retiraram à escola e aos seus agentes a capacidade de refletir, de analisar, de planear, de organizar, de articular e fizeram decrescer, consideravelmente, a resposta educativa que é suposto oferecer.
Esse fato precipitou a desvalorização do espaço da EPE dando-lhe um pendor mais assistencialista em detrimento da sua vocação pedagógica e educativa. É preciso voltar a credibilizar o espaço pedagógico da EPE apostando na formação dos seus profissionais e na discussão, reflexão, análise e organização de respostas educativas globais e duradoras. E este desejo leva-me a outro, mais global, no âmbito da formação:
Que a formação dos profissionais (presentes e futuros) permita uma efectiva renovação pedagógica, assente em novos valores sociais e educativos.
Temas fundamentais como “Europa”, “Formação Financeira”,”Globalização”, “Gestão da Informação” que têm estado afastados dos currículos, tornam-se, cada vez mais, actuais e necessários na base de formação dos docentes.
A Escola, como um todo, tem de ser capaz de adequar, de forma sistemática e eficaz, os seus curricula ao progresso social e cognitivo das comunidades, e, dessa forma, responder rapidamente às “crises” que se colocam. Vivemos, nesta altura, tempos de mudança social.
A escola (e os docentes) tem de os acompanhar.
E que o ano lectivo seja um espaço de paz na escola.
*base do texto de colaboração com o Jornal de Letras, 3 a 17 de Setembro de 2011
**a partir deste "post", tentarei (e digo tentarei, porque até ser um hábito, ainda demora), escrever de acordo com o Acordo Ortográfico. por isso, desculpem as incongruências, erros, gralhas e omissões...
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1 comentário:
Caro Henrique, pena é que quem de direito não leia e dê (ou tenha poder para dar) a importância que tal assunto merece... serás tu e outros com a mesma linha de pensamento e entrega que farão a diferença na educação dos Homens de amanhã... continua o bom trabalho e não deixes de ser como és.
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