Têm sido mais os dias de desencanto que o contrário.
Dia após dia, tento convencer-me que é possível. Que é possível fazer mais e melhor. Que é possível, através de um esforço individual, contribuir para um espaço coletivo melhor.
Ainda há pouco comentava que, mesmo em termos profissionais, aquela ideia (que temos todos!) de que é possível "mudar o mundo", vai desvanecendo, lentamente, até desaparecer envolta numa bruma de desconsolo e angústia. De impotência.
Lembro-me, quando iniciei, do meu gosto por "provocar" reações. Por destabilizar o status quo...
Lembro-me, num dos primeiros dias de atividade profisional, já lá vão 20 anos, de um comentário de uma colega, mais velha, que me dizia: "não podes andar por aí a correr e a brincar com os miúdos, senão, qualquer dia, temos os pais deles a acusar-nos (aos outros, entenda-se!) de que não corremos também!..."
Lembro-me dessa frase me ter ficado na memória como uma lição de vida: essa seria uma frase que eu nunca diria na vida!
Lembro-me também de muitas "discussões" (eu prefiro o termo "reflexões") sobre o papel e o modelo do docente como instrumento facilitador e formador. A importância de "dizer" obrigado e "se faz favor", a importância de não confundir o "pessoal" e o "profissional", não descurando, contudo, que, na profissão que escolhi, o "que sou" é determinante para a qualidade do "que faço".
Ao longo destes anos de prática profissional já recebi muitos prémios e recomendações, já fui avaliado (formalmente) muitas vezes e sempre com um elevado grau de distinção. Sou, frequentemente, convidado para participar em eventos, no país e no estrangeiro onde se espera que eu partilhe as minhas práticas e formas de fazer. Envolvo-me em atividades comunitárias e profissionais (em associações, em projetos de desenvolvimento social, etc.) e contribuo, pessoal e profissionalmente, para o bem comum.
Tenho uma história de participação cívica e solidária que fala por mim. Sou alvo de elogios que não peço e não recompenso...
Mas, se alguém "precisa" de falar de mim (normalmente para se "elevar"), conta sempre uma história mais "ao seu jeito", e aí, esquecendo-se que fui nomeado ou designado, que fui eleito ou escolhido, que fui convidado ou indicado, prefere sempre denegrir e prejudicar...
Não. Não arranjei problemas em "todos os sítios por onde passei" (tenho até orgulho de continuar a receber convites para lá voltar!). Não, não "entrei em conflito nas associações e com os sindicatos" (apenas reparei, como muitas outras pessoas, que essas entidades estão pejadas de pessoas que lhes alteram, para pior, os desígnios!). Não, não sou "egoísta e invejoso" (partilho, distribuo, dou, faço "por" e ofereço-me muito facilmente!). Não, não sou "mau educador" (um Bom - no tempo do Dec.-Lei11/98, um Excelente neste modelo de ADD, uma nomeação para o Prémio Professor do Ano e muitos convites para apresentar a minha prática em encontros nacionais e internacionais mostram o contrário!). Não, não sou individualista: acredito na força do grupo e bato-me, inquestionavelmente por algo muito maior do que o meu "lugarzinho de educador"...
Mas, se não me sinto feliz é, de certeza, porque nasci no espaço e no tempo errado.
Não. Não devo ser português.
Apenas estou a sofrer na pele por algo que fiz de muito mau noutra encarnação.
E, por mais que tente ser imune a isso, sofro com a mesquinhez de que sou vítima. E sofro muito!
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3 comentários:
Olá Henrique,
Consigo compreender o que sente. Consigo porque em muitas situações senti algo parecido. Na verdade esses comentários que sentimos injustos e por vezes caluniosos, deixam marcas, por muito que tentemos ser superiores e ignorar.
Sempre que saímos da norma, porque até gostamos do que fazemos e vamos trabalhar com entusiasmo e alegria, não caímos nas "boas graças" da mediocridade!
Eu não tenho um currículo como o seu...nem quis participar desta avaliação ADD, não lhe vejo justiça, nem lhe reconheço credibilidade. Fui "suficiente" e agora sou "Bom", mas mesmo assim não me encaixo na média...no padrão...já sofri por isso! Até pensei mudar...ser medíocre, para ver se seria melhor, não consegui.
Continue a bater-se pelo que acredita, pelo que sonha...não o fazer doí ainda mais!
O Paulo Galindro há dias dizia não se sentir português, mas que fazia parte de um lindo planeta azul...
O Henrique tal como ele pertence a algo maior.
Fazer o que se gosta é receita para uma vida interessante,se nos questionar-mos "o que posso dar?" em vez de" o que posso receber?".
Mas se nos questionarmos sobre "porquê dar se ninguém quer receber?", talvez depressa atinjamos um estado de saturação explosivo...
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