28 de abril de 2012

Facilitismo!

"Do not handicap your children by making their lives easy"  
Robret A. Heinlen

É o que fazemos diariamente quando não permitimos que o "outro" se possa responsabilizar pelo seu percurso. Passamos demasiado tempo a "tentar" fazer pelos "outros", e, pior que tudo, fazemo-lo desde que nascem (e nascemos!).
Li hoje a frase em epígrafe e pela memória passou-me, em retrospetiva, muitos dos espaços e tempos de educação que tive (a sorte de ter!). Talvez por ter mais irmãos, talvez por ter de "lutar" arduamente para me impor, talvez até porque as "facilidades sociais", num determinado período da minha vida, não estavam disponíveis, acabei por receber um conjunto de instrumentos que, hoje, se tornam fundamentais. Mas, mais importante, é que transportei esse "modelo" para a minha prática profissional.
E nunca facilito!
Não facilito porque aprendi que as facilidades nos tornam menos capazes, menos atentos, menos convergentes com os objetivos de qualidade. Não facilito porque, "deixar andar", em todas as modalidades e dinâmicas da nossa vida, torna-nos menos exigentes, menos orientados para o sucesso e para a excelência. E, acima de tudo, torna-nos fracos. Portugal é o reflexo evidente da sua "formação" facilitista.
Os gestores, os docentes, o "Estado social" protetor, os pais, as mães habituaram-se a proteger. A impedir que "as crianças caiam" e, assim, definiram o rumo. Mas, neste meu espaço de reflexão, não quero "mostrar" o evidente.
Quero, antes, apontar algumas atitudes menos evidentes da nossa "forma de fazer". Quando fazemos pelo outro (na escola é tão frequente os docentes "brilharem" nas produções plásticas dos seus alunos - que "estiveram" ocupados a fazer uma qualquer ficha de leitura), tendemos a fazer o que nos é importante. Ao fazê-lo (substituir e "pensar" pelo outro) acabamos por desvalorizar a competência própria de quem substituímos. E baixamos a sua auto-estima. Mas, pior ainda (e isso é observável quando conseguimos deslocar-nos e "ver" a situação numa perspetiva holística), é que o fazemos sem termos uma exata noção de que o estamos a fazer.
Há uns anos tive um aluno que tropeçava ou caia a cada cinco passos que dava. Como é normal, preocupou-me a constatação. E, só consegui entender o porquê quando me apercebi que a mãe, todos os dias, o levava da escola ao carro (no parque de estacionamento, a 50 metros) ao colo (e, pelo que percebi, do carro para casa, e para todo o lado). O aluno tinha 5 anos e, quando confrontada, a senhora explicou-me que o levava ao colo porque, com a "vida atribulada que tinha diariamente, eram os únicos momentos em que lhe podia dar um miminho"...
Quando o adulto faz pela criança ou o docente "faz" pelo aluno, impedindo-o de o experimentar e errar (e boa parte da ansiedade dos alunos face às Provas Globais e Exames é "compensada" por esse receio legítimo do docente, que se "desculpa" com a sua própria incompetência), ou quando "ilustra" de forma muito "gira" uma situação de outro, interpretando e "impondo" uma certa forma de ver, o que está a fazer, mais uma vez, é impedir que o aluno/criança falhe e, dessa forma, a que aprenda.
Aprender não é ver o outro (o adulto, o professor, a auxiliar...) a fazer um qualquer desenho muito "giro" ou uma qualquer "prenda" para dar à mãe. Aprender é fazer uma coisa muito feia e registar a reação. 
E, sem falhar, não aprendemos.
Por o considerar muito grave para a nossa evolução enquanto seres resilientes e lutadores, combativos e justos (porque "provámos" a dificuldade!), sinto que se não soubermos refletir sobre este nosso altruísmo antipedagógico e antisocial, tendemos a, na perspetiva Darwiniana, desaparecer.
E, apesar de parecer que não nos restam muitas hipóteses (o federalismo Alemão parece ameaçar!), é ainda tempo de recusar uma mesma lógica de "funcionamento".
Basta parar para pensar.

12 de abril de 2012

Inoperância? Ou apenas incompetência?!

Compreendo, cada vez melhor, a posição dos contribuintes do norte da Europa. E em especial os alemães. Na realidade, até há pouco, não compreendia, de todo, a oposição a uma espécie de compensação europeia, em que os mais "ricos" contribuíam para uma suposta igualdade de oportunidades, baseada numa visão social e solidária de um "grande estado europeu", defensor das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos. Não compreendia porque razão era incompreensível que os povos "mais abonados", e especialmente os que enriqueceram à custa dos produtos que venderam (ou impingiram!) aos "menos abonados" não quisessem, agora, ajudá-los a crescer. De facto, não compreendia. Mas hoje, ao abrir a caixa do correio, compreendi que nem os mais solidários e compreensivos "ricos" conseguem suportar, durante muito tempo, a forma como se gasta dinheiro nos "países do sul". O exemplo é gritante e conta-se em duas palavras: Sou funcionário público. No âmbito de um ato de gestão deficitário, recorri, usando os meios legais (leia-se regulamentares) ao meu dispor. Recorri, portanto, ao espaço hierárquico superior. Desse órgão, a segunda instância, recebi a resposta de que a resolução de tal reclamação, devidamente contextualizada, é da responsabilidade do gestor recorrido. Devolveram, portanto, a reclamação. Por não compreender essa resposta, recorri da segunda instância para uma (suposta) terceira instância. A resposta (e é essa a que recebi hoje) relega para a segunda instância a resolução da reclamação... Ou seja: apresentei uma reclamação de um ato de gestão do Diretor à Direção Regional de Educação (DRE), que por sua vez me respondeu que a resolução do problema compete ao Diretor. Reclamei da DRE à Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC), designadamente por a instância superior ter respondido devolvendo ao "causador" da reclamação, a "missão de resolver o assunto". Eis que recebo da IGEC a resposta à minha exposição um lacónico "nestes termos, será solicitada a intervenção daquela entidade (DRE) mediante o reencaminhamento da presente exposição", acrescentando, de seguida, "caso não se conforme com a decisão proferida, em sede de recurso e nos termos da lei, poderá suscitar pela via contenciosa a salvaguarda dos seus direitos"... Ou seja, para quê a existência de DREs, IGEC, e outras entidades intermédias que, na maior parte das vezes, devolvem à procedência as questões apresentadas? serão apenas sorvedouros de dinheiros públicos? Foram estas as conclusões a que chegaram os nossos amigos do norte da Europa?... Escrevi aqui, há dias, que estava em vias de desistir. Já não estou em "vias de"... Desisti mesmo! Não vale a pena. Fui.

10 de abril de 2012

Uma nota de desistência...

Há já algum tempo que por aqui não passava. Devo dizer que, na realidade, a vontade de escrever (e de, consequentemente, refletir sobre os escritos) não é muita. Invariavelmente dou por mim a tolher ainda mais a minha disponibilidade, a minha pertinência, a minha "garra"... Estou, como se pode imaginar, cada vez mais desiludido. E não é por causa da tão falada "crise". A crise (a minha) é diferente. É motivacional. Ao longo de todos estes anos em que desenvolvo a profissão que escolhi como minha (e houve outras que poderia ter escolhido com, acho eu, igual sucesso) tenho tido, por um lado, a sorte de me ir sentindo "empurrado" na minha motivação para continuar por um conjunto de pessoas, de sugestões, de ideias por que vale a pena lutar. Mas, por outro, o funil tem-se vindo a fechar. Ao longo destes anos, uma vezes pior, outras com mais sucesso, tenho mostrado que o que faço é digno de ser feito. Ao longo dos anos têm sido inúmeros os momentos em que, em partilha com outros amigos e colegas chegamos à conclusão que "fazemos bem". Ao longo dos anos têm sido algumas as "recompensas" que me "intimam" a continuar na mesma senda pela qualidade, pela excelência. Não é de agora, nem sequer é por razão de "avaliações", mas sempre defendi que a excelência deve ser o objetivo e o mérito deve ser a estratégia. E, sair da "crise" (de todas as crises!) deve ter como base a luta pela excelência. Excelência essa que se deve assumir como uma exigência, auto-imposta mas também definida por critérios exógenos. Ao longo dos anos permiti-me avaliar-me e ser avaliado. Não num qualquer modelo de avaliação externo e mal construído, mas num sistema contínuo e com critérios de sustentabilidade eficazes e criteriosos: a profissão que escolhi e os efeitos que a minha profissionalidade tem nos outros. E, nesse sistema, ao qual atribuo imenso rigor, tenho a certeza que passei com distinção e com mérito. Mas, no(s) outro(s), naqueles sistemas de avaliação mesquinhos e adestrados, que têm como principais agentes um conjunto de seres (para não lhes chamar "coisas") invertebrados, desejosos de uma qualquer distinção plástica e insignificante (que não param, sequer, para pensar nos efeitos que terão as suas "avaliações" no futuro de uma comunidade, de um país, de uma nação), nesse(s), devo dizer-vos que não fui bem sucedido. Muito pelo contrário: falhei redondamente. Falhei porque não gosto das regras por eles impostas. E como não gosto das regras, não vou jogar mais. É este o momento de abandono. Desisto. Mas desisto mesmo. Durante muito tempo fui ouvindo os impulsos e os "empurrões" que fui recebendo, de "não desistir", de "não entregar o ouro aos bandidos", mas, quando o nosso chefe (leia-se Diretor) nos diz, claramente, que "não há ninguém excelente e que os mestrados e doutoramentos não fazem ninguém ser melhor", o que eu sinto é que chegou ao fim. Não que eu não possa aceitar esse comentário, ainda por cima vindo de quem vem, mas não é espetável ouvi-lo de alguém com um papel preponderante na motivação dos seus "subordinados"... Ainda por cima daqueles que constroem, diariamente, uma escola melhor.. Desisto porque não é esperado, num sistema de mérito e de excelência, que o chefe nos diga para desistir. A escola desmorona-se quando os que cá estão deixam de ter a clareza para ver que o mérito, o trabalho, a excelência e o brio são os suportes da qualidade e da competência. E reparem que não falo de "quotas", ou de "comparações". Falo apenas de defender o que é basilar: a Educação é a base da sociedade em que vivemos. E eu não quero cá estar para assistir ao(s) seu(s) fim(ns).