10 de abril de 2012

Uma nota de desistência...

Há já algum tempo que por aqui não passava. Devo dizer que, na realidade, a vontade de escrever (e de, consequentemente, refletir sobre os escritos) não é muita. Invariavelmente dou por mim a tolher ainda mais a minha disponibilidade, a minha pertinência, a minha "garra"... Estou, como se pode imaginar, cada vez mais desiludido. E não é por causa da tão falada "crise". A crise (a minha) é diferente. É motivacional. Ao longo de todos estes anos em que desenvolvo a profissão que escolhi como minha (e houve outras que poderia ter escolhido com, acho eu, igual sucesso) tenho tido, por um lado, a sorte de me ir sentindo "empurrado" na minha motivação para continuar por um conjunto de pessoas, de sugestões, de ideias por que vale a pena lutar. Mas, por outro, o funil tem-se vindo a fechar. Ao longo destes anos, uma vezes pior, outras com mais sucesso, tenho mostrado que o que faço é digno de ser feito. Ao longo dos anos têm sido inúmeros os momentos em que, em partilha com outros amigos e colegas chegamos à conclusão que "fazemos bem". Ao longo dos anos têm sido algumas as "recompensas" que me "intimam" a continuar na mesma senda pela qualidade, pela excelência. Não é de agora, nem sequer é por razão de "avaliações", mas sempre defendi que a excelência deve ser o objetivo e o mérito deve ser a estratégia. E, sair da "crise" (de todas as crises!) deve ter como base a luta pela excelência. Excelência essa que se deve assumir como uma exigência, auto-imposta mas também definida por critérios exógenos. Ao longo dos anos permiti-me avaliar-me e ser avaliado. Não num qualquer modelo de avaliação externo e mal construído, mas num sistema contínuo e com critérios de sustentabilidade eficazes e criteriosos: a profissão que escolhi e os efeitos que a minha profissionalidade tem nos outros. E, nesse sistema, ao qual atribuo imenso rigor, tenho a certeza que passei com distinção e com mérito. Mas, no(s) outro(s), naqueles sistemas de avaliação mesquinhos e adestrados, que têm como principais agentes um conjunto de seres (para não lhes chamar "coisas") invertebrados, desejosos de uma qualquer distinção plástica e insignificante (que não param, sequer, para pensar nos efeitos que terão as suas "avaliações" no futuro de uma comunidade, de um país, de uma nação), nesse(s), devo dizer-vos que não fui bem sucedido. Muito pelo contrário: falhei redondamente. Falhei porque não gosto das regras por eles impostas. E como não gosto das regras, não vou jogar mais. É este o momento de abandono. Desisto. Mas desisto mesmo. Durante muito tempo fui ouvindo os impulsos e os "empurrões" que fui recebendo, de "não desistir", de "não entregar o ouro aos bandidos", mas, quando o nosso chefe (leia-se Diretor) nos diz, claramente, que "não há ninguém excelente e que os mestrados e doutoramentos não fazem ninguém ser melhor", o que eu sinto é que chegou ao fim. Não que eu não possa aceitar esse comentário, ainda por cima vindo de quem vem, mas não é espetável ouvi-lo de alguém com um papel preponderante na motivação dos seus "subordinados"... Ainda por cima daqueles que constroem, diariamente, uma escola melhor.. Desisto porque não é esperado, num sistema de mérito e de excelência, que o chefe nos diga para desistir. A escola desmorona-se quando os que cá estão deixam de ter a clareza para ver que o mérito, o trabalho, a excelência e o brio são os suportes da qualidade e da competência. E reparem que não falo de "quotas", ou de "comparações". Falo apenas de defender o que é basilar: a Educação é a base da sociedade em que vivemos. E eu não quero cá estar para assistir ao(s) seu(s) fim(ns).

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