22 de janeiro de 2017

Avaliamos...


...mas, para que Escola?

Após a publicação das OCEPE, parece que o fundamental da discussão entre profissionais de educação de infância tem sido a Avaliação em Educação de Infância.
Como fazer, porque fazer, para quê fazer?...
Nesta(s), como em outras reflexões, parece-me sempre pertinente ir um bocadinho mais fundo. É importante percebermos para que Escola discutimos "avaliação".
Tendemos a ser incoerentes sem sequer perceber que o somos.
Com o advento das redes sociais, e com a nossa cada vez maior "dedicação" ao que se passa on-line, tendemos a usá-las como um prolongamento do que somos, evidenciamos as nossas crenças, "falamos" com as palavras dos outros.
O Ken Robinson, o Eduardo Sá, as escolas transformistas, as escolas ecológicas ou muitos outros "movimentos" alternativos são, em grande parte, o nosso "guilty pleasure" que partilhamos à exaustão, sobre os quais discursamos e que, na maior parte das vezes, elegemos como bandeira ou crença pedagógica.
Nesses "movimentos" e opiniões, a escola da criatividade, do prazer, da participação, da alegria, do individuo, é,  em larga medida, o foco central.
É a escola alternativa, a que não é uma "fábrica de alunos" ou um local de obrigação.
Mas, depois...
...Avaliamos a escola que contestamos.
Avaliamos as aprendizagens à luz dos pressupostos académicos que imaginamos corretos. Avaliamos a participação e a intervenção com base nas nossas crenças e nas "orientações" formais (não as legais. Essas são outras!).
Avaliamos com base no que "sempre se fez", no que nos dizem que devemos avaliar para que exista uma "transição" pacífica...
Se tentássemos "desconstruir" algumas das nossas incongruências, sentir-nos-iamos muito mal.
Enquanto profissionais de educação de infância temos um conjunto de informações pertinentes sobre os processos de formação e desenvolvimento pessoal e social da criança.
Sabemos, por exemplo, a montante do espaço académico, que é até aos 5, 6 anos que a criança adquire um conjunto essencial de competências pessoais que lhes serão úteis durante toda a vida.
Sabemos, por exemplo, que nestas idades o sono, a auto-higiene ou a consciência de si (bons hábitos de...) são cruciais.
Sabemos, por exemplo, que a nutrição seguida nestas idades define o tipo alimentar do indivíduo.
Sabemos também que a maior parte das convenções sociais se adquirem neste "momento".
Sabemos que as inteligências são múltiplas...
Sabemos isso tudo.
Mas...
O que nos interessa é avaliar os modelos de ensino/aprendizagem que pressupõem a aquisição de conhecimentos técnicos e académicos.
O que nos interessa é propor modelos/sistemas de avaliação que favoreçam a nossa própria acuidade profissional e não o "desenvolvimento" e "aprendizagem" das crianças.
O que nos interessa é que não "nos culpem" quando as crianças cheguem "à escola".
O que nos interessa, realmente, é fingir que tudo está bem.
E, assim sendo, elaboramos um conjunto de indicadores que satisfaçam a vontade do "outro".
Do pai que "acha", do colega que "precisa", da instituição que "exige".
A avaliação, qualquer avaliação, deve (tem de!) estar imbrincada com os objetivos a que nos propomos.
Sem assim ser, não fará qualquer sentido. É desconexa, pouco significativa e até mesmo inglória.
De que nos serve "defender" uma escola do prazer, da curiosidade, do respeito e da criatividade quando, de facto, nos escudamos nas grelhas comportamentais e desenvolvimentais, nos critérios classificativos e organizativos ou nas metas e objetivos escolares esperados?
E porque tendemos a, mesmo desvalorizando, organizar tão somente o conjunto de indicadores académicos e formais como base da nossa ação docente?
Sejamos coerentes.
A nossa melhor avaliação advém dos índices de satisfação (os nossos e os dos outros) tendo por base as nossas crenças e devires pedagógicos.
A Escola em que acreditamos é aquela que buscamos. E isso deve refletir-se nos processos avaliativos.
Se eu não acredito na função académica da escola  (porque desejo uma escola ecológica e social, por exemplo), então tenho de construir um modelo no qual a avaliação incida sobre os pressupostos teóricos dessa escola que procuro.
De que me serve avaliar sobre as competências técnicas e formais em crianças de tenra idade, ou sobre competências académicas, ou capacidades e habilidades motoras especificas se aquilo em que acredito é que a frequência de uma Educação de Infância de qualidade é promotora de estruturas "para a vida"?
E, sendo assim, porque não avalio as incidências não académicas?
A criança revela dificuldades no domínio alimentar? Dos hábitos de sono? Da consciência ecológica? 
Avaliar pressupõe, de facto, a existência de instrumentos adequados e específicos.
Mas mais do que "avaliar", é fudamental que se avalie com base nos pressupostos de origem.
E, se "queremos" outra Escola, é tempo de começar a construir indicadores e modelos de avaliação que lhe sejam correspondentes.
Ou corremos o risco de continuar a "fazer de conta".

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