18 de janeiro de 2019

PEDAGOGIA DA POÇA


Há uns anos escrevi um texto (publicado numa revista da especialidade), ao qual dei o título "Pedagogia da Cachupa".
Grosso modo, refletia sobre a (na altura) profusão de projetos "multiculturais" que chegavam às escolas. Quase todos os dias havia festas com Cachupa, Moamba e muita música de inspiração africana. Todas as comunidades escolares se organizavam para "receber" e "incluir" as crianças e famílias que, de alguma forma se viam confrontadas com um certo racismo e uma atitude xenófoba da sociedade que os acolhia. De uma forma geral, estas festas e atividades pretendiam "dar a conhecer" a cultura, os hábitos, as lógicas sociais e humanas daqueles que, tendo nascido em outros países (alguns em guerra, na altura) corriam meio mundo para tentar uma vida melhor para si e para os seus filhos. E, como objetivo fundamental e final, "ensinar o respeito pelo outro".
Não querendo repetir o artigo, assinalo apenas a pergunta final que aí deixava: "quantos de nós sabem em que dia (e mês) se celebra (de acordo com a resolução da ONA) o Dia de África? E quantos de nós saberão o que é o Umbundu?..."
Serve este pequeno prólogo para fazer notar que, alguns anos depois (e mantendo-se a "alguma" atitude racista e xenófoba daqueles que, à altura, eram os destinatários de tais "projetos integradores", que se continuam a mostrar irredutíveis em relação à imigração ou mesmo ao conhecimento da(s) cultura(s) e hábitos de outra comunidades), em algo a Educação (e sobretudo os tais "projetos educativos") não mudou muito: hoje chamo "Pedagogia da Poça" ao surgimento de uma imensidão de projetos com "água", "mar" "oceanos" e "poluição marinha" que nos avassala...
Porque me parece, como há uns anos me pareceu, que falta alguma profundidade na base, na análise, na reflexão, na ação...
Porque a água se respeita quando se aprende a respeitar. Porque o cultura de respeito se cultiva quando, por exemplo, se desenvolvem processos de aprendizagem e desenvolvimento que não têm um fim em forma de "concurso".
Porque a água se respeita quando (e sobretudo num país atlântico como o nosso) a adequação ao meio aquático dos cidadãos ou a utilização de sistemas de poupança (particulares e colectivos) são endémicos e não apenas fruto de uma moda passageira (e sim, compete-nos a todos perceber que as ações terão de ser nossas. Sejam pessoais ou profissionais. Mesmo que eu não goste ou não saiba nadar ou tenha um poço ao fundo do quintal...).
No meu caso particular, poderia falar-vos da dificuldade que é levar um grupo de 25 crianças à piscina municipal em "horário lectivo" (e das "vozes contra" que persistem). Ou da demora institucional (e os decorrentes processos burocráticos) para poder trocar, na escola, uma torneira que pinga...
Não vou fazê-lo apenas porque creio que será recorrente em muitas escolas por este país fora.
Fica, contudo, esta reflexão em voz alta: por mais projetos e pedagogias que "sirvam" para "chamar à atenção", torna-se cada vez mais essencial apostar numa "Pedagogia do Carácter". Para alunos. Mas não apenas.
Porque a ecologia que precisa, urgentemente, de uma "moda duradora" é mesmo a do ser humano...

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