2 de dezembro de 2005

Hipocrisia Pedagógica

Continua no centro da discussão a ideia de que a escola deve ser o garante e a base do desenvolvimento de competências sociais, culturais e humanas que permitam distinguir e promover a formação cívica, a cidadania, a partilha e a democraticidade dos Homens.
Não nos opomos a esta ideia, nem tão pouco a discutimos.
Também é por demais evidente que a Educação Pré-Escolar é a base da formação ao longo da vida, e, parafraseando Robert Fulghum, “Tudo o que eu devia saber na vida aprendi no Jardim-de-infância”.
Contudo, por incongruências várias, ou talvez não, o Jardim-de-infância não parece estar ao nível das exigências que lhe fazemos. Infelizmente, esta base, de quem todos muito esperamos, ainda precisa encontrar o seu próprio espaço de rigor e de excelência. Só atingindo esse patamar de qualidade, o Jardim-de-infância se poderá incluir no reduzido grupo de instituições sociais de mérito efectivo.
Mas versar o mérito do Jardim-de-infância implica, necessariamente, reflectir o mérito dos seus profissionais. Não pretendemos qualificar, avaliar ou classificar o desempenho, por vezes inumano de alguns destes profissionais, tão só reflectir a coerência pedagógica das suas escolhas e opções.
Se é verdade que, qualquer adulto, ao cruzar-se na rua com um outro que traje um fato igual ao que usa, em determinado momento, prefere inverter a sua marcha e tentar “passar despercebido”, para não se confundir, ou não passar por “macaco de imitação”, porquê insistir na uniformidade das vestimentas escolares?
E se defendemos a diferença, a participação cívica, a autenticidade, a autonomia e todos os outros valores associados, porque continuamos a sair com os meninos organizados em filas e de mãos dadas?
Poderíamos também reflectir ainda as “queixinhas” que não queremos que nos sejam feitas quando o menino A magoou o menino B enquanto falamos com os pais deles sobre o desempenho do menino C…
Ou ainda sobre cheiro a tabaco que os nossos dedos libertam enquanto reflectimos, em grupo, sobre os malefícios do mesmo…
Estes pequenos nadas, cheios de significado, mais do que se constituírem como uma bandeira de luta profissional e política deviam calar bem fundo nas nossas práticas diárias e constituir-se como os mais importantes critérios de avaliação das nossas competências enquanto docentes.
E não será só o que fazemos enquanto docentes que importará reflectir, mas, essencialmente, o que somos como cidadãos, pertencentes a um lugar e a uma cultura, movimentando-nos numa teia de inter-relações pessoais e sociais, e com fortes responsabilidades educativas…

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito. Obrigado
Deus abençõe