30 de setembro de 2012

A Força da Democracia... Ou o outro lado da manipulação.

Em todos os tempos e em todos os momentos, a manipulação social, a conspiração (consciente ou não!) e um "autoritarismo" disfarçado foram (e continuarão a ser) uma espécie de desígnio dos povos ditos desenvolvidos.
Em A Psicologia das Massas (1895), Gustave Le Bon teorizou que, numa multidão, a personalidade do indivíduo é dominada pelo comportamento coletivo. Assim, as suas formulações vieram a ser incluídas entre as "teorias do contágio", que descrevem o comportamento da multidão como uma resposta irracional e cega à situação psicológica criada pela circunstância da multidão.
Sabendo isto, há sempre quem instrumentalize uma ideia, um objetivo, uma direção.
Que fique claro, desde já, que me sinto orgulhoso e envolvido no(s) movimentos(s) sociais que, lentamente, começam a despertar as pessoas, os cidadãos, de uma letargia que os manteve envoltos numa cortina viscosa e impeditiva, criada e mantida por uns poucos.
Que fique claro que, no meu esforço diário e individual, não só me manterei fiel a este espaço de contestação individual, como manterei o meu espaço irredutível de individualidade e, acima de tudo, de comportamento contra corrente e desalinhado. Sempre o fiz e continuarei a fazê-lo.
Não sou um anarca e confio plenamente numa sociedade democrática e plural, onde todos podem e devem ter opinião.
Mas sinto como fundamental duas premissas: que cada um de nós reflita sobre as suas próprias opiniões e, acima de tudo, que respeite a opinião dos outros.
Se algum dia conseguirmos entender, enquanto cidadãos, que o problema não é o "vizinho" ter um BMW, talvez possamos chegar lá.
A nossa participação social não pode ser ditada pelo mais puro dos sentimentos humanos: a Inveja.
Todos nós invejamos. Apenas temos de ter consciência disso. E pautar o nosso comportamento pelo conhecimento dessa realidade.
O que nos deve guiar é o respeito pelos outros. Pela diferença e individualidade dos outros
Isto a propósito de começar a observar, como costuma ser um hábito nas sociedades em mudança, que surgem agora inúmeros movimentos, intenções coletivas, propostas políticas...
A "desunião" evidenciada nestes pretensamente democráticos movimentos faz-me questionar (e, de certa forma, construir certezas!) que este é o princípio do fim da mudança.
Nestes tempos de mudança efetiva, a primeira que devemos fazer é compreender que a consciência coletiva não é nem a soma das individualidades, nem a representação de uma (a maior, a mais "votada", a com mais defensores...) ideia bem embrulhada e vendida.
Émile Durkheim clarificou que "para que exista o fato social é preciso que pelo menos vários indivíduos tenham misturado sua ações e que dessa combinação tenha surgido um produto novo". Este "produto" novo, formado por formas coletivas de agir e pensar, manifesta-se como uma realidade externa às pessoas. Tem vida própria, não depende de um indivíduo ou outro.
Durkheim referiu também que um "fenómeno só pode ser coletivo se for comum a todos os membros da sociedade ou, pelo menos, à maior parte deles, portanto, se for geral. Mas, se ele é geral, é porque é coletivo (isto é, mais ou menos obrigatório), o que é bem diferente de ser coletivo por ser geral." (As regras do método sociológico, 1998. Editorial Presença).
Por tudo isto, até que ponto não estaremos nós, neste momento, a ser "manipulados" numa pretensa ideia de "saída" para a crise em que nos encontramos?
Duas questões?
- Que Crise, efetivamente é esta? Um crise de valores, de comportamentos e modelos ético-morais, de substância humana, ou apenas financeira?
- Que modelo de desenvolvimento e respostas individuais devem ser as que daremos para "sair" da crise? Teremos nós feito já a construção de um modelo social que nos defenda e nos faça envolver-nos na construção do espaço comum e coletivo da sociedade?
Porque acho que ainda não nos demos "ao trabalho" de tentar, individualmente, responder a estas questões, continuo a sentir que continuaremos a ser manipulados e "orientados" por um punhado de gente que, nem sempre, mantém as "boas intenções" com que começa as caminhadas...
Até o Jesus morreu antes disso...

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