9 de setembro de 2012

Lutar????!!! Porquê agora?

Pedem-me agora, por insistentes mensagens, publicações e comentários nas diversas redes sociais, que me "junte à luta".
A maior parte destes pedidos (ou, pelo menos, a maior intensidade) chegaram-me depois daquele senhor que é representante de um conjunto de instituições financeiras ter falado aos "portugueses", na passada sexta-feira.
Ao longo de todos os anos em que me conheço, tenho apelado ao "colega" que não leve o lápis do trabalho para casa, tenho sugerido ao "amigo" que não estacione o veículo em cima do passeio, obstruindo a passagem de todas as outras pessoas (independentemente das suas capacidades motoras), tenho solicitado ao "parceiro" que assuma uma atitude colaborativa, mais do que interesseira, tenho promovido, na minha atividade profissional direta (com as crianças) um modelo de desenvolvimento baseado na conciliação de diferenças. Mas tenho também, ao longo deste tempo experimentado uma constante crítica e obstrução por parte daqueles que deveriam ser mais próximos. O "não vale a pena", o "estás a armar-te!, o "és parvo e devias era calar-te", ou o "deves ter a mania que vais mudar alguma coisa" foram as "respostas" mais comuns que obtive quando apelei ao envolvimento, à reflexão, à tomada de posição.
Se instiguei a reflexão de não concordar com medidas inusitadas e completamente despropositadas por parte dos gestores "superiores", tive como resposta o "exílio". Se procurei fomentar o debate e a participação, tive como respostas o desinteresse. Se tentei construir comunhão e parceria de interesses, tive como resultado a exclusão.
Por tudo isto, os meus 40 anos mostram-me que esta "fase de luta" que agora se pede é absolutamente extemporânea e pouco sucesso terá.
A "luta", a ser travada e vencida, implicaria que a cultura de participação, colaboração e cooperação dos portugueses fosse outra. Que fosse a da solidariedade coletiva, guiada por um objetivo comum e que, acima de tudo, cada um de nós pudesse compreender que a a força da estrutura é aferida pela fraqueza do seu elemento mais fraco.
Seria necessário que todos nós soubéssemos que perder individualmente poderia significar um ganho coletivo.
Mas para essa "mudança" teríamos de nos qualificar (educar, formar, instruir...) como uma nação, com interesses e vontades comuns, e guiados por modelos de desenvolvimento coletivo e social e não de riqueza material individual...
Nunca percebi porquê juntar à nossa volta uma miríade de "coisas" que nunca nos farão ser.
Ter não é Ser, e enquanto vivermos enganado neste particular, viveremos infelizes e seremos manobráveis, influenciáveis e ingovernáveis...
A questão não é a "crise" financeira ou económica. A questão é Ética, de Moral e de Valores.
E não temos feito nada por a resolver.
Nada mesmo.
Por isso, ao pedir-me para "lutar", só posso sentir que lutarei como até aqui: acreditando que é nos meus atos e atitudes individuais, na profissão que escolhi, que continuarei a bater-me por ser livre, por acreditar que a reflexão, a participação e o envolvimento faz de nós pessoas melhores e, consequentemente, uma Nação melhor!
É nisto que sempre acreditei e continuarei a acreditar, mesmo que isso me continue a custar a exclusão, o descrédito e a oposição de muitos daqueles que, durante muito tempo, viveram à sombra do "sistema" que criaram e que os protegeu.

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