Respondi assim:
Já tenho alguns anos de expetativas sempre que um ano letivo
começa. E, invariavelmente, quando me dedico a fazer a avaliação final e
retrospetiva, acabo a concluir que nunca correspondem ao que, no final,
constato.
Talvez porque as expetativas são, normalmente, altas ou porque
a Educação, em Portugal não é uma ciência exata, ano após ano vou compreendendo
que é sempre melhor “esperar para ver”.
Não obstante, e tendo em conta alguns dos “anúncios” (uns
formais, outros oficiosos) divulgados pelo Ministério da Educação e Ciência
(MEC), acredito que algumas “coisas” acontecerão ao longo deste ano letivo que
agora se inicia.
Em primeiro lugar, sinto que nunca como agora se olhou para
a Educação como um espaço de intervenção social, económica e cultural. E esse
sentimento torna-se mais evidente pela análise das condições económicas associadas
ao processo educativo do país do que pela assunção da importância do espaço
educativo como motor de desenvolvimento.
Parece-me que a Educação não será um “investimento de valor
seguro”. Pelo menos na educação pré-escolar e no primeiro ciclo do ensino
básico: o aumento do número de alunos por turma, os condicionalismos impostos
ao número de turmas (esquecendo, por vezes, as características locais e
culturais), a reorganização de conteúdos curriculares e a “autonomia” de
decisão parecem-me fatores a ter em conta numa análise de expetativas.
A irresponsável forma de “redistribuição” de “funcionários
públicos da educação” (vulgo professores), sem qualquer tipo de análise e
avaliação de competências (de entre os que fazem já parte dos quadros do MEC),
com objetivos puramente economicistas vem não só alterar as dinâmicas em curso
em muitas escolas como, em alguns casos, penalizar boas práticas desenvolvidas
por docentes recém chegados ao sistema, e por isso mais atualizados (e quiçá)
melhor preparados para os desafios da Educação. Mais grave ainda porque faz “tábua
rasa” de processos de avaliação (e não discuto a sua qualidade!) que envolveram
todos os docentes nos últimos anos. A “dispensa” de professores sem qualquer
correlação com os seus resultados educativos e pedagógicos, favorecendo, em
alguns casos, o regresso às salas de aulas de docentes com falta de rotina e,
sobretudo, conhecimento pedagógico atualizado, é assustador.
Daqui também se pode inferir uma outra expetativa negativa
que tenho: os gestores escolares (vulgo Diretores), cerceados por uma pretensa
autonomia que, na realidade não existe (seja por vontade própria, seja por via
de um sistema burocrático e centralizado) e não tendo, por eles, competências
reais de gestão económica, de recursos contabilísticos e humanos e de
capacidade financeira, transformar-se-ão em esbirros do poder económico,
esquecendo as suas qualidades docentes e de planeamento pedagógico.
Por tudo o que expus, o meu principal desejo para este ano é
o de que o “investimento” na Educação seja muito mais reflexivo e de
planeamento do que financeiro e económico. Antes de mais, é fundamental que a
Escola olhe para as mudanças sociais em curso como um todo e que as saiba
incorporar na sua dinâmica formativa. Não o fizemos com os desafios anteriores
(demográficos, tecnológicos, conhecimento…) e estamos a caminhar para que assim
continue. Mas, apesar das “boas intenções” demonstradas, não me parece que
possamos presumir que o ano letivo seja pródigo em análise, reflexão e planeamento
educativo…
No fundo, a “novidade” que mais prazer me daria receber é a
de que os docentes aproveitariam estas contrariedades designadas de “crise”
para reconstruir um modelo educativo de longo prazo para o país. Essa seria
mesmo a “única” novidade…
Para todos aqueles que agora iniciam mais um ano a acreditar que é possível, Boa Sorte!
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