Este desabafo precisa de ser lido com alguma atenção, para não se perder o fio à meada...
O meu avô paterno, filho de "pai incógnito", ficou órfão no nascimento e foi criado por uma senhora que tinha uma casa onde se "serviam refeições".
Casou com a minha avó, de quem teve dois filhos, e, pouco antes do primeiro fazer 5 anos (o meu pai), estavam já divorciados. Este meu avô, posteriormente, casou com a irmã da minha avó (minha tia-avó, portanto), não tendo tido outros filhos, mas vivendo juntos até à morte de ambos.
A minha tia, irmã do meu pai, nunca casou.
O meu pai, que anda, por agora, nos 80, casou-se com 20 anos (a minha mãe tinha 15), continuam a viver juntos, e criaram 4 belíssimos rapagões.
Todos estes rapagões se casaram e divorciaram (com exceção de um, que mantém o primeiro casamento, com 3 filhos fantásticos!). No conjunto, deixam, para já, uma prole de 6 novos únicos seres a este mundo. Homens e mulheres, com gostos, anseios e projetos diferentes.
A minha avó materna, encontrou um homem, que, segundo dizem (nunca o conheci), era um excelente profissional, mas como estava também amantizado com a bebida, por vezes "excedia-se na forma de amar". Deixaram-nos uma mãe e um tio que, durante toda a vida, pouco vi e com quem quase nunca convivi.
Dos 4 rapagões, conta-se que todos eles seguiram a sua vida.
Com maior ou menor (mais maior, que menor!) sucesso profissional e pessoal, alguns encontraram as suas famílias longe do local que os viu nascer (alargando as suas influências sanguíneas a terras tão distantes como a Rússia ou a Alemanha, por exemplo).
Os divorciados, mantêm ligações com as famílias dos seus filhos e seguem a sua vida respeitando-se e convivendo, face a um interesse maior.
Nesta minha "família tradicional", os Natais, ou Páscoas ou quaisquer outras "festividades de família", foram quase sempre passados "em trânsito" (de casa do avô para a casa da avó, da casa do "marido" para a casa da "mulher", da casa dos pais para a casa dos filhos...) e, muitas vezes, dentro de transportes públicos (asseguro-vos que os horários da maioria dos transportes públicos, só há muito pouco tempo são de confiar...)
Por tudo isto (e muito mais que não cabe aqui), esta ideia de "família tradicional" sempre me foi semelhante a "família de telenovela", não conseguindo, portanto, entender o que algumas traças da roupa insinuam quando falam de "identidade" e/ou "família", como se estes conceitos fossem coisas "do antigamente" que devem manter-se inalteradas (se fizerem contas, os meus avós divorciaram-se há mais de 75 anos!).
Confesso-vos que, por vezes, suspeito que o são convívio que esta minha família sempre manteve se deve ao facto de nunca termos tido "heranças" e "propriedades" para dividir, ou também porque sempre fomos capazes, por educação e convicção, de nos respeitarmos e apoiarmos nas nossas escolhas individuais e pessoais. Mas estes factos parecem não ser importantes quando o "Clube da Traça" surge no éter...
Portanto, quer-me parecer que, no fundo, os "problemas" surgem quando a situação se refere (como acontecia no Séc. XII e os medievos encontraram uma forma de manter os seus bens e posses através de um contrato benzido pelo Clero), ao tal "matrimónio" que pretende manter as terras, os brasões e as influências, essas sim, como "tradicionais"...
Enfim...
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