Descentralizar para participar. É a palavra de ordem.
Surge este tema após alguns exemplos de práticas menos conseguidas (e não por vontade "própria") que pretendem promover o conceito de democracia participada. Centrar-me-ei em dois momentos, ou seja, dois exemplos do referido "conceito".
No passado sábado, desloquei-me até à bonita cidade de Pombal no âmbito de um projecto (integrado numa dinâmica da qual me sinto, pelo menos co-autor) iniciado há cerca de três anos pela Associação de Profissionais de Educação de Infância, a que se deu o título de Sábados Temáticos, Partilhar e Reflectir a(s) Prática(s).
Estes momentos de reflexão e partilha conjunta, que começaram a ser realizados no último sábado de cada mês, na sede da associação, têm como principal objectivo juntar um conjunto mais ou menos alargado de profissionais para analisar, avaliar e integrar práticas, com base em testemunhos de outros profissionais que, pela sua dinâmica, pela sua experiência ou tão só pela sua vontade, desenvolvem actividades que, ao longo dos tempos, vão produzindo efeitos positivos e visíveis, e que, por isso mesmo, poderão servir como exemplo a seguir, ou, quanto muito, a "ouvir".
Após um primeiro ano de adequado funcionamento e aparente sucesso (transmitido pelas diversas avaliações dos participantes), eis que a associação decidiu responder aos inúmeros pedidos de "descentralização" que lhe chegavam, muitas vezes com "acusações" de "falta de vertente nacional" de uma associação representativa de todos os profissionais da área.
Não querendo assumir qualquer tipo de "juízo de valor" sobre a minha ida a Pombal para encontrar três exímias representantes (de um total de catorze pré-inscritos) da educação de infância, dispostas a participar e a colaborar num espaço de reflexão conjunto, acho que devo, pelo menos, apresentar algumas ideias-chave que urge reflectir: a minha deslocação a Pombal, apesar de subsidiada pela referida associação, não contempla um pagamento devido ao esforço pessoal e familiar (um sábado longe da família), ao desgaste natural de uma deslocação deste tipo, material e humano (desloco-me a partir de Lisboa) nem a infame ideia de que a minha prática possa não ter qualquer interesse em ser escurtinada.
Por outro lado, a minha constante motivação para participar, enquanto profissional e docente, em espaços de partilha, nomeadamente ao serviço de uma associação representativa, deve-se ao facto de acreditar, de forma incisiva, na força do diálogo, da reflexão e da partilha, pelo que, mesmo que fosse apenas um interessado em "reflecir em conjunto", iria, na mesma, a Pombal. Contudo, não posso deixar de reflectir que (e é verdade que assumi já, em tempos, funções de direcção na referida associação) senti como pessoais as (muitas) críticas constantemente dirigidas sobre a tal "centralização" das actividades, à incapacidade de "desenvolver actividades e acções fora de Lisboa".
Pois então, depois desta experiência de "não participação" de que me senti vítima, num espaço de "descentralização", não posso de me deixar de me indignar, sentindo-me perplexo e incomodado com algum "discurso" que por aí anda, onde a tónica é dada ao "nunca pensam em nós" e depois, é o que se vê...
Ou seja, e em jeito de conclusão: há quem "se esforce", "se dedique", "se exponha", com um objectivo de alargar as opções de escolha e depois recebe críticas?
O outro espaço de indignação que me assiste também é o da "desinformação consciente" que leva (algumas) pessoas a "passar ao lado" de coisas importantíssimas para a sua prática (e percurso) profissional.
Isto a propósito do espaço de "participação" que agora se inicia em quase todas as escolas (agrupamentos) do país com a publicação do novo Regime de Autonomia e Gestão das Escolas, onde o Conselho Geral (CG) provisório assume especial importância.
Os educdores estão, literalmente "a dormir" e, pelo que tenho visto, nem se importam de não estarem representados no dito. Como diz a lei, a eleição para o CG obedece aos "rigores" do método da média mais alta de Hondt, o que significa que, a existirem, pelo menos duas listas candidatas, os últimos lugares não serão eleitos. E são nestes lugares (nos que conheço) os "ocupados" pelos educadores...
Mais um exemplo de "participação" activa!
E não hei-de eu preocupar-me com a minha profissão??!!
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