Não é fácil viver num país que está sempre "no fim da lista".
Esta expressão de "reconhecimento" é, desde há muitos anos, sinónimo da "maneira de ser" lusa.
Há dias lia uma "estória" (teoricamente) verdadeira, na qual dois diplomatas portugueses reflectiam sobre o tal "Ser Português".
Dizia um que "não compreendia o porquê de um povo que viu nascer grandes exploradores e navegadores, que deram Mundo ao Mundo, se ter afogado numa proverbial mesquinhez e insensatez".
Ao que o outro responde: "Não, amigo. Estás enganado. Os portugueses que temos hoje não são descendentes dos que foram. São-no dos que ficaram!"
Infelizmente, sou tentado a concordar com esta sábia resposta.
Escrevo hoje agastado com os "acontecimentos do dia". Por mais que tente, neste espaço, reflectir apenas "a frio" as incidências da minha "vida" profissional, não posso deixar de "comentar" como me sinto tão "pequeno" quando testemunho, no dia-a-dia profissional, a evidência que a "culpa" de Portugal são mesmo os portugueses.
Podemos esmerar-nos por fazer aquilo em que acreditamos, individualmente, e, ao acreditarmos, podemos potenciar um conjunto alargado de mais-valias em nós e nos outros.
Podemos dar o que (sabemos) os outros não dão, apenas porque acreditamos que, num espírito solidário e de apoio mútuo, é importante construir, mais do que destruir.
Podemos envolver-nos porque esse envolvimento funciona como um convite à participação de outros. Podemos empenhar-nos porque sabemos que, num âmbito global, esse empenhamento nos será devolvido, mesmo que de formas muito simples.
O que não podemos é combater a inveja, a mesquinhez, o egoísmo destrutivo que tem, como objectivo único, a debilidade do conjunto.
Num momento em que ouvimos o nosso colega, o nosso vizinho, o nosso familiar a "queixar-se" da situação do "país", dos governantes, das instituições burocráticas e imobilistas...
Num momento em que, para "sair da crise" é fundamental "pensar mais além"...
Num momento em que, acima de tudo, deveríamos acreditar no esforço cooperativo e colaborativo...
...É-nos difícil aceitar que as palavras são vãs.
Sou profissional num local onde, por variadíssimas razões (e sobretudo pela minha "história" profissional), sinto que se trabalha com um espírito incomum de dedicação, de competência, de criatividade e de excelência.
Ao contrário da maior parte dos locais por onde passei anteriormente, assisto hoje a dinâmicas que nos permitem, localmente, "dar o melhor de nós". Fazemo-lo porque acreditamos que, numa perspectiva global,os ganhos desse envolvimento serão aproveitados por muitos. Muitos mais do que apenas os "clientes" naturais dessa acção.
Mas, esse nível de dedicação causa inveja. E, naturalmente, cria "anti-corpos".
E o mais difícil é encontrar vacinas para esse espírito mesquinho de inveja.
Sempre acreditei que, das boas ideias e das boas práticas se deve pensar: "Excelente. Também quero fazer assim!".
Infelizmente, em Portugal, a maior parte das pessoas (mesmo que diga o contrário), pensa: "Que m.... Não fui eu que tive essa ideia. Ora deixa lá pôr aqui um grãozinho de areia na engrenagem..."
E, pior mesmo, é que, normalmente, esta atitude negativa causa mais mal do que bem.
E desmotiva.
Talvez amanhã seja outro dia!
29 de março de 2011
20 de março de 2011
Género?
Mais uma vez (sim, já "respondi" a alguns apelos destes!), irei dar o "meu testemunho" num programa de televisão sobre a questão do género no trabalho.
Partimos, normalmente, do princípio que algumas profissões são muito identificadas com um género. Os polícias têm de ser homens. Os construtores civis também. As costureiras só podem ser mulheres...
Não me revejo nesta "divisão machista" do trabalho.
Sei (por experiência), que, muito mais importante que a questão do género é a questão da competência no exercício da função. E, acima desta, a questão dos resultados obtidos.
É esperado que "seja notícia" um homem que desempenha uma função identificada como "feminina".
Não compreendo, mas aceito, dada a "anormalidade" da coisa.
Mas interessa-me, sobretudo, reflectir a competência para a realizar (a função) e não tanto a lógica de género.
Tenho em mim a ideia que qualquer que seja a função, deve ser, fundamentalmente um espaço de realização pessoal e de procura pela "Excelência".
Nesta perspectiva, não há (ou não deveria haver) profissões masculinas ou femininas. Aceito que, devido a essa "desigualdade" de tratamento, exista quem "sofra". E não posso deixar de reconhecer que, na maioria das vezes, as mulheres são mais prejudicadas.
Mas, quanto a mim, posso afirmar que não me é fácil ser Educador de Infância.
Tenho passado muito tempo a provar que o facto de "não ser mãe, mulher...", não me impede de ser bom profissional. Tenho, inclusive, passado bastante tempo a demonstrar inequivocamente que a "falta de instinto maternal" não é impedimento para se ser um profissional competente.
E, independentemente do esforço, é entre pares que as coisas são mais difíceis.
Mas, para que fique claro, a questão da competência é assexuada. Perseguir a Excelência não é uma responsabilidade de género. É um imperativo social.
Sei que teria a mesma atitude face ao trabalho em qualquer outra profissão que tivesse escolhido.
Mas, enquanto for mais importante "falar" das questões de género, dificilmente daremos real importância ao que interessa: produzir com qualidade e procurando a excelência no que fazemos.
Por tal, enquanto se "falar" de género, não se falará de Qualidade. E isso é problemático, principalmente num país que luta deseperadamente para sair do fosso em que se meteu...
Talvez da Finlândia não necessitemos apenas do exemplo educativo, mas, sobretudo, do modelo de "igualdade de género"...
Partimos, normalmente, do princípio que algumas profissões são muito identificadas com um género. Os polícias têm de ser homens. Os construtores civis também. As costureiras só podem ser mulheres...
Não me revejo nesta "divisão machista" do trabalho.
Sei (por experiência), que, muito mais importante que a questão do género é a questão da competência no exercício da função. E, acima desta, a questão dos resultados obtidos.
É esperado que "seja notícia" um homem que desempenha uma função identificada como "feminina".
Não compreendo, mas aceito, dada a "anormalidade" da coisa.
Mas interessa-me, sobretudo, reflectir a competência para a realizar (a função) e não tanto a lógica de género.
Tenho em mim a ideia que qualquer que seja a função, deve ser, fundamentalmente um espaço de realização pessoal e de procura pela "Excelência".
Nesta perspectiva, não há (ou não deveria haver) profissões masculinas ou femininas. Aceito que, devido a essa "desigualdade" de tratamento, exista quem "sofra". E não posso deixar de reconhecer que, na maioria das vezes, as mulheres são mais prejudicadas.
Mas, quanto a mim, posso afirmar que não me é fácil ser Educador de Infância.
Tenho passado muito tempo a provar que o facto de "não ser mãe, mulher...", não me impede de ser bom profissional. Tenho, inclusive, passado bastante tempo a demonstrar inequivocamente que a "falta de instinto maternal" não é impedimento para se ser um profissional competente.
E, independentemente do esforço, é entre pares que as coisas são mais difíceis.
Mas, para que fique claro, a questão da competência é assexuada. Perseguir a Excelência não é uma responsabilidade de género. É um imperativo social.
Sei que teria a mesma atitude face ao trabalho em qualquer outra profissão que tivesse escolhido.
Mas, enquanto for mais importante "falar" das questões de género, dificilmente daremos real importância ao que interessa: produzir com qualidade e procurando a excelência no que fazemos.
Por tal, enquanto se "falar" de género, não se falará de Qualidade. E isso é problemático, principalmente num país que luta deseperadamente para sair do fosso em que se meteu...
Talvez da Finlândia não necessitemos apenas do exemplo educativo, mas, sobretudo, do modelo de "igualdade de género"...
13 de março de 2011
Auto Retrato...
Normalmente, tenho alguma relutância em "falar de mim" na primeira pessoa.
Assumo o que digo, o que escrevo e mesmo o que penso, mas, poucas vezes o faço de forma directa. Talvez por modéstia, ou mesmo por timidez, mas acima de tudo porque é importante que me "ouçam" pelo que penso e pelo que sou, e não tanto pelo que tenho ou quero.
Mas este texto, publicado no Jornal de Letras (quinzena de 9 a 22 de Março), faz jus ao que sou...
Espero que gostem...
Assumo o que digo, o que escrevo e mesmo o que penso, mas, poucas vezes o faço de forma directa. Talvez por modéstia, ou mesmo por timidez, mas acima de tudo porque é importante que me "ouçam" pelo que penso e pelo que sou, e não tanto pelo que tenho ou quero.
Mas este texto, publicado no Jornal de Letras (quinzena de 9 a 22 de Março), faz jus ao que sou...
Espero que gostem...
Quem somos?
Desde há algum tempo que recebo, por correio electrónico, por mensagens instantâneas, através do facebook ou por outros canais, informação, divulgação e convocatórias sobre grupos, ajuntamentos, colectividades e outro tipo de associações, para me juntar a movimentos e ideologias que se querem, elas próprias, "livres de ideologias".
Lia ontem, na Visão desta semana as prerrogativas governativas do "novo" PSD...
Fico preocupado.
Sim. Bastante preocupado.
Estou preocupado porque, somando tudo, há algumas coisas que necessitam de uma profunda reflexão, que não vejo estar a ser feita:
- O facto de ser crescente o número de "iniciativas" que visam "destituir" o modelo governativo (como por exemplo, o "1 milhão pela a demissão..."), revela, não só um crescente descontentamento das pessoas mas, acima de tudo, uma crescente incapacidade para lidar com os "problemas", pois, em nenhuma iniciativa, nos é apresentada uma alternativa credível;
- Como é que um partido como o PSD (com longo historial neste país "democrático", onde os apoiantes "de agora", foram os "indefectíveis de outros", num passado recente) se propõe a mudar, sabendo nós que a história é cíclica e confirma as escolhas passadas;
- Como é que este país, de cidadãos que acabaram de votar, para Presidente da República, num rosto sobejamente conhecido (para o bem e para o mal!), antecipa as mudanças obrigatórias, se pela mão dos "mesmos de sempre"?
- E, por último, como é que, no fim do túnel, nos libertaremos dos interesses económicos e financeiros que têm sustentado os "delírios" governativos dos últimos anos?
Sei que, normalmente, quem questiona é "advogado do Diabo", "mal-intencionado" ou ainda "mau Português". É o costume.
Mas gostava mesmo de saber quantos dos que ontem se manifestaram em todo o país estão disposto a mudar(-se) mesmo?
Mas mudar-se a eles próprios: deixar de pensar em si e no seu umbigo e pensar, solidariamente, no país que nos alberga e no Estado que nos ajuda...
Quantos?
A culpa é sempre dos outros. Mas talvez fosse a hora de começarmos por nós mesmos.
Frases como "se me tiram 3% do ordenado, não dou nem mais um minuto..." têm de ser reequacionadas...
Porque, se "me tiram" agora foi porque me habituei a "viver dos outros" antes...
Pode este discurso parecer reaccionário, violento e/ou despropositado, mas, para quem me conhece e tem acompanhado alguns dos escritos aqui divulgados, sabe que defendo que a mudança começa em cada um de nós, no dia-a-dia, no grau de exigência com o nosso trabalho, com as nossas chefias, com os nossos colegas, com as nossas famílias...
Um exemplo "brando": se todos os portugueses fizessem uma efectiva reciclagem de resíduos, a "factura energética" ganhava cerca de 35%(!!!), e assim, todos poderíamos beneficiar de uma menor pressão financeira sobre os produtos energéticos...
E este é apenas um de muitos exemplos possíveis.
Por isso reafirmo: mudemo-nos antes de querermos a mudança dos outros!
Lia ontem, na Visão desta semana as prerrogativas governativas do "novo" PSD...
Fico preocupado.
Sim. Bastante preocupado.
Estou preocupado porque, somando tudo, há algumas coisas que necessitam de uma profunda reflexão, que não vejo estar a ser feita:
- O facto de ser crescente o número de "iniciativas" que visam "destituir" o modelo governativo (como por exemplo, o "1 milhão pela a demissão..."), revela, não só um crescente descontentamento das pessoas mas, acima de tudo, uma crescente incapacidade para lidar com os "problemas", pois, em nenhuma iniciativa, nos é apresentada uma alternativa credível;
- Como é que um partido como o PSD (com longo historial neste país "democrático", onde os apoiantes "de agora", foram os "indefectíveis de outros", num passado recente) se propõe a mudar, sabendo nós que a história é cíclica e confirma as escolhas passadas;
- Como é que este país, de cidadãos que acabaram de votar, para Presidente da República, num rosto sobejamente conhecido (para o bem e para o mal!), antecipa as mudanças obrigatórias, se pela mão dos "mesmos de sempre"?
- E, por último, como é que, no fim do túnel, nos libertaremos dos interesses económicos e financeiros que têm sustentado os "delírios" governativos dos últimos anos?
Sei que, normalmente, quem questiona é "advogado do Diabo", "mal-intencionado" ou ainda "mau Português". É o costume.
Mas gostava mesmo de saber quantos dos que ontem se manifestaram em todo o país estão disposto a mudar(-se) mesmo?
Mas mudar-se a eles próprios: deixar de pensar em si e no seu umbigo e pensar, solidariamente, no país que nos alberga e no Estado que nos ajuda...
Quantos?
A culpa é sempre dos outros. Mas talvez fosse a hora de começarmos por nós mesmos.
Frases como "se me tiram 3% do ordenado, não dou nem mais um minuto..." têm de ser reequacionadas...
Porque, se "me tiram" agora foi porque me habituei a "viver dos outros" antes...
Pode este discurso parecer reaccionário, violento e/ou despropositado, mas, para quem me conhece e tem acompanhado alguns dos escritos aqui divulgados, sabe que defendo que a mudança começa em cada um de nós, no dia-a-dia, no grau de exigência com o nosso trabalho, com as nossas chefias, com os nossos colegas, com as nossas famílias...
Um exemplo "brando": se todos os portugueses fizessem uma efectiva reciclagem de resíduos, a "factura energética" ganhava cerca de 35%(!!!), e assim, todos poderíamos beneficiar de uma menor pressão financeira sobre os produtos energéticos...
E este é apenas um de muitos exemplos possíveis.
Por isso reafirmo: mudemo-nos antes de querermos a mudança dos outros!
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