5 de outubro de 2007

Esquecimentos.

Estamos, cada vez, mais esquecidos.
Hoje, por ocasião das comemorações do Dia da Implantação da República, o senhor presidente da República relembrou-nos isso mesmo: estamos todos muito esquecidos!
Relembrou-nos da importância da Educação e, sobretudo, do envolvimento parental e social na dinâmica educativa.
Relembrou-nos o quão importante é investirmos (e não se trata apenas de investimento financeiro) na Educação como um sector diferenciador e global do desenvolvimento humano.
A ele toda a justiça do mundo, por, tão sabiamente, nos ter lembrado disso.
O que ele (também) esqueceu, é que este pequeno país ("Tão pequeno", como referia Camilo Castelo Branco), à beira mar plantado sofre, ciclicamente e de forma dura, com os constantes esquecimentos.
A lembrar: quantas já foram as reformas na Educação desde o 25 de Abril? e quantas chegaram ao seu auge?
Quantos já foram os ministros de Educação que se sentaram na poderosa cadeira da 5 de Outubro? Quantos já foram os partidos que ocuparam o poder legislativo e executivo desta República adocicada?
E quantos foram aqueles que, realmente, emprestaram o seu conhecimento e saber à causa pública, para fazer deste país um país a sério?
Porventura, estarão a pensar, os que lerem este pedaço de indignação, que é fácil culpar os políticos, que são eles os verdadeiros culpados, mas o que esta prosa quer valorizar não é a incompetência (deles).
Até porque o senhor Presidente da República também já foi um deles.
O que, verdadeiramente me repugna, é que somos nós, os cidadãos respeitáveis, os profissionais empenhados, os licenciados de excepção, que, por esquecimento, por inoperância, por falta de vontade ou até mesmo por excesso de zelo, contribuímos, decididamente, para este estado de coisas.
São os nossos (podres) poderes do dia-a-dia, a nossa vontade de pensar mais em nós próprios que no bem comum, nas pequenas entrelinhas da nossa vida diária, que tem levado o país a esta cada vez maior miséria.
E nós, docentes, particularmente, somos todos culpados desta incapacidade colectiva de ver mais longe.
Quando a actual Ministra da Educação, numa recente entrevista, afirmou que as escolas eram uma espécie de feudo muito próprio, em que os professores escolhiam as turmas e os alunos que queriam, para "não ter problemas", todos nós nas escolas, nos "indignámos" muito. Quando a Ministra apresentou os valores comparativos do investimento feito em educação nos vários países europeus, e de seguida, mostrou os resultados escolares dos nossos alunos, mais uma vez, nos "indignámos". Quando o(s) Ministério(s) da Educação apresentou(aram) uma vontade de mudar, transposta para várias acções que, entre outras, incluiu uma efectiva Avaliação de Desempenho dos Docentes todos nós, nas escolas, nos "indignámos" mais uma vez...
Sabendo eu, como de resto saberão todos os demais envolvidos nos esforço pela melhoria da Qualidade da Educação, que estas premissas são, na sua maior parte, verdadeiras e reais (por mim, apenas refiro que, em 12 anos de actividade profissional ainda não leccionei numa escola onde não me tivesse confrontado com a "escolha de turmas pelos docentes mais velhos", apesar de tudo, feitas na maior discrição, ficando as "más" turmas para os desgraçados dos "contratados" que chegam à escola e, por vezes, à Educação, nesse mesmo momento), só posso dizer que só com uma real vontade de mudança, que nasça em cada um, se pode fazer pela Escola o que deve ser feito.
E isto tem de começar em nós, na nossa forma de olharmos o nosso colega, vendo-o como um companheiro, e não com o "culpado por os meninos que me chegaram este ano nem sequer saberem ler....".
É esta a razão chave do insucesso (de todo o insucesso). Não estamos sozinhos na nossa tarefa, e se acharmos que estamos, então somos nós quem deve mudar!
E reafirmo que, em nehum momento questiono a qualidade pedagógica, humana e profissional dos docentes.
Apenas me permito pedir-lhes que não se esqueçam...

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