7 de março de 2008

Condições para a Excelência na Profissão Docente...

Nota: Antes de mais, quero alertar para o facto deste "post" dever ser lido com algum espírito crítico, boa disposição e capacidade de entender a ironia.

Estive para aqui a pensar com os meus botões em quais deverão ser as condições preferenciais para a excelência na profissão docente.
Não que me seja difícil compreendê-las naturalmente, mas as dúvidas surgem-me apenas pela constatação da incapacidade (pelo muito que se tem lido, dito e ouvido nestes últimos tempos) de, realmente, compreender do que se fala quando se fala de Avaliação de Desempenho.
Principalmente quando frequento diariamente a Escola (lembrei-me agora que têm alguma razão os meus irmãos, quando me dizem: "deves ser muito burro: com esse tamanho ainda andas no Jardim de Infância...").
Por isso, reuni alguns dos parâmetros (ou indicadores) que, penso, deverão presidir à construção dos tais "instrumentos normalizados" tão badalados ultimamente, de forma a objectivar a Excelência.
Acho até que este é um enorme contributo para acabar, de vez, com a tal "indignação" de muitos professores...
Então cá vai:
1. Ter, pelo menos, 25 anos de serviço docente;
2. Dizer a todos os jovens professores, quando os vêem pela primeira vez: "Nem sabes onde te viste meter...";
3. Dizer muitas vezes por dia: "Eu gosto é dos meus alunos..."
4. Ser sindicalizado (em pelo menos um dos 23 sindicatos disponíveis);
5. Ter, pelo menos, apresentado a candidatura a Professor Titular (se tiver sido escolhido, é melhor);
6. Continuar a dizer, pelo menos três vezes por semana, "Este Ministro(a) é o(a) pior que a educação teve...", desde há, pelo menos, 15 anos;
7. Ter votado num dos dois partidos que têm ocupado o poder em duas das últimas quatro eleições legislativas;
8. Faltar apenas a três reuniões de docentes por ano com a desculpa: "Tenho de ir ao médico. De qualquer forma, estas reuniões não servem para nada...". Se a média for 5x/ano, é melhor;
9. Ter estado ausente de reflexões, debates, propostas e votações nas reuniões em que participou para: fumar um cigarro/comer qualquer coisa/apanhar ar/ir à casa de banho/etc.;
10. Ter-se sentido "traído(a), humilhado(a), enganado(a) pelo Governo" quando: foram aprovadas as reformas do 2º CEB, foi alterado o calendário escolar do Pré-Escolar, foram apresentados os dados do primeiro estudo PISA (em 1989), foi apresentado o projecto "Escola a Tempo inteiro", foram alteradas as regras de aproveitamento e frequência de acções de formação contínua (passando a obtenção de Créditos a exigir algum esforço), ou em qualquer outra alteração na Educação;
11. Recusar a Avaliação de Desempenho porque é "confusa e injusta" e preferir o modelo anterior que "igualava" todos os candidatos, mesmo que eles fossem diferentes;
12. Referir em público, qualquer coisa como: "Nós somos avaliados todos os dias!", mas, em privado, dizer: "Nós é que damos o litro, mas os outros é que ganham o bem-bom...";
13. Ser pai/mãe de dois filhos (ou mais) em idade escolar e dizer constantemente na Sala de Professores: "Mas que competências é que têm os pais para nos avaliar?";
14. Culpar constantemente o Governo/Conselho Executivo/Conselho Pedagógico dos "males" da educação, e ir votar, consciente e livremente, nas "listas únicas" que são sufragadas em eleições;
15. Ter recusado fazer formação com a desculpa que "essa acção de formação não vem trazer nada de novo" ou "só dá dois créditos....";
16. Não ter lido nenhum dos documentos legais da Educação publicado desde Janeiro de 2004, mas manifestar forte oposição ao "seu articulado";
17. Desconsiderar, em privado, a formação e a competência dos estagiários de cursos de formação inicial e, em público, achar que "se farão bons profissionais" e/ou relevar a importância de uma boa Supervisão Pedagógica de acompanhamento;
18. Ter manifestado, por mais de uma vez, o seu desagrado por políticas locais e comunitárias de aproximação à Escola (das autarquias, das associações de pais, de instituições locais) por "serem intrusivas e descabidas";
19. Ter reunido com pais e famílias o "apenas estritamente necessário";
20. Ter defendido à exaustão a "sua escola" contra as dinâmicas de outras escolas do mesmo Agrupamento em situações que se assemelhassem a boas práticas de articulação educativa.

Se constatar que não reúne a totalidade de respostas positivas a estes indicadores, não desespere: as quotas para Excelente são parcas. Pode ser que daqui a uns anos...

Nota 2: Sou apenas uma moeda de 0.2€, mas há moedas de 2€ a empurrar-me...
Será que o Presidente da República, com aquelas balelas da "moeda fraca..." sabe alguma coisa sobre esta sensação???!

1 comentário:

Anónimo disse...

Henrique.

Concordo contigo. Há um hiato grande entre o que dizemos - oudizem por nós - e o que pensamos e fazemos... Por vezes acho que (num acesso mistico) temos os ministros que merecemos.
Mesmo assim, algumas coisas tem-se assumido graves neste tempo e ameaçam comprometer a carreira por muito tempo. Quero dizer que em grande parte concordo com a indignação.

Paulo