11 de novembro de 2018

SER EDUCADOR?...

Tenho andado com uma impressão (será que é só minha?) que se torna cada vez mais intensa quando (e isso acontece de tempos a tempos!), sou “inundado” com aquelas apresentações muito “fofinhas” e cheias de corações e músicas celestiais onde se afirma, sem papas na língua, que “Ser Educador é ser o melhor”.

Esta impressão (que por vezes chega a criar alguma náusea), fica ao rubro com “frases-chave” como “Ser educador é profissão de amor”, ou ”Ser Educador é ser palhaço”…

Grosso modo, as “conclusões” deixam-me a pensar seriamente na possibilidade de eu, que abracei esta missão sensível há alguns anos (e que tenho feito por manter em níveis equilibrados de responsabilidade), poder não ser o tal educador que se espera.

Entre as frases “ajudá-las a aprender” (às crianças), “fazer sorrir as crianças” ou “deixar em cada criança a imagem de um mundo melhor”, ponho-me a pensar se (e como nos mostram, continuamente o Francesco Tonnuci e outros), temos vindo, de facto, a fazer por isso.

Das “filas de mãos dadas em pares”, ao uso obrigatório de bibes. Das fichas escolares e manuais uniformes e uniformizadores aos dias fechados dentro de quatro paredes. Dos “projetos” nascidos na cabeça de quem “sabe tudo”, à violência disfarçada que se exerce sobre quem não é ouvido. Dos “planos semanais (ou diários, ou mensais…)” que esquecem a voz da criança à escolha de opções pedagógicas que protegem os adultos em vez de autonomizar as crianças, muitas são as incongruências que, a pretexto de “um mundo melhor”, apenas mantêm o “mundo que temos”. Do desconhecimento (consciente?) dos ritmos e dinâmicas de aprendizagem e desenvolvimento das crianças à ignorância funcional (sim, infelizmente há muito disto!) que, por exemplo, nos faz dizer “eu já conheço as OCEPE” mesmo que tenham ficado por ler “porque já as conheço”… 

Como é que um adulto cuidador pode “ser poeta” se não lê, se não discute, se não contesta?
Como é que um adulto cuidador pode, de facto, arvorar-se em “defensor da curiosidade” se ele próprio é pouco curioso?

Descansando no “sempre foi assim”, temos, de facto, deixado de gostar do que fazemos. Porque, pela nossa segurança (e sim, quando temos filas de mãos dadas ou bibes que amordaçam, é só da segurança do adulto cuidador que falamos!), tendemos a tornar pouco autónomos, pouco curiosos, pouco atrevidos, pouco conscientes de si, aqueles que, deveríamos, por imposição da profissão e da missão, deixar voar livremente.

Há dias lia, por aqui, que os acontecimentos políticos que têm vindo a mudar a face do Mundo tal como o conhecemos se devem a ineficiência da educação. Em parte, concordo. Mas a “ligação” não é direta. Ou, pelo menos, não temos uma consciência direta de sermos responsáveis por essas mudanças.

Quando nos recusamos a refletir sobre os problemas políticos (políticos, não partidários!) que medeiam as sociedades de que somos atores fundamentais – e “recusamos refletir” quando, por exemplo, nos impedimos de ter uma palavra ativa, de nos envolvermos nas discussões, de fazermos valer as nossas opiniões em reuniões para as quais estamos obrigados – ou quando “achamos” que a ascensão de políticos populistas e ultraliberais não deve ser analisada e depurada no espaço escolar, estamos, de facto, a “enfiar a cabeça na areia”.

Quando nos esquecemos que “acreditar” e “ouvir” a criança não é dirigi-la numa determinada direção (que nos convém ou é favorável), mas que é permitir-lhe que caia, que se perca e que se encontre, que confie mais em si do que no amigo a quem dá a mão ou que não tenha de usar um bibe que lhe cerceia os movimentos e a torna fisicamente desgastada, deixamos de ser o tal educador que “as prepara para a Vida”.

Às vezes esquecemo-nos que, nos pormenores, se encontram as grandes mudanças que queremos ver acontecer. Mas nem fazemos por nos lembrarmos disso.
Sejamos então educadores reflexivos que não se reveem apenas nas apresentações de powerpoint nem nas frases chave de um qualquer autor de que só conhecemos essas mesmas frases.

Porque é tempo de fazer acontecer. Agora!

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